São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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TV estatal do Irã nega soltura de Sakineh

Libertação da iraniana havia sido anunciada por ativistas após divulgação na televisão de fotos que seriam dela

Em programa na emissora, suposta Sakineh confessa ter ajudado no assassinato do marido, em 2005


DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A iraniana Sakineh Ashtiani, 43, que aguarda desde 2006 sua execução por apedrejamento pelo crime de adultério, não foi libertada, de acordo com a emissora estatal iraniana Press TV.
Ontem, a emissora exibiu entrevista com uma mulher identificada como Sakineh confessando ter aplicado uma injeção em seu marido para que ele perdesse a consciência e fosse eletrocutado por um outro homem.
O anúncio da libertação de Sakineh, de seu filho Sajjad, de seu advogado, Houtan Kian, e de dois repórteres alemães havia sido feito anteontem por ativistas do grupo da iraniana Mina Ahadi, porta-voz do Comitê Internacional Contra o Apedrejamento.
Os anúncios se basearam em fotos divulgadas pela Press TV, nas quais uma mulher identificada como Sakineh aparecia supostamente em casa ao lado do filho.
A emissora afirmou ontem em seu site que as fotos não eram da libertação da sentenciada, mas da gravação do programa exibido ontem.
As fotos não mostram "que Sakineh Mohammadi Ashtiani, assassina confessa, foi libertada, contrariamente à vasta campanha de propaganda da imprensa ocidental", diz o comunicado.
A transmissão é uma aparente tentativa de desviar a atenção internacional sobre a sentença de morte por apedrejamento por causa de adultério e reforçar o fato de que, para a Justiça do Irã, Sakineh participou do assassinato de seu marido.
A Anistia Internacional afirmou que a transmissão de ontem violou as normas internacionais para um julgamento justo.
A TV estatal já havia exibido pelo menos três supostas confissões de Sakineh, mas ativistas dizem que elas aconteceram sob coerção.
Ontem foi a primeira vez que o rosto da suposta Sakineh apareceu nitidamente.
Sakineh já sofreu pelo menos três condenações.
Foi chicoteada 99 vezes por manter "relação ilícita" com dois homens após o assassinato de seu marido.
Foi ainda sentenciada a dez anos de prisão por envolvimento no homicídio e ao apedrejamento, por cometer adultério.
Em diversas ocasiões, autoridades iranianas afirmaram que a sentença de apedrejamento -que chocou a comunidade internacional- estava sendo revista.
Porém, a condenação por homicídio pode ser usada por Teerã para justificar a execução de Sakineh, embora não por apedrejamento.
A ativista Ahadi afirmou ontem que a "libertação" de Sakineh foi um "teatro" organizado pelo regime iraniano.
"Ela foi para casa, sob supervisão do regime, durante três dias. Então fez uma entrevista para a Press TV para confessar que matou o marido", disse Ahadi am entrevista ao portal UOL.
Por meio de um comunicado, ela justificou ter anunciado a libertação de Sakineh anteontem depois de receber diversos sinais de que a iraniana estava livre.
Segundo Ahadi, sua ONG recebeu relatos sobre a iminente libertação de Sakineh.No dia seguinte, fotos dela foram divulgadas na TV.
"Isso tudo fez parecer que eles tinham sido libertados", diz o comunicado.

"CONFISSÃO"
Na entrevista de ontem, a suposta Sakineh descreveu como começou a ter um caso com um homem identificado como Isa Taheri.
Ela disse que, depois de ter aplicado uma injeção no marido, Taheri entrou na casa da família e amarrou fios elétricos nos pés e na cintura da vítima.
A ação foi simulada no programa de TV. A mulher disse que foram necessários sete sessões de choques para matar a vítima.
"Na sétima vez meu marido não se mexeu. Ele morreu", disse a mulher identificada como Sakineh.


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