São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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CRISE DIPLOMÁTICA

Presidente promete "denunciar" na cúpula de Monterrey suposto plano da Casa Branca e da oposição venezuelana

Chávez diz que EUA planejam derrubá-lo

DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem que denunciará na cidade mexicana de Monterrey, onde governantes latino-americanos iniciam hoje encontro de cúpula, um suposto complô dos EUA e da oposição venezuelana para derrubá-lo.
Em seu programa semanal "Alô Presidente", Chávez disse que os EUA pretendem acusá-lo de adversário da democracia, caso o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) venezuelano considere inválidas mais de 3,4 milhões de assinaturas que a oposição diz ter coletado para a convocação de um referendo que abreviaria o mandato presidencial de Chávez.
"Imagino que em Washington dirão que eu sou um inimigo da democracia, que Chávez sabotou o referendo e que portanto vale a pena afastá-lo", afirmou.
A seu ver, os Estados Unidos podem até exortar as Forças Armadas venezuelanas a "pegarem em armas" para o depôr, na medida em que, como inimigo da democracia, isso poderia ser feito sem maiores problemas. Chávez também sugeriu que seus opositores poderiam alvejá-lo.
O presidente disse que Washington "prepara o terreno" para desencadear o roteiro golpista, e que a prova pode ser encontrada nas declarações dos últimos dias de membros do primeiro escalão do governo norte-americano.
No sábado o presidente venezuelano, em iniciativa que já azedaria um pouco mais as suas relações com os EUA, qualificou Condoleezza Rice de "uma verdadeira analfabeta". Rice é conselheira em segurança da Casa Branca e uma das pessoas de maior prestígio na assessoria de George W. Bush.
A acusação foi feita em resposta à declaração de Rice de que Chávez "não exerce um papel construtivo" na América Latina. O venezuelano aconselhou publicamente os Estados Unidos "a não meterem o nariz" em seu país.
O presidente venezuelano sugeriu que Fidel Castro, ditador de Cuba, enviasse a Rice brochuras de um plano de alfabetização implantado na Venezuela, com assistência técnica cubana.
As relações entre Washington e Caracas são tensas desde a eleição de Chávez, no final de 1998, e permaneceram eletrizadas em razão da suspeita venezuelana de que os EUA participaram, em abril de 2002, da tentativa de golpe de Estado contra o presidente.
Em novembro do ano passado Chávez disse que suas relações com os Estados Unidos passavam por um período de "notável melhoria". Disse também esperar que cessasse o que designou como "diplomacia de microfones", pela qual os países passam a se relacionar por meio de acusações mútuas e declarações apimentadas, reproduzidas pela mídia.
O clima voltou a se deteriorar na semana passada. O responsável pela América Latina no Departamento de Estado, Roger Noriega, criticou as relações estreitas existentes entre Caracas e Havana.
Noriega também insinuou que Chávez, por seus supostos vínculos com a esquerda "cocalera" da Bolívia, interferia no sentido da desestabilização daquele país.
Os EUA também acusaram Chávez de fechar os olhos para o possível estabelecimento de células terroristas ligadas a grupos islâmicos na Venezuela e à concessão de documentos venezuelanos a suspeitos de terrorismo.
Alguns dias depois, Condoleezza Rice criticou as ligações de Chávez com Fidel e insinuou que a Venezuela mantinha algumas formas de cumplicidade com a guerrilha colombiana.
Chávez enfrenta a possibilidade de ter seu mandato presidencial interrompido por um referendo, hipótese com a qual a oposição venezuelana trabalha há meses, num prolongado jogo de desgaste que paralisa o país.
Condoleezza Rice também criticou o presidente venezuelano porque ele estaria criando dificuldades para a formalização dessa consulta popular.
A declaração reforçou a antiga tese dos chávistas de que os EUA fazem parte de uma ampla conspiração para derrubá-lo.
"Esse é um problema interno só dos venezuelanos", disse o presidente, no sábado, em resposta a Rice. Alguns acreditam que Caracas também procura explorar as divergências de tonalidade entre Rice e o secretário de Estado, Colin Powell, que na última quarta-feira foi bem menos agressivo. Ele declarara que o referendo só deveria ser convocado caso a oposição reunisse a quantidade de assinaturas necessárias".


Com agências internacionais


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