São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Israel está perto de seu objetivo, diz Olmert

Forças israelenses mantêm bombardeios e continuam a avançar pela faixa de Gaza, mas gabinete diverge sobre como atingir metas

Reservistas são enviados ao território, e tropas sitiam principais zonas urbanas; fragmentação do Hamas também dificulta trégua

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O premiê de Israel, Ehud Olmert, disse ontem que a ofensiva lançada contra o grupo islâmico Hamas está perto de atingir seus objetivos, mas não deu sinais de que esteja no fim. Ao mesmo tempo, o Exército enviou o primeiro contingente de reservistas à faixa de Gaza desde o início da ação, em mais um indício de que a "terceira fase", que ampliará a incursão terrestre, pode ser iminente.
As declarações de Olmert ocorrem em meio a tenso contraste entre o elevado número de mortos em Gaza -890, segundo fontes palestinas- e a falta de clareza sobre o que já foi obtido em duas semanas de intensos bombardeios. O gabinete israelense, enquanto isso, permanece dividido sobre a melhor forma de alcançá-los.
Ontem, no 16º dia de guerra, Israel apertou o cerco à Cidade de Gaza, avançando nas margens da principal concentração urbana do território com apoio de maciços bombardeios aéreos e navais. Diante de militantes do Hamas e de outro grupo fundamentalista, o Jihad Islâmico, os soldados israelenses travaram mais de cinco horas de combates. Ao menos 27 extremistas foram mortos, segundo fontes palestinas.
O movimento de tanques e o cerco à cidade de Gaza em duas frentes pode ser o prenúncio de uma nova fase da guerra, em que as tropas israelenses ocuparão as áreas urbanas mais densamente povoadas e os campos de refugiados.
O Exército confirmou o envio de mais soldados. "Ainda não estamos falando de números maciços de reservistas, como os que convocamos, mas de um número limitado para manter nossas operações", disse a major Avital Leibovitch, porta-voz do Exército. Milhares de reservistas foram convocados no início da ofensiva e esperam a ordem para entrar em ação.
Na reunião do gabinete, Olmert não quis adiantar o próximo estágio, mas deixou claro que a ofensiva continuará.
"Israel está perto dos objetivos que estabeleceu, mas ainda são precisos paciência, determinação e esforço para mudar a realidade de segurança no sul do país", disse Olmert, que rebateu a pressão internacional por um cessar-fogo.
"Nós jamais aceitamos que alguém decida por nós se podemos atacar aqueles que bombardeiam jardins de infância e jamais aceitaremos no futuro", disse o premiê. "Nenhuma decisão, presente ou futura, negará nosso direito básico de defender os cidadãos de Israel." Na sexta, o gabinete israelense rejeitou uma resolução da ONU exigindo cessar-fogo imediato.

Indecisão
Com mais de duas semanas de ataques que destruíram quase toda a infraestrutura de poder do Hamas em Gaza e mataram centenas de militantes, a questão agora é até onde Israel irá para considerar a missão cumprida. Fontes do Exército já manifestam desconforto com a indecisão do governo entre partir para uma solução política ou ampliar a ofensiva.
Os esforços diplomáticos, liderados pelo governo egípcio, por ora ainda não deram resultados concretos. O maior obstáculo é a dificuldade em estabelecer um mecanismo de controle da fronteira de Gaza com o Egito que impeça o contrabando de armas e o rearmamento do Hamas. Outro problema é garantir uma trégua com um grupo cujos líderes estão no exílio ou em bunkers.
Até mesmo por essa fragmentação na liderança do Hamas, o próprio Exército israelense admite que dificilmente o grupo se renderá. Mas afirma que essa desarticulação aumenta a capacidade do Hamas em reagir à ação israelense.
"A liderança do Hamas em Damasco está isolada. Sua liderança em Gaza está paralisada. E o braço militar está evasivo", disse o chefe de inteligência das Forças Armadas israelenses, Amos Yadlin. Segundo ele, enquanto a cúpula do grupo na Síria defende a continuação da guerra, a liderança em Gaza dá sinais de que quer uma trégua.
Ante a crise humanitária em Gaza e o grande número de civis mortos e feridos, a pressão para que Israel ponha um fim à operação é crescente, e não só na comunidade internacional. "Duas semanas depois do início da guerra em Gaza, só há vagos relatos sobre os sucessos de Israel em danificar a infraestrutura terrorista do Hamas", observou em editorial o "Haaretz", o jornal mais respeitado do país. "Por outro lado, acumulam-se as estatísticas sobre os danos causados aos civis."


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