São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Obama se projeta como um mediador para "solução justa"

Seu governo pode cumprir papel de "3ª parte em que todos confiem", afirma

Comentários foram os mais aprofundados desde início de ofensiva, mas ele voltou a evitar entrar em detalhes sobre quais são seus planos

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Nas declarações mais aprofundadas sobre a situação em Gaza em mais de duas semanas de conflito, o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, disse ontem que quer "uma solução justa" para que "tanto Israel quanto os palestinos alcancem o que desejam". Ele afirmou também que "o problema precisa de uma solução imediata, mediada por uma terceira parte em que todos confiem".
"E acho que, se fizermos as coisas certas, o governo Obama pode ser essa terceira parte", acrescentou.
As afirmações foram feitas em entrevista à rede de TV ABC, durante a qual foram abordadas as críticas domésticas e internacionais sobre seu silêncio em relação à questão. Mas, apesar do avanço inédito, Obama evitou detalhar planos e voltou a dizer que "não podemos ter dois governos enviando sinais simultaneamente".
Ele afirmou que já estabeleceu uma equipe especial para lidar com o conflito no Oriente Médio, que começará a atuar imediatamente após a posse, no próximo dia 20. Segundo o democrata, tanto o presidente George W. Bush quanto o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) demoraram demais para agir vigorosamente na mediação de um acordo de paz.
Obama ofereceu duas vitórias a grupos pró-Israel. Primeiro, ele disse que continua com a mesma opinião expressada em julho, quando visitou a cidade de Sderot e disse que "se alguém jogasse foguetes na casa em que suas filhas dormiam, faria de tudo para pôr um fim a isso, e esperaria que Israel fizesse o mesmo". Grupos israelenses têm explorado a fala para tentar se colocar sob a aprovação de Obama.
Depois, sinalizou que não pretende mudar radicalmente a política para a região de governos anteriores, que apoiaram uma solução de dois Estados, mas se colocam primeiramente como aliados de Israel. "Se você olhar não apenas para o governo Bush mas também para o que aconteceu durante o governo Clinton, verá as linhas gerais de uma abordagem."
Obama afirmou ainda que trabalhará "com todos os atores" na região. Mas, no único momento em que citou nominalmente o Hamas, disse que "o Irã exporta o terrorismo por meio" do grupo radical palestino. Ele já tinha excluído publicamente a chance de negociações diretas com o Hamas.

Irã
A expectativa é que os planos de Obama sejam mais detalhados à medida em que o Congresso sabatine nesta semana os indicados para pastas no próximo governo - especialmente amanhã, na sabatina de Hillary Clinton, futura secretária de Estado.
Obama também tratou na entrevista do Irã, afirmando que o país "será um de seus maiores desafios". Anteontem, o "New York Times" afirmou que Israel pediu em 2008 armas para atacar instalações nucleares iranianas, mas Bush negou. Em troca, revelou a existência de ações secretas americanas para sabotar o programa nuclear do Irã.
Obama alertou que ações de Teerã poderiam gerar uma corrida nuclear, mas manteve a posição mais branda de que é preciso maior engajamento diplomático -desde que "(...) haja clareza sobre até onde podemos chegar".
Em outro tema caro a seus eleitores, Obama disse que "será um desafio" fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba, nos primeiros cem dias de seu governo, promessa de campanha. "Mas não quero ser ambíguo: vamos fechar Guantánamo."
O presidente eleito também não descartou a possibilidade de processar agentes da CIA por crimes cometidos durante o governo Bush, especialmente tortura -algo que diz que não permitirá em seu governo.


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