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Relatório vê erros prévios a massacre em base no Texas
Supervisores do major psiquiatra ignoraram comportamento impróprio e o promoveram
A exemplo do atentado frustrado a voo no Natal, apuração posterior aponta falhas ao "ligar os pontos"
das informações disponíveis
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
Os supervisores do major Nidal Malik Hasan ignoraram
suas preocupações com a visão
extremista e o comportamento
inadequado do psiquiatra e
concederam avaliações positivas que serviram de base para
as promoções dele no Exército.
Hasan matou 13 pessoas no
massacre de Fort Hood, no Texas, em novembro, o maior
massacre já registrado em uma
base militar americana.
A informação faz parte de um
relatório ordenado pelo secretário da Defesa, Robert Gates,
em investigação conduzida por
dois graduados ex-funcionários
do Departamento da Defesa,
que deve ser concluída até o dia
15 de janeiro -e que foi obtido
pela agência Associated Press.
Os indícios em relação ao psiquiatra trazem semelhanças
com o caso do nigeriano Umar
Farouk Abdulmutallab, 23, que
tentou se explodir em um voo
americano no Natal.
Nos dois casos, havia informação disponível para levantar
preocupação em relação aos indivíduos, mas as autoridades
não "ligaram os pontos", não
conseguiram fazer conexões
diante do volume de informações coletadas.
Durante o período de sua formação médica, Hasan fez uma
apresentação em classe questionando se a guerra dos EUA
contra o terrorismo não era de
fato uma guerra contra o islã.
Na apresentação, ele afirmava
que a lei islâmica está acima da
Constituição e tentou justificar
os ataques suicidas.
Hasan passou quatro anos fazendo residência no Walter
Reed Army Medical Center, em
Washington. No período, os superiores mostravam preocupação com sua competência por
meio de memorandos, anotações e sessões de aconselhamento. Entre as queixas, afirmavam que ele precisava de
monitoramento constante, tinha dificuldade de comunicação e atendia poucos pacientes.
Ele foi citado em anotações
por promover discussões impróprias com pacientes sobre
questões religiosas.
Em 2007, o major Scott Moran se tornou o chefe de Hasan.
Ele adotou uma atitude mais rígida com os lapsos do funcionário e vetou seu projeto de estudos sobre os conflitos internos
de soldados muçulmanos.
Apesar disso, o projeto foi
apresentado, e, após a graduação no programa de residência,
Hasan iniciou um período de
dois anos em um programa de
psiquiatria preventiva. O chefe
escreveu uma carta de referências em que dizia que ele era um
médico competente.
Investigação criminal
O caso também conta com
uma investigação criminal que
aponta como uma das principais falhas a troca de mensagens com o clérigo radical Anwar al Awlaki.
Ele também travou contato
com o nigeriano Abdulmutallab. Hasan e al Awlaki trocaram 18 e-mails. Em uma das
mensagens, o major pergunta
se Deus permite o assassinato
de pessoas inocentes durante
um ataque suicida. O clérigo é
apontado como um recrutador
da Al Qaeda.
As mensagens foram interceptadas pelo FBI, que parou
de ler as informações por entender que o psiquiatra não representava ameaça. Em seu arquivo, os investigadores deixaram um bilhete escrito "comm"
em referência a oficial comissionado -mas teria sido entendido no Pentágono como abreviação de "comunicação".
No caso do nigeriano, uma
das alegadas falhas da Inteligência foi decorrente de um erro de digitação do nome de Abdulmutallab.
Os advogados do major Hasan tentam reunir provas para
alegar insanidade. Um estudo
de 2006 feito por psiquiatras
do Exército mostrou que dos
mais de 21 mil julgamentos em
cortes marciais entre 1990 e
2006, só 6 acusados foram inocentados por insanidade.
Senadores consideraram o
episódio como terrorista.
A base de Fort Hood, a maior
instalação militar dos EUA,
conta com cerca de 50 mil soldados. O massacre ocorreu no
local em que militares passam
pelos últimos exames e cuidados médicos antes de partirem
para o Iraque e o Afeganistão.
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