São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

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Relatório vê erros prévios a massacre em base no Texas

Supervisores do major psiquiatra ignoraram comportamento impróprio e o promoveram

A exemplo do atentado frustrado a voo no Natal, apuração posterior aponta falhas ao "ligar os pontos" das informações disponíveis

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

Os supervisores do major Nidal Malik Hasan ignoraram suas preocupações com a visão extremista e o comportamento inadequado do psiquiatra e concederam avaliações positivas que serviram de base para as promoções dele no Exército. Hasan matou 13 pessoas no massacre de Fort Hood, no Texas, em novembro, o maior massacre já registrado em uma base militar americana.
A informação faz parte de um relatório ordenado pelo secretário da Defesa, Robert Gates, em investigação conduzida por dois graduados ex-funcionários do Departamento da Defesa, que deve ser concluída até o dia 15 de janeiro -e que foi obtido pela agência Associated Press.
Os indícios em relação ao psiquiatra trazem semelhanças com o caso do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, 23, que tentou se explodir em um voo americano no Natal.
Nos dois casos, havia informação disponível para levantar preocupação em relação aos indivíduos, mas as autoridades não "ligaram os pontos", não conseguiram fazer conexões diante do volume de informações coletadas.
Durante o período de sua formação médica, Hasan fez uma apresentação em classe questionando se a guerra dos EUA contra o terrorismo não era de fato uma guerra contra o islã. Na apresentação, ele afirmava que a lei islâmica está acima da Constituição e tentou justificar os ataques suicidas.
Hasan passou quatro anos fazendo residência no Walter Reed Army Medical Center, em Washington. No período, os superiores mostravam preocupação com sua competência por meio de memorandos, anotações e sessões de aconselhamento. Entre as queixas, afirmavam que ele precisava de monitoramento constante, tinha dificuldade de comunicação e atendia poucos pacientes.
Ele foi citado em anotações por promover discussões impróprias com pacientes sobre questões religiosas.
Em 2007, o major Scott Moran se tornou o chefe de Hasan. Ele adotou uma atitude mais rígida com os lapsos do funcionário e vetou seu projeto de estudos sobre os conflitos internos de soldados muçulmanos.
Apesar disso, o projeto foi apresentado, e, após a graduação no programa de residência, Hasan iniciou um período de dois anos em um programa de psiquiatria preventiva. O chefe escreveu uma carta de referências em que dizia que ele era um médico competente.

Investigação criminal

O caso também conta com uma investigação criminal que aponta como uma das principais falhas a troca de mensagens com o clérigo radical Anwar al Awlaki.
Ele também travou contato com o nigeriano Abdulmutallab. Hasan e al Awlaki trocaram 18 e-mails. Em uma das mensagens, o major pergunta se Deus permite o assassinato de pessoas inocentes durante um ataque suicida. O clérigo é apontado como um recrutador da Al Qaeda.
As mensagens foram interceptadas pelo FBI, que parou de ler as informações por entender que o psiquiatra não representava ameaça. Em seu arquivo, os investigadores deixaram um bilhete escrito "comm" em referência a oficial comissionado -mas teria sido entendido no Pentágono como abreviação de "comunicação".
No caso do nigeriano, uma das alegadas falhas da Inteligência foi decorrente de um erro de digitação do nome de Abdulmutallab.
Os advogados do major Hasan tentam reunir provas para alegar insanidade. Um estudo de 2006 feito por psiquiatras do Exército mostrou que dos mais de 21 mil julgamentos em cortes marciais entre 1990 e 2006, só 6 acusados foram inocentados por insanidade.
Senadores consideraram o episódio como terrorista.
A base de Fort Hood, a maior instalação militar dos EUA, conta com cerca de 50 mil soldados. O massacre ocorreu no local em que militares passam pelos últimos exames e cuidados médicos antes de partirem para o Iraque e o Afeganistão.


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