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Políticos e mídia dos EUA atacam a França
PATRICK JARREAU
DO "LE MONDE", EM WASHINGTON
A posição adotada por França,
Alemanha e Bélgica na Otan elevou a exasperação dos EUA com
relação aos aliados europeus contrários à guerra no Iraque.
Indagado se estava com raiva, o
presidente George W. Bush respondeu que estava "decepcionado pelo fato de a França impedir a
Otan de socorrer a Turquia".
""Creio que isso afete a aliança de
maneira negativa", acrescentou o
presidente americano. Observando que ""a França é amiga de longa
data" dos EUA e que os dois países ""têm muito em comum",
Bush lamentou a ""decisão míope"
tomada por Paris e disse esperar
que ela seja reconsiderada.
Bush atribuiu a culpa do que
ocorreu na Otan à França, não à
Alemanha ou à Bélgica. O terreno
foi preparado por jornais e editorialistas conservadores que, nos
últimos 15 dias, vêm se especializando em lançar ataques raivosos
não apenas contra o governo
francês, mas contra a própria população francesa.
Na semana passada, o jornal
conservador ""The Wall Street
Journal" publicou em sua página
de debates um desenho representando um francês vestindo a boina característica de seu país, mas
tendo cabeça de rato.
O semanário neoconservador
""Weekly Standard" já publicou
vários artigos e editoriais apresentando o presidente francês,
Jacques Chirac, e seu governo como aliados de Saddam Hussein
por razões econômicas (petróleo)
e os franceses, como anti-semitas.
A ""National Review", outra revista de direita, descreveu os franceses como ""macacos entreguistas, comedores de queijo". O editorialista George Will, que escreve
no ""The Washington Post" e na
revista ""Newsweek", além de falar
na rede de TV ABC, escreveu que
o chanceler Dominique de Villepin é um personagem ""seboso" e
que ninguém sabe quantos soldados seriam necessários para defender Paris, ""porque faz tanto
tempo que ninguém tenta".
O tema da covardia é retomado
constantemente nesses ataques,
assim como a acusação de que a
França teria deixado que as tropas
alemãs a invadissem sem opor resistência, em 1940. Na segunda-feira, o jornal ""The New York
Post" provocou os franceses em
sua primeira página com as palavras: ""Nós nos deixamos matar
por vocês!", fazendo referência ao
desembarque dos aliados na Normandia, em 6 de junho de 1944.
Colin Powell retomou o espírito
das caricaturas antifrancesas no
domingo, quando declarou na rede ABC que os inspetores de armas da ONU não têm por função
""brincar de detetive ou de inspetor Clouseau". O inspetor Clouseau é o personagem principal de
""A Pantera Cor-de-rosa", uma série de filmes cômicos em que o
ator Peter Sellers, usando bigode e
capa, encarna um policial francês
pretensioso e ridículo.
"País de segunda classe"
Ontem, o deputado republicano
Peter King chamou a França de
"país de segunda classe". "Talvez
tenhamos de formar uma nova
aliança da qual a França não fará
parte", disse ele sobre a crise na
Otan. "A França se coloca como
uma guardiã moral, quando eles
teriam perdido a Primeira Guerra
Mundial, e eles estabeleceram um
recorde na Segunda Guerra com a
rendição mais rápida de uma potência mundial", disse King,
membro do comitê de Relações
Internacionais da Câmara de Deputados dos EUA.
Ao que tudo indica, concentrar
os ataques sobre a França parece
diminuir, perante a opinião pública americana, as dificuldades
enfrentadas pelo governo Bush.
""Os franceses têm acordos econômicos com Saddam Hussein e se
opõem sistematicamente à potência americana", declarou na emissora pública PBS, na segunda-feira, o ex-diretor da CIA James
Wosley. O que fica subentendido
é que, assim sendo, as objeções
feitas pela França à política de
Bush não têm valor algum.
Tradução de Clara Allain
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