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Desinteresse, indecisão e mau tempo explicam alta abstenção
DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
O mau tempo, a falta de interesse, o excesso de votações, a
indecisão sobre o que votar
-foram muitas as explicações
aventadas ontem pelos portugueses para a abstenção de
mais de 56% dos eleitores no
referendo sobre o aborto.
O clima -encoberto e com
chuvas esparsas- foi considerado por muitos analistas um
dos principais culpados, assim
como em 1998, sendo que, naquela ocasião, o problema teria
sido o tempo bom, que levou às
pessoas à praia e aos passeios.
Entre a população nas ruas,
as justificativas eram menos
prosaicas. "Não me sinto motivada [a votar], estou cansada de
política", disse a vendedora Silvia Paixão, justificando sua ausência no referendo.
O grande envolvimento dos
partidos políticos na campanha
do referendo -que teve direito
a horário na TV e comícios-
também foi criticada pelo taxista Jaime Lobato, outro que
não votou.
"A decisão sobre o aborto é
estritamente pessoal, não deveriam clamar às pessoas por
serem desse ou daquele partido". Entre os votantes, as opiniões sobre as abstenções foram bem mais críticas.
"Falta consciência cívica e
conhecimento do processo
eleitoral", afirma a estudante
Nancy Tolentino. "Muita gente
está em dúvida sobre o que votar, e não sabe que é possível
expressar essa dúvida, votando
em branco, por exemplo."
"Os portugueses são comodistas", disse o advogado Antonio Rodrigues, sobre seus conterrâneos. "Se você olhar a participação nas eleições, verá que
o índice de abstenções é sempre alto."
Alguns políticos justificaram
a ausência dos quase 5 milhões
de eleitores pela novidade do
mecanismo de escolha.
"Os referendos não estão
enraizados em nossa cultura",
afirmou António Vitorino, ex-deputado e ex-vice-premiê, em
entrevista ao canal RTP.
"Mas o que temos de destacar nesse momento é o aumento da participação [em relação
ao referendo de 1998]", disse.
(MAC)
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