São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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Rivais lutam para liderar governo em Israel

Livni e Netanyahu, separados por um assento no Parlamento, buscam aliança com ultradireitista Liberman para formar coalizão

Netanyahu quer fechar pacto com direita e levar "fato consumado" a presidente; Livni crê que deve ser premiê por ter sido a mais votada

Sebastian Scheiner/Associated Press
Painel rotativo em Jerusalém mostra Tzipi Livni (à esq.) e Binymian Netanyahu, que brigam pelo direito de ser o próximo premiê

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Um dia após irem às urnas, os israelenses despertaram ontem para uma realidade inusitada e desconhecida, mesmo para um país habituado à instabilidade de seus governos: pela primeira vez nos 61 anos de fundação do Estado, o partido com o maior número de votos poderá ficar fora do poder.
Os resultados da eleição de terça-feira produziram um quadro de total indefinição, em que os dois primeiros colocados se declararam vitoriosos.
Contados 99% dos votos, o partido centrista Kadima, liderado pela chanceler Tzipi Livni, obteve a maior bancada no Parlamento, com 28 deputados. Mas seu principal rival, Binyamin Netanyahu, do conservador Likud, com 27 cadeiras, garante que formará o governo, confiando na maioria parlamentar de 65 deputados dos partidos de direita.
Terminada a eleição, começou a batalha política. Para formar um governo são necessários ao menos 61 dos 120 deputados e, embora Livni tenha obtido uma surpreendente vitória pessoal, revertendo quadro que parecia totalmente favorável ao Likud, seu rival ainda parece ter mais recursos à disposição.
A disputa para conquistar a maioria parlamentar começou ontem pelo partido que foi a grande estrela dessa campanha, o ultranacionalista Israel Beitenu. Com 15 deputados, a legenda liderada pelo polêmico Avigdor Liberman poderá definir quem será o premiê.
"Israel despertou para uma crise política nunca vista", disse o colunista político Shalom Yerushalmi, do jornal "Maariv". "Liberman tem a chave do próximo governo, e ele parece estar disposto a abrir a porta a Binyamin Netanyahu."
De fato, a missão de formar um governo parece mais difícil para Livni do que para Netanyahu. Após reunir-se com ambos os líderes ontem, Liberman manteve mistério sobre quem apoiará. Mas a imprensa israelense indicou que as bases de um acordo com o Likud estão praticamente fechadas.

Fato consumado
Segundo Raviv Druker, analista do Canal 10 israelense, a intenção de Netanyahu é ter um acordo fechado com os partidos de direita até a próxima quinta-feira, prazo estabelecido para o início das consultas que o presidente Shimon Peres fará para decidir a quem atribui a formação do governo: "A ideia é apresentar um fato consumado, para bloquear qualquer iniciativa de Livni".
Após reunir-se ontem com Liberman, Livni manteve a confiança de que receberá o encargo de montar a coalizão. Pela lei israelense, o presidente deve consultar os partidos e decidir qual deles tem mais condições de formar um governo, que não necessariamente é o que recebeu mais votos. Até hoje, porém, jamais uma legenda que venceu as eleições deixou de liderar a coalizão.
Livni deixou ontem aberta a porta para um governo com o Likud. "O público decidiu quem deve ser a primeira-ministra. Esta é uma chance para união", disse.
Questionado ontem sobre as possibilidades de aliança de Livni para formar um governo, o ministro das Finanças, Roni Bar On, membro do Kadima, admitiu que há poucas alternativas a um governo de união nacional com o Likud.
Chegou a ser levantada a possibilidade de um rodízio no cargo de primeiro-ministro entre Livni e Netanyahu, como aconteceu em 1984 com o Likud e o Partido Trabalhista. Em sua primeira reunião após a eleição, o Likud descartou essa possibilidade.
"Um rodízio seria viável se houvesse um empate de 60 a 60", disse o deputado Silvan Shalom. "Netanyahu será o primeiro-ministro e ponto final."
O impasse pode se arrastar por semanas. Pela lei, o prazo para a formação do governo é de 42 dias, com possibilidade de prorrogação.


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