São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

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Irã é hoje um "Estado nuclear", diz presidente Ahmadinejad

Segundo iraniano, Teerã tem capacidade para enriquecer urânio a 80%, mas não o fará

Em comemoração dos 31 anos da Revolução Islâmica, mandatário diz que país não precisa de arsenal atômico, mas adverte os inimigos


Abdein Taherkenareh/Efe
O presidente Mahmoud Ahmadinejad discursa emTeerã

DA REDAÇÃO

Em discurso comemorativo pelo 31º aniversário da Revolução Islâmica, o presidente Mahmoud Ahmadinejad disse ontem que o Irã é um "Estado nuclear" capaz, caso julgue necessário, de enriquecer urânio ao nível de 80%, próximo aos 90% necessários para a fabricação da bomba atômica. Mas ele insistiu em que Teerã não deseja ter um arsenal nuclear.
As declarações surgem em meio ao acirramento das tensões entre o governo iraniano e as potências ocidentais desde que Teerã anunciou no domingo que aumentaria o nível de enriquecimento de seu urânio de 3,5%, necessário para uso energético, a 20%, usado para fins medicinais. Os dois lados se culpam mutuamente pelo fim das negociações para o envio de urânio iraniano para enriquecimento no exterior, que abriram caminho para que os EUA iniciassem uma campanha por novas sanções do Conselho de Segurança da ONU.
"Quero anunciar em voz alta que a primeira quantidade de urânio enriquecido a 20% foi produzida e entregue aos cientistas", afirmou Ahmadinejad ontem. "Temos capacidade para enriquecer acima de 20%, até a 80%. Mas, como não precisamos, não vamos fazer isso", continuou, destacando que o Irã é sincero quando diz não querer a bomba.
Mas, num aparente recado aos EUA e a Israel, o presidente ultraconservador completou: "No dia em que quisermos construir uma bomba nuclear, o anunciaremos publicamente sem ter medo de vocês".
Como signatário do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), o Irã tem direito de enriquecer urânio a 20%, mas o Ocidente teme que Teerã busque se aproximar do grau usado para a produção da bomba.
Teerã alega ter decidido enriquecer urânio por conta própria depois que as potências ocidentais criaram obstáculos a um plano da AIEA (agência nuclear da ONU) para que os estoques iranianos fossem tratados no exterior e devolvidos sob forma de material enriquecido destinado a um reator de Teerã usado para pesquisa medicinal.
Não está claro se o Irã está fazendo bravata ou endurecendo sua posição em busca de um acordo. A AIEA, que tem inspetores acompanhando o processo de enriquecimento na usina de Natanz, afirmou que o Irã ainda não começou a enriquecer urânio ao grau anunciado ou o está fazendo a ritmo modesto. Segundo disseram ontem os EUA, Teerã está blefando sobre o seu poderio nuclear.
No entanto, um relatório do Instituto de Ciência e Segurança Internacional, dos EUA, divulgado ontem conclui que o Irã poderia alcançar uma bomba atômica, apesar das suas limitações tecnológicas.
As declarações de Ahmadinejad surgem um dia depois de os EUA terem reforçado sanções econômicas unilaterais ao regime iraniano. Em paralelo, a Casa Branca manobra para emplacar novas punições semelhantes no Conselho de Segurança da ONU. Ontem foi a vez de o Reino Unido, membro permanente do CS, elevar o tom e dizer que a "paciência internacional não é inesgotável".
Até mesmo a Rússia, que tem fortes vínculos políticos e comerciais com o Irã, já sinalizou disposição em endossar novas sanções da ONU contra o Irã.
Mas a China continua dando sinais de que pode usar seu poder de veto contra a nova resolução que EUA e França estão costurando contra Teerã.
Ahmadinejad aproveitou o discurso de ontem para criticar Barack Obama, que, segundo o iraniano, prometeu estender a mão ao Irã mas acabou agindo da mesma maneira que o antecessor linha-dura George W. Bush. Teerã alega que, apesar do discurso conciliador, Obama não tomou nenhuma medida concreta para favorecer a retomada das relações bilaterais, rompidas há 30 anos.

Com agências internacionais



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