São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

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Amorim muda de tom e faz críticas ao Irã

Chanceler brasileiro afirma que falar em enriquecer o urânio a 80% "não é produtivo para quem busca a negociação"

Ministro, porém, reitera que caminho do diálogo ainda não está esgotado e diz que a viagem do presidente Lula a Teerã em maio está mantida


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil tem sido um dos maiores defensores das negociações com o Irã, mas ontem mostrou que esse apoio tem limites e criticou a possibilidade de o país enriquecer urânio a 80%, nível próximo ao necessário para a confecção de uma bomba. Segundo o chanceler Celso Amorim, enriquecer urânio a 20% é "totalmente esperado e normal", mas o risco de chegar a 80% é inadmissível.
"Se enriquecer a 80%, o país estará, obviamente, em violação do TNP [Tratado de Não Proliferação Nuclear]", disse Amorim em entrevista ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, Carl Bildt.
Segundo o chanceler brasileiro, em tom crítico, "não é proibido falar nisso [o enriquecimento até 80%], mas certamente não é produtivo para quem busca a negociação".
Amorim disse que não tinha sido informado pelo Irã do novo nível de enriquecimento: "Eu não tive notícia ainda. Não houve nenhuma declaração a respeito e eu lamentaria se fosse verdade, porque aí seria um nível elevado".
Apesar de defender o enriquecimento a 20%, para fins medicinais, previsto pelo TNP, Amorim acrescentou que preferiria que o Irã aguardasse mais tempo antes de iniciá-lo, para dar maior margem às negociações com as potências ocidentais, EUA e França à frente.
Amorim afirma ter conversado com autoridades iranianas há cerca de três meses, pedindo o adiamento do início da operação, justamente para haver tempo para o diálogo.
"O grande problema nessa questão nuclear é a confiança. Então, qualquer ação, de um lado ou de outro, especialmente do Irã, porque ele é que está sendo examinado, pode gerar desconfiança. Preferíamos que não tivesse havido esse início de enriquecimento a 20%, mas não creio que isso feche as portas totalmente à negociação", acrescentou.
O chanceler voltou a bater na tecla contrária às sanções que os EUA já ampliaram unilateralmente, enquanto negociam com os outros quatro países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU: Reino Unido, França, Rússia e China. A China, principal parceira comercial do Irã, resiste à pressão para aprovar as sanções. Sem unanimidade dos membros permanentes, o conselho não conseguirá aplicá-las -são necessários ainda os votos de pelo menos 4 dos 10 membros rotativos, entre os quais atualmente se encontra o Brasil.
"Nós temos exatamente as mesmas preocupações que todos os governos ocidentais têm, mas achamos que o caminho não é o das sanções, porque isso vai enrijecer as posições, vai tornar cada vez mais difícil negociar", declarou Amorim.
O chanceler também disse que está mantida a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã em maio, como contrapartida à vinda de Ahmadinejad a Brasília em novembro do ano passado. Segundo ele, as duas Chancelarias acertam a melhor data.


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