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Amorim muda de tom e faz críticas ao Irã
Chanceler brasileiro afirma que falar em enriquecer o urânio a 80% "não é produtivo para quem busca a negociação"
Ministro, porém, reitera que caminho do diálogo ainda não está esgotado e diz que a viagem do presidente Lula a Teerã em maio está mantida
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil tem sido um dos
maiores defensores das negociações com o Irã, mas ontem
mostrou que esse apoio tem limites e criticou a possibilidade
de o país enriquecer urânio a
80%, nível próximo ao necessário para a confecção de uma
bomba. Segundo o chanceler
Celso Amorim, enriquecer urânio a 20% é "totalmente esperado e normal", mas o risco de
chegar a 80% é inadmissível.
"Se enriquecer a 80%, o país
estará, obviamente, em violação do TNP [Tratado de Não
Proliferação Nuclear]", disse
Amorim em entrevista ao lado
do ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, Carl Bildt.
Segundo o chanceler brasileiro, em tom crítico, "não é
proibido falar nisso [o enriquecimento até 80%], mas certamente não é produtivo para
quem busca a negociação".
Amorim disse que não tinha
sido informado pelo Irã do novo nível de enriquecimento:
"Eu não tive notícia ainda. Não
houve nenhuma declaração a
respeito e eu lamentaria se fosse verdade, porque aí seria um
nível elevado".
Apesar de defender o enriquecimento a 20%, para fins
medicinais, previsto pelo TNP,
Amorim acrescentou que preferiria que o Irã aguardasse
mais tempo antes de iniciá-lo,
para dar maior margem às negociações com as potências ocidentais, EUA e França à frente.
Amorim afirma ter conversado com autoridades iranianas
há cerca de três meses, pedindo
o adiamento do início da operação, justamente para haver
tempo para o diálogo.
"O grande problema nessa
questão nuclear é a confiança.
Então, qualquer ação, de um lado ou de outro, especialmente
do Irã, porque ele é que está
sendo examinado, pode gerar
desconfiança. Preferíamos que
não tivesse havido esse início
de enriquecimento a 20%, mas
não creio que isso feche as portas totalmente à negociação",
acrescentou.
O chanceler voltou a bater na
tecla contrária às sanções que
os EUA já ampliaram unilateralmente, enquanto negociam
com os outros quatro países
com direito a veto no Conselho
de Segurança da ONU: Reino
Unido, França, Rússia e China.
A China, principal parceira comercial do Irã, resiste à pressão
para aprovar as sanções. Sem
unanimidade dos membros
permanentes, o conselho não
conseguirá aplicá-las -são necessários ainda os votos de pelo
menos 4 dos 10 membros rotativos, entre os quais atualmente se encontra o Brasil.
"Nós temos exatamente as
mesmas preocupações que todos os governos ocidentais têm,
mas achamos que o caminho
não é o das sanções, porque isso
vai enrijecer as posições, vai
tornar cada vez mais difícil negociar", declarou Amorim.
O chanceler também disse
que está mantida a viagem do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a Teerã em maio, como
contrapartida à vinda de Ahmadinejad a Brasília em novembro do ano passado. Segundo ele, as duas Chancelarias
acertam a melhor data.
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