São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

As três apostas de Obama

DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

O presidente Barack Obama está somando pressões econômicas e contenção militar para tentar forçar a liderança do Irã a negociar seu programa nuclear, e com isso está fazendo três apostas grandes em sua capacidade de desativar um confronto cada vez mais tenso.
Cada uma delas servirá de teste da segunda fase de seu esforço de engajamento, após um ano no qual pouca coisa em suas relações com o Irã saiu como a Casa Branca esperava.
A primeira aposta de Obama é que ele conseguirá realizar o que o presidente George W. Bush tentou, mas não conseguiu: conquistar um acordo global em torno de um conjunto de sanções suficientemente fortes para convencer a dividida liderança iraniana de que suas ambições nucleares não valem quanto custam. Para Obama, porém, esse esforço se complica devido ao receio de que as sanções possam esmagar um resiliente movimento interno antigoverno no Irã.
Sua segunda aposta é que conseguirá o apoio dos relutantes chineses, convencendo-os de que as sanções são uma alternativa melhor do que a instabilidade e os cortes no fornecimento de petróleo que provavelmente ocorreriam se Israel atacasse as instalações nucleares iranianas. Os próprios assessores de Obama reconhecem que suas esperanças de vencer a discussão com a China estão diminuindo.
E, finalmente, Obama está apostando em sua capacidade de dissuadir Israel de lançar um ataque, como o que esse país fez em 2007, quando destruiu um reator nuclear em construção na Síria. Por enquanto, o governo Binyamin Netanyahu, ao mesmo tempo em que receia que Obama possa ser brando demais com o Irã, parece acreditar que o governo iraniano esteja tão fragilizado que sanções realmente duras poderão rachá-lo. Mas o anúncio do Irã de que está elevando seu enriquecimento de urânio para um nível muito mais próximo daquele que seria necessário para a produção de uma arma atômica pode muito bem mudar esse cálculo.
Não apenas estratégia global, mas também política doméstica estão por trás da nova ênfase de Obama à abordagem "em pista dupla" -reforçando um ano de gestos diplomáticos feitos em vão com a ameaça de mais uma rodada de sanções. Outros elementos da estratégia que a Casa Branca não comenta publicamente são: a instalação de defesas antimísseis em quatro países em volta do golfo Pérsico e a intensificação das ações sigilosas contra o programa nuclear iraniano.
Mas os assessores do presidente ainda estão contestando o argumento, que data da campanha de 2008, segundo o qual sua determinação de engajar o Irã em um diálogo foi ingênua desde o começo. Em vez disso, eles argumentam que seria impossível exercer pressão real sobre o Irã agora se Obama não tivesse antes feito um esforço real para conduzir um diálogo sustentado com o país.
"Ele tinha que acumular capital político", diz Nicholas Burns, que foi o negociador chefe para o Irã do Departamento de Estado no segundo mandato de Bush e que defendeu, sem sucesso, a proposta de uma estratégia semelhante à de Obama. "A realidade é que o Irã está mais isolado hoje graças a essa estratégia, e a seu próprio comportamento, do que estava há um ano."
Mas "isolar" diplomaticamente um país não se traduz necessariamente em mudanças em seu comportamento. Coreia do Norte, Cuba e Mianmar estão economicamente isolados há décadas, e os efeitos disso têm sido pequenos.
"A história das sanções sugere que é quase impossível traçá-las de modo a obrigar um governo a mudar de posição sobre uma questão que ele vê como sendo vital para a segurança nacional", disse Richard N. Haass, presidente do Council on Foreign Relations. "As sanções podem afetar os cálculos de um governo, mas não representam uma solução."
Foi essa, com certeza, a experiência do governo Bush. Começando em 2006, os EUA lideraram o esforço no Conselho de Segurança da ONU para fazer aprovar sanções econômicas cada vez mais intensas.
Hoje a lista de sanções já tem seis páginas, mas ainda não alcançou a sua meta principal: obrigar o Irã a ceder à exigência do Conselho de Segurança de que suspenda o enriquecimento de urânio. A equipe de Obama admite o prejuízo político potencial de ser aprovada uma quarta rodada de sanções e ela revelar-se igualmente inefetiva. Alguns já reduzem as expectativas em relação ao que chegaram a descrever como "sanções paralisadoras".


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