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ANÁLISE
As três apostas de Obama
DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"
O presidente Barack Obama
está somando pressões econômicas e contenção militar para
tentar forçar a liderança do Irã
a negociar seu programa nuclear, e com isso está fazendo
três apostas grandes em sua capacidade de desativar um confronto cada vez mais tenso.
Cada uma delas servirá de
teste da segunda fase de seu esforço de engajamento, após um
ano no qual pouca coisa em
suas relações com o Irã saiu como a Casa Branca esperava.
A primeira aposta de Obama
é que ele conseguirá realizar o
que o presidente George W.
Bush tentou, mas não conseguiu: conquistar um acordo
global em torno de um conjunto de sanções suficientemente
fortes para convencer a dividida liderança iraniana de que
suas ambições nucleares não
valem quanto custam. Para
Obama, porém, esse esforço se
complica devido ao receio de
que as sanções possam esmagar
um resiliente movimento interno antigoverno no Irã.
Sua segunda aposta é que
conseguirá o apoio dos relutantes chineses, convencendo-os
de que as sanções são uma alternativa melhor do que a instabilidade e os cortes no fornecimento de petróleo que provavelmente ocorreriam se Israel
atacasse as instalações nucleares iranianas. Os próprios assessores de Obama reconhecem que suas esperanças de
vencer a discussão com a China
estão diminuindo.
E, finalmente, Obama está
apostando em sua capacidade
de dissuadir Israel de lançar
um ataque, como o que esse
país fez em 2007, quando destruiu um reator nuclear em
construção na Síria. Por enquanto, o governo Binyamin
Netanyahu, ao mesmo tempo
em que receia que Obama possa ser brando demais com o Irã,
parece acreditar que o governo
iraniano esteja tão fragilizado
que sanções realmente duras
poderão rachá-lo. Mas o anúncio do Irã de que está elevando
seu enriquecimento de urânio
para um nível muito mais próximo daquele que seria necessário para a produção de uma
arma atômica pode muito bem
mudar esse cálculo.
Não apenas estratégia global,
mas também política doméstica estão por trás da nova ênfase
de Obama à abordagem "em
pista dupla" -reforçando um
ano de gestos diplomáticos feitos em vão com a ameaça de
mais uma rodada de sanções.
Outros elementos da estratégia
que a Casa Branca não comenta
publicamente são: a instalação
de defesas antimísseis em quatro países em volta do golfo
Pérsico e a intensificação das
ações sigilosas contra o programa nuclear iraniano.
Mas os assessores do presidente ainda estão contestando
o argumento, que data da campanha de 2008, segundo o qual
sua determinação de engajar o
Irã em um diálogo foi ingênua
desde o começo. Em vez disso,
eles argumentam que seria impossível exercer pressão real
sobre o Irã agora se Obama não
tivesse antes feito um esforço
real para conduzir um diálogo
sustentado com o país.
"Ele tinha que acumular capital político", diz Nicholas
Burns, que foi o negociador
chefe para o Irã do Departamento de Estado no segundo
mandato de Bush e que defendeu, sem sucesso, a proposta de
uma estratégia semelhante à de
Obama. "A realidade é que o Irã
está mais isolado hoje graças a
essa estratégia, e a seu próprio
comportamento, do que estava
há um ano."
Mas "isolar" diplomaticamente um país não se traduz
necessariamente em mudanças
em seu comportamento. Coreia do Norte, Cuba e Mianmar
estão economicamente isolados há décadas, e os efeitos disso têm sido pequenos.
"A história das sanções sugere que é quase impossível traçá-las de modo a obrigar um governo a mudar de posição sobre
uma questão que ele vê como
sendo vital para a segurança
nacional", disse Richard N.
Haass, presidente do Council
on Foreign Relations. "As sanções podem afetar os cálculos
de um governo, mas não representam uma solução."
Foi essa, com certeza, a experiência do governo Bush. Começando em 2006, os EUA lideraram o esforço no Conselho
de Segurança da ONU para fazer aprovar sanções econômicas cada vez mais intensas.
Hoje a lista de sanções já tem
seis páginas, mas ainda não alcançou a sua meta principal:
obrigar o Irã a ceder à exigência
do Conselho de Segurança de
que suspenda o enriquecimento de urânio. A equipe de Obama admite o prejuízo político
potencial de ser aprovada uma
quarta rodada de sanções e ela
revelar-se igualmente inefetiva. Alguns já reduzem as expectativas em relação ao que chegaram a descrever como "sanções paralisadoras".
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