São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010 |
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"EUA usam dupla moral na questão nuclear"
Ex-embaixador chinês no Irã argumenta que, como Pequim sofreu sanções, tem cautela ao aprová-las e prega diálogo com Teerã
ÚLTIMO RECURSO Segundo os regulamentos da ONU, as sanções são o último recurso contra um país. A China já foi vítima de sanções e de embargo ainda vigente contra a venda de armas para cá. Dá para resolver sem sanções. As portas do Irã ainda estão abertas ao diálogo. O tema principal é a hostilidade entre EUA e Irã. O Irã quer garantir sua segurança. Obama disse que buscava um diálogo sem condições prévias, mas isso não está acontecendo. É hora de passar das palavras à ação. A China tem interesses econômicos, mas isso não é o quadro completo. Já votamos em três decisões contra o Irã. Como país em desenvolvimento, a China já foi vítima de sanções, então é muito cuidadosa ao aprovar sanções a um terceiro. REAÇÃO FORTE Todas as vezes que sanções foram aprovadas, o Irã reagiu de forma mais forte. Novas sanções vão provocar uma reação ainda mais forte. É contraproducente. Se as sanções forem só contra a Guarda Revolucionária, o impacto será o mesmo. O governo dirá aos iranianos que o país está sendo perseguido e fortalecerá sentimentos anti-EUA, anti-Ocidente. DUPLA MORAL Os EUA têm usado dupla moral na avaliação da produção de armas nucleares. Os EUA apoiaram Israel, Índia e Paquistão a produzirem as suas, assinaram programas de cooperação. O foco americano é frouxo quanto ao que Israel pode produzir, por exemplo. Os EUA são responsáveis por fazer a Coreia do Norte ou o Irã ambicionarem armas nucleares. Os dois se sentem inseguros por não terem armas nucleares e viverem a ameaça de invasão. IRÃ POTÊNCIA O Irã não é a Coreia do Norte e vê maiores razões para ter um programa nuclear. Ele se vê como uma potência regional, é um país com milênios de história e se sente e quer ser tratado como uma grande potência. PETRÓLEO DO IRÃ Além dos interesses econômicos, a China importou 23 milhões de toneladas de óleo em 2009 do Irã. Isso equivale a 11% do que a China importou no ano. É uma quantidade tremenda, que nenhum outro país da região tem capacidade para fornecer ou substituir de uma hora para outra. E China e Irã têm projetos conjuntos para exploração de gás. Se Israel bombardear o Irã e os EUA apoiarem, as consequências afetarão o mundo inteiro, não só a China, pois 60% do petróleo do mundo passa pelo estreito de Ormuz, que pode ser fechado pelo Irã. O golfo pode virar um mar de fogo. DIFÍCIL PARCERIA A venda de armas para Taiwan ou o encontro de Obama com o dalai-lama [no dia 18] são eventos que afetam interesses nacionais chineses. A população e a mídia chinesas reagiram até mais fortemente que o governo a esses fatos. Não é correto conectar esses interesses com as sanções ao Irã, mas se Obama se encontrar com o dalai-lama, fica difícil querer a parceria da China nas sanções. DEFESA PRÓPRIA A China defende a não proliferação de armas nucleares e a destruição do arsenal. Se mais países tiverem armas nucleares, o que vai ser da Terra? É muito perigoso. Desde o primeiro teste nuclear chinês, em 1964, a China afirma que não vai usar a bomba para atacar países sem armas nucleares. Nosso arsenal só será usado em defesa própria. Nosso orçamento militar cresce pelas exigências de defesa de um território enorme, com fronteiras extensas. Texto Anterior: Análise: As três apostas de Obama Próximo Texto: Bill Clinton é submetido a cirurgia cardíaca Índice |
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