São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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AMÉRICA DO SUL

Delegações de 120 países acompanharam a posse em Valparaíso

Ovacionada, Bachelet toma posse no Chile

Victor Ruiz Caballero/Efe
A presidente eleita do Chile, Michelle Bachelet (ao centro), posa com membros de seu gabinete antes de sua posse em Valparaíso


PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO A VIÑA DEL MAR

Com seus filhos assistindo de longe e presenças tão díspares quanto as de Hugo Chávez (Venezuela) e Condoleezza Rice (secretária de Estado dos EUA), Michelle Bachelet, 54, tomou posse ontem como a primeira mulher presidente do Chile, num Senado lotado, que a aplaudiu de pé por alguns minutos.
Não houve discurso. As únicas palavras ditas por Bachelet, que vestia um sóbrio tailleur creme, foram "sim, prometo", para comprometer-se a seguir e proteger a Constituição do país.
A transmissão da faixa presidencial mostrava boa parte da história recente do Chile depois da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Presidente até ontem, Ricardo Lagos tirou a faixa e a passou ao novo presidente do Senado, seu antecessor no governo, Eduardo Frei, que a colocou na recém-empossada Bachelet.
O novo prédio do Senado, que antes da ditadura era em Santiago e agora fica em Viña del Mar, estava lotado. Os filhos da nova presidente (três, de dois casamentos) ficaram numa parte distante das galerias, no local reservado a fotógrafos e cinegrafistas.
A todo momento, alguém gritava das galerias. "Te amamos, Michelle", foi o primeiro que ecoou, seguido de aplausos.
Em outra hora, houve também o grito de guerra "olê, olê, olê, Michelle, Michelle". A própria Bachelet também acenava para as galerias a todo momento. Em alguns, sorria, tranqüila.
Depois de passar a faixa, Lagos deixou o local, seguido por todo o seu gabinete, com aplausos tão intensos quanto os destinados a Bachelet. Em seguida, a presidente nomeou um a um os seus ministros, no primeiro gabinete na história da América Latina em que as mulheres são a metade.

Rice e Chávez
Mas antes da chegada de Bachelet também houve aplausos. Enquanto o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e Chávez entraram quase no anonimato, Condoleezza Rice foi muito aplaudida pelas galerias, lotadas de convidados do ex-presidente, da nova presidente e dos ministros. Logo em seguida, o único também estrangeiro a receber palmas foi o boliviano Evo Morales. Sem terno como sempre, desta vez o presidente da Bolívia trocou o pulôver por um casaco de couro, com adornos indígenas.
Chávez e Rice, que têm péssimas relações, chegaram a se cruzar, mas não conversaram. Enquanto a secretária de Estado estava de costas, Chávez passou reto, quase esbarrando em Rice, a mulher mais poderosa do mundo. Depois, deu uma risadinha.
Além dos dois desafetos, cerca de 1.200 convidados, delegações de 120 países e 900 profissionais de imprensa ocupavam o Congresso para a posse de Bachelet.
Após a cerimônia, a presidente foi ao palácio de Cerro Castillo em um carro aberto. Em um almoço só para os chefes de Estado, Lula seria uma espécie de orador. "A escolha de Michelle simboliza a evolução da participação política das mulheres na América do Sul", disse o brasileiro, antes.
Para seus quatro anos de governo, Bachelet prometeu trabalhar "sem trégua" para cumprir suas metas: seriam 36 nos primeiros cem dias. Estabeleceu como prioridade as políticas sociais.
Socialista, separada, agnóstica, perseguida e torturada durante a ditadura, Bachelet foi eleita pela Concertação, a coalizão de centro-esquerda que governa lidera o país desde o fim da ditadura.


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