São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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Sarkozy anuncia que França voltará ao comando da Otan

Presidente diz que decisão visa reforçar cooperação com EUA e dissipar temores britânicos sobre defesa europeia comum

Paris estava fora do órgão colegiado desde 1966; regresso gera críticas de aliados e rivais, que dizem temer "perda de soberania"

DA ASSOCIATED PRESS

Em decisão criticada por aliados da direita e pela oposição socialista, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou ontem que a França voltará ao comando integrado da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), do qual se retirou há 43 anos por decisão do general Charles de Gaulle.
A volta à cúpula da aliança militar liderada pelos EUA é uma decisão mais simbólica do que prática, já que Paris, mesmo fora do órgão colegiado, se manteve entre os principais provedores de fundos e tropas em missões da aliança.
A medida deve ser oficializada na próxima cúpula da Otan, dias 3 e 4 de abril, em Estrasburgo, na França. O evento celebrará os 60 anos da Otan, que hoje tem 26 membros.
"Chegou a hora de acabar com essa situação. É do interesse da França e do interesse da Otan", disse Sarkozy em Paris.
O presidente justificou a decisão afirmando que as novas ameaças, como o terrorismo, exigem maior cooperação entre países aliados. Mas a "prioridade absoluta", assegurou, é permitir a retomada do projeto de defesa europeu.
A União Europeia já possui um modesto núcleo de defesa, mas o Reino Unido resiste à ideia de uma integração maior por temer que enfraqueça a Otan -e consequentemente diminua a influência dos EUA na Europa Ocidental.
Londres historicamente prioriza as relações com a Casa Branca em detrimento da construção europeia. Especula-se agora que baixará a guarda por saber que o porta-voz da ideia da defesa comum é Sarkozy, um notório pró-americano.
Sarkozy disse que tomou a decisão depois de obter três garantias: que manterá a liberdade de decidir se envia ou não contingentes a um foco de conflito; que em tempos de paz soldados franceses não se subordinarão a estrangeiros; que seja preservada a autonomia quanto ao arsenal nuclear.
As exigências de Sarkozy refletem a histórica preocupação da França com sua autonomia decisória. Foi justamente o temor da perda de soberania que levou De Gaulle a retirar-se, em 1966, da Otan, surgida em 1949 em contraposição ao bloco soviético, tendo a França como membro fundador. O então presidente, cujas ideias ainda influenciam a política francesa e de quem a direita se diz herdeira, acreditava que o "atlantismo" acobertava a expansão de interesses dos EUA.
Embora não precise do aval do Legislativo, Sarkozy afirmou que pedirá um voto de confiança no Parlamento como forma de legitimar a decisão, que gera críticas inclusive entre membros da sigla governista, a UMP (União por um Movimento Popular), como o ex-premiê Dominique de Villepin.
Para Villepin, a decisão fere a tradição francesa de independência. Já a líder socialista Martine Aubry afirmou que a decisão de Sarzkoy é inútil, "a não ser que o atlantismo tenha se tornado uma ideologia".


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