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Sarkozy anuncia que França voltará ao comando da Otan
Presidente diz que decisão visa reforçar cooperação com EUA e dissipar temores britânicos sobre defesa europeia comum
Paris estava fora do órgão colegiado desde 1966; regresso gera críticas de aliados e rivais, que dizem temer "perda de soberania"
DA ASSOCIATED PRESS
Em decisão criticada por
aliados da direita e pela oposição socialista, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou ontem
que a França voltará ao comando integrado da Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte), do qual se retirou há 43
anos por decisão do general
Charles de Gaulle.
A volta à cúpula da aliança
militar liderada pelos EUA é
uma decisão mais simbólica do
que prática, já que Paris, mesmo fora do órgão colegiado, se
manteve entre os principais
provedores de fundos e tropas
em missões da aliança.
A medida deve ser oficializada na próxima cúpula da Otan,
dias 3 e 4 de abril, em Estrasburgo, na França. O evento celebrará os 60 anos da Otan, que
hoje tem 26 membros.
"Chegou a hora de acabar
com essa situação. É do interesse da França e do interesse da
Otan", disse Sarkozy em Paris.
O presidente justificou a decisão afirmando que as novas
ameaças, como o terrorismo,
exigem maior cooperação entre países aliados. Mas a "prioridade absoluta", assegurou, é
permitir a retomada do projeto
de defesa europeu.
A União Europeia já possui
um modesto núcleo de defesa,
mas o Reino Unido resiste à
ideia de uma integração maior
por temer que enfraqueça a
Otan -e consequentemente
diminua a influência dos EUA
na Europa Ocidental.
Londres historicamente
prioriza as relações com a Casa
Branca em detrimento da construção europeia. Especula-se
agora que baixará a guarda por
saber que o porta-voz da ideia
da defesa comum é Sarkozy,
um notório pró-americano.
Sarkozy disse que tomou a
decisão depois de obter três garantias: que manterá a liberdade de decidir se envia ou não
contingentes a um foco de conflito; que em tempos de paz soldados franceses não se subordinarão a estrangeiros; que seja
preservada a autonomia quanto ao arsenal nuclear.
As exigências de Sarkozy refletem a histórica preocupação
da França com sua autonomia
decisória. Foi justamente o temor da perda de soberania que
levou De Gaulle a retirar-se, em
1966, da Otan, surgida em 1949
em contraposição ao bloco soviético, tendo a França como
membro fundador. O então
presidente, cujas ideias ainda
influenciam a política francesa
e de quem a direita se diz herdeira, acreditava que o "atlantismo" acobertava a expansão
de interesses dos EUA.
Embora não precise do aval
do Legislativo, Sarkozy afirmou que pedirá um voto de
confiança no Parlamento como
forma de legitimar a decisão,
que gera críticas inclusive entre
membros da sigla governista, a
UMP (União por um Movimento Popular), como o ex-premiê
Dominique de Villepin.
Para Villepin, a decisão fere a
tradição francesa de independência. Já a líder socialista
Martine Aubry afirmou que a
decisão de Sarzkoy é inútil, "a
não ser que o atlantismo tenha
se tornado uma ideologia".
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