|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ONU admite efeito negativo de guerra à droga
DA REDAÇÃO
Responsável pelo Escritório
das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o italiano Antonio Maria Costa declarou ontem, em Viena, que a política defendida pela ONU de
uma "guerra às drogas" global,
com ênfase na repressão policial e militar, teve "consequências imprevistas dramáticas".
Ele falava na abertura da reunião da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, que divulgará hoje um documento de
consolidação dos princípios
que norteiam a política internacional antidrogas.
A elaboração do texto provocou uma divisão em relação ao
enfoque atual, apoiado pelos
EUA e criticado pela União Europeia, que defende uma visão
menos "policial" do tema.
Costa destacou, entre os
"efeitos colaterais" da política
repressiva, o fortalecimento financeiro e militar de grupos de
traficantes que exploram o
mercado negro da droga.
A Comissão de Narcóticos é
operacionalmente subordinada ao escritório chefiado por
Costa. Em resposta a essas
"consequências imprevistas", o
diplomata defendeu controle e
repressão ainda maiores, com
maior coordenação entre os
países. Por outro lado, fez concessões ao discurso europeu e
de ONGs favoráveis a uma política de "redução de danos", que
diferencie o consumo do comércio de drogas.
"Deveríamos apostar num
meio termo entre a criminalização e a legalização, concebendo nossos esforços coletivos menos como uma guerra, e
mais como um esforço para curar uma doença social."
A fala contrasta com o texto
continuísta até agora acordado,
e a atitude de Costa é classificada por Rubem César Fernandes, membro do secretariado
da Comissão Drogas e Democracia, da qual participam ex-presidentes latino-americanos,
entre eles Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002), como
"contraditória".
"O atual sistema claramente
não funciona", ele disse. "A declaração [de Costa] é uma expressão muito clara disso. Eles
incorporaram as críticas, mas
não conseguiram fazer o reconhecimento [no texto] de que a
atual política não funcionou."
A Comissão Drogas e Democracia lançou ontem um documento em que pede mudanças
na política de "guerra às drogas", segundo eles ineficaz,
aplicada à América Latina.
Presente à reunião de Viena,
o presidente boliviano, Evo
Morales, defendeu a retirada da
folha de coca da lista da ONU de
substâncias ilícitas. Enquanto,
durante seu discurso, mastigava a planta, Morales disse aos
presentes aos debates: "A folha
de coca não é cocaína".
Com agências internacionais
Texto Anterior: Policial será czar antidrogas dos EUA Próximo Texto: Cubanos veem 1º passo em medida dos EUA Índice
|