São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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ONU admite efeito negativo de guerra à droga

DA REDAÇÃO

Responsável pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o italiano Antonio Maria Costa declarou ontem, em Viena, que a política defendida pela ONU de uma "guerra às drogas" global, com ênfase na repressão policial e militar, teve "consequências imprevistas dramáticas".
Ele falava na abertura da reunião da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas, que divulgará hoje um documento de consolidação dos princípios que norteiam a política internacional antidrogas.
A elaboração do texto provocou uma divisão em relação ao enfoque atual, apoiado pelos EUA e criticado pela União Europeia, que defende uma visão menos "policial" do tema.
Costa destacou, entre os "efeitos colaterais" da política repressiva, o fortalecimento financeiro e militar de grupos de traficantes que exploram o mercado negro da droga.
A Comissão de Narcóticos é operacionalmente subordinada ao escritório chefiado por Costa. Em resposta a essas "consequências imprevistas", o diplomata defendeu controle e repressão ainda maiores, com maior coordenação entre os países. Por outro lado, fez concessões ao discurso europeu e de ONGs favoráveis a uma política de "redução de danos", que diferencie o consumo do comércio de drogas.
"Deveríamos apostar num meio termo entre a criminalização e a legalização, concebendo nossos esforços coletivos menos como uma guerra, e mais como um esforço para curar uma doença social."
A fala contrasta com o texto continuísta até agora acordado, e a atitude de Costa é classificada por Rubem César Fernandes, membro do secretariado da Comissão Drogas e Democracia, da qual participam ex-presidentes latino-americanos, entre eles Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), como "contraditória".
"O atual sistema claramente não funciona", ele disse. "A declaração [de Costa] é uma expressão muito clara disso. Eles incorporaram as críticas, mas não conseguiram fazer o reconhecimento [no texto] de que a atual política não funcionou."
A Comissão Drogas e Democracia lançou ontem um documento em que pede mudanças na política de "guerra às drogas", segundo eles ineficaz, aplicada à América Latina.
Presente à reunião de Viena, o presidente boliviano, Evo Morales, defendeu a retirada da folha de coca da lista da ONU de substâncias ilícitas. Enquanto, durante seu discurso, mastigava a planta, Morales disse aos presentes aos debates: "A folha de coca não é cocaína".

Com agências internacionais


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