|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA e Europa condenam Cuba por abusos
Departamento de Estado vê panorama sombrio de direitos humanos; Parlamento Europeu reprova morte "evitável" de dissidente
Reações estrangeiras vêm no mesmo dia em que opositor cubano em greve de fome há 17 dias sofre novo desmaio
e volta a ser hospitalizado
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
A deterioração dos direitos
humanos em Cuba foi retratada em tons sombrios no Relatório de Direitos Humanos do governo dos EUA para o ano de
2009, divulgado ontem em
Washington. O texto acusa o
regime cubano por repetidos
"espancamentos, ameaças,
abuso de prisioneiros e prisões
arbitrárias", além de negar julgamento justo a detidos, "incluindo ao menos 194 presos
políticos e até 5.000 pessoas
condenadas por "perigo potencial", sem terem sido acusadas
por nenhum crime específico".
As fortes críticas chegaram
no mesmo dia em que o Parlamento Europeu aprovou uma
resolução para condenar Cuba
pela morte "evitável e cruel" do
dissidente Orlando Zapata Tamayo, que fez greve de fome
por 85 dias antes de sucumbir
em 23 de fevereiro.
Ontem, outro opositor em
greve de fome, Guillermo Fariñas, que pede a soltura de 26
presos políticos, desmaiou e foi
levado ao hospital na cidade de
Santa Clara. Foi a segunda internação desde que ele começou o jejum, há 17 dias.
Os parlamentares europeus
se mostraram particularmente
preocupados com Fariñas, cuja
condição foi chamada de "alarmante". "Não podemos arcar
com mais uma morte em Cuba", afirmou Jerzy Buzek, presidente do órgão.
Já o caso de Zapata foi mencionado ontem pelo secretário
adjunto para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho do
Departamento de Estado dos
EUA, Michael Posner. "Sabemos que há outros em greve de
fome agora. Sua difícil situação
reflete a amplitude do problema e a deplorável condição encontrada em Cuba", afirmou.
O sistema carcerário cubano
recebeu críticas contundentes.
O Departamento de Estado
afirma que os presos não têm
nem sequer acesso a tratamento médico.
A repressão às liberdades de
expressão, de circulação e religiosa em Cuba foi outro alvo de
ataques no relatório. Os EUA
afirmam que o regime monitorou comunicações privadas
-algo também feito em solo
americano em alguns casos, especialmente relacionados a
suspeitos de terrorismo.
Os EUA são acusados por
muitos países, como o Brasil, de
agravar a situação de direitos
humanos em Cuba com a manutenção há 48 anos de um embargo econômico ao país. Além
disso, Washington mantém na
ilha a prisão de Guantánamo,
mundialmente condenada por
manter presos sem julgamento
e por já ter praticado tortura.
O governo cubano não comentou o relatório americano,
mas reagiu duramente à condenação europeia. "Após um debate sujo, o Parlamento Europeu aprovou uma condenação
contra nosso país, manipulando sentimentos, distorcendo
fatos, enganando pessoas e obscurecendo a realidade", declarou ontem o Parlamento Nacional de Cuba. "Nós consideramos ofensiva essa tentativa
de nos ensinar lições."
A declaração afirma ainda
que a Europa não tem moral
para julgar Cuba, dado seu próprio histórico de opressão a
imigrantes e sua suposta cumplicidade com o tratamento dado pelos americanos a suspeitos de terrorismo.
Brasil
Em relação ao Brasil, o relatório dos EUA afirma que, enquanto o governo federal demonstrou em geral respeito pelos direitos humanos, o mesmo
não ocorreu em vários Estados,
especialmente em relação à
ação de forças de segurança.
São citados especialmente problemas com violência policial e
com o sistema carcerário.
A Venezuela foi acusada pela
"politização do sistema judiciário e a intimidação à oposição
política e aos meios de comunicação. O relatório também critica Honduras pelas limitações
à liberdade de expressão e de
reunião após o golpe de Estado
de 28 de junho, durante os
quais, diz o texto, houve uso
desproporcional de força.
Texto Anterior: Legislativas: Com atraso, Iraque divulga os primeiros resultados de eleição Próximo Texto: Lula: Governo recebeu carta de dissidentes, diz porta-voz Índice
|