São Paulo, sábado, 12 de março de 2011

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Tragédia piora cenário interno já complicado

Impasse na votação do Orçamento e demissão de ministro provocam crise

Maioria está insatisfeita com primeiro-ministro; país perdeu posto de segunda economia do mundo para a China

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O terremoto da madrugada de ontem certamente bateu na autoestima dos japoneses. Nada indica que o atual superará o de Kobe, em 1995, que matou 6.000 e deixou 300 mil desabrigados.
O problema está no acúmulo de más notícias. Há uma crise política em andamento, gerada pelo impasse na votação do Orçamento pela Dieta (o Parlamento).
O primeiro-ministro Naoto Kan quer aumentar em 5% o imposto sobre o consumo de bens e serviços. Até conseguiria em tempos normais. Mas o atual gabinete, empossado em junho, atravessa forte crise de credibilidade.
O fato mais visível da crise foi a demissão, na semana passada, de Seiji Maehara, ministro das Relações Exteriores e provável sucessor de Kan na chefia do governo.
Ele admitiu ter recebido de modo ilegal doações eleitorais de um cidadão estrangeiro. Também por crimes de campanha deve ser processado Ichiro Ozawa, ex-líder do partido do atual premiê.
A oposição, sobretudo o Partido Liberal Democrata -que esteve mais de meio século no poder e foi desalojado em 2009 pelo Partido Democrático do Japão- pede a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições legislativas antecipadas.
Pesquisas indicam que mais da metade dos japoneses está descontente com Kan e frustrada pela não renovação radical dos hábitos que seu partido prometeu.
Qualquer que seja o desfecho, o país está acostumado à instabilidade política. Nos 64 anos da Constituição do pós-guerra, já foram 49 gabinetes, com a duração média de um ano e quatro meses.
Só entre 2000 e 2010, sucederam-se nove governos, quatro deles com a duração de 12 meses, de setembro a setembro do ano seguinte.
Há o problema quase insolúvel da dívida interna. Ela corresponde a 2,2 vezes o PIB (produção anual da economia). A Grécia, que agitou os mercados mundiais, tem uma dívida de 1,4 vez o PIB.
Apesar de tudo, a autoestima japonesa está bem mais afagada que entre 1986 e 1991, quando o estouro da bolha imobiliária e do mercado de ações mergulhou o país em sua "década perdida". Recentemente, a China ultrapassou o Japão como segunda economia mundial.
O premiê Kan e seus partidários pretenderiam abrir mão do protecionismo comercial e aderir a novas zonas de livre-comércio, como a montada pela Coreia do Sul com a Índia. Mas para tanto precisariam abandonar certos tabus, como a taxa de 800% que protege os produtores japoneses de arroz.


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