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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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CÚPULA ANTIGUERRA

Chirac, Schröder e Putin dizem que só ONU pode determinar futuro do Iraque

Líderes exigem participação da ONU

DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse ontem que a guerra liderada pelos EUA no Iraque era ilegítima e uma ameaça ao direito internacional, mas afirmou estar satisfeito com a queda de Saddam Hussein.
Em uma cúpula em São Petersburgo, Putin, o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, e o presidente da França, Jacques Chirac, pediram novamente que a ONU tenha um papel central na reconstrução do Iraque.
Mas Putin afirmou que a Rússia estaria disposta a colaborar com as forças da coalizão anglo-americana, dizendo que Moscou poderia perdoar as dívidas de Bagdá.
Falando em entrevista coletiva após a reunião, Putin criticou os EUA por não terem encontrado armas de destruição em massa no Iraque, que, segundo ele, era a única justificativa para a guerra.
"Mesmo no momento mais agudo de sua luta para sobreviver, o regime iraquiano não usou esses meios [armas de destruição em massa]", disse Putin. "Se, no último momento de sua existência, [o regime] não as usou, isso significa que elas não existem ou não estavam em condições de serem usadas. Isso levanta a questão da plausibilidade dessa ação."
Mais cedo, Putin afirmara estar satisfeito com o fim do regime de Saddam, apesar de Moscou sempre ter se oposto à guerra.
"Obviamente, a derrubada de um regime tirânico foi positiva. Mas as perdas humanas, a catástrofe humanitária, a destruição, são todos pontos negativos", disse Putin em um fórum de políticos e empresários alemães e russos. Ele afirmou ainda que o sistema de direito internacional também havia sido estremecido pela guerra.
"Até 80% dos países do mundo não satisfazem os padrões democráticos europeus, mas apenas as populações desses países podem determinar o seu futuro. O princípio da soberania deveria permanecer inabalável", disse Putin. "E outra questão é: essas nações estão prontas para a introdução da democracia?"
Putin, Schröder e Chirac afirmaram mais uma vez que a ONU deveria agora desempenhar um papel central no Iraque. "A tarefa de restaurar o sistema político, econômico e social do Iraque é enorme", disse Chirac. "Só a ONU tem legitimidade para fazer isso."
Schröder afirmou que os detalhes do processo de paz no Iraque poderiam ser discutidos com a coalizão anglo-americana, mas que "precisamos chegar a um acordo" sobre o papel da ONU.
O presidente dos EUA, George W. Bush, e o premiê do Reino Unido, Tony Blair, afirmaram no início desta semana que a ONU deveria desempenhar um papel vital na reconstrução do Iraque, mas que seu papel específico ainda não havia sido definido.
O subsecretário da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, disse no Senado ontem que a ONU "não pode ser a encarregada". Também sugeriu que a Rússia, a França e a Alemanha poderiam contribuir para a reconstrução do Iraque perdoando as dívidas de Bagdá.
O Iraque deve ao menos US$ 7 bilhões à Rússia em dívidas contraídas durante a era soviética, e Moscou está tentando proteger contratos assinados por companhias russas para desenvolver a indústria petrolífera do Iraque.
Putin disse que Moscou estava disposta a negociar a dívida. "Algumas pessoas atiraram, algumas roubaram, e agora alguém tem de pagar por isso", disse Putin.
Mas Chirac e Schröder disseram que a questão teria de ser decidida no âmbito do Clube de Paris, grupo de países credores.
"Há um certo procedimento no Clube de Paris. É preciso haver um governo legítimo que peça o perdão da dívida", disse Schröder. "Ainda não há um governo legítimo, então não faz nenhum sentido discutir essa questão."
Putin disse que a normalização no Iraque deveria seguir o modelo estabelecido no Afeganistão: primeiro, deve haver uma conferência internacional sob a ONU; depois, um governo interino responsável por preparar as eleições; e, finalmente, as eleições.
"Precisamos fazer tudo para assegurar que o destino do Iraque seja decidido pela própria população iraquiana", disse Putin.
Chirac indicou que dar à ONU um papel central teria um significado de longo prazo para a ordem mundial. "Queremos que esse mundo seja multipolar e assegurar que cada pólo tome decisões equilibradas. É por isso que acreditamos que a ONU deve desempenhar um importante papel ."


Com agências internacionais


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