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Governo cubano facilita posse de imóvel
Habitação é um dos fatores de maior descontentamento da população; medida ainda não permite venda ou aluguel
Hoje cubanos só podem mudar de casa sob permuta consentida pelo governo; expectativa é que decreto de Raúl prenuncie reforma
Javier Galeano/Associated Press
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Casa em Havana; só permuta autorizada pelo governo permite a cubanos trocar de moradia
DA REDAÇÃO
Milhares de cubanos que vivem em imóveis do governo poderão obter com mais rapidez e
menos burocracia o título de
propriedade, mantendo o endereço mesmo após deixarem o
cargo público ao qual a residência está vinculada, anunciou
ontem o governo Raúl Castro.
O primeiro decreto publicado
nos dois meses de uma gestão
marcada pelo fim das "proibições desnecessárias" na ilha
pode enunciar uma reforma
habitacional mais ampla.
Decretada um dia após o fim
dos tetos salariais para os trabalhadores do setor público,
que agora terão sua renda vinculada à produtividade como
forma de estímulo, a medida
aprofunda as transformações
no país socialista.
Embora tenha anunciado
também a ampliação do crédito
agrícola e a concessão de terras
ociosas aos agricultores privados e cooperativas, o governo
de Cuba nega que esteja em
curso uma transição capitalista
e rejeita comparações com o
processo de abertura que resultou no fim do bloco soviético.
Com o título de posse em
mãos, o imenso contingente de
inquilinos do governo -incluindo médicos, militares,
professores, operários da construção civil, cortadores de cana- poderá legar a propriedade aos familiares. Mas não terá
autorização para vendê-la.
Dois funcionários do Instituto Nacional de Habitação em
Cuba disseram à agência Associated Press, sob anonimato
por não terem autorização para
falar com a mídia estrangeira,
que o decreto de ontem é provavelmente o primeiro de uma
série de reformas do setor, um
dos que mais aflige os 11,2 milhões de cubanos.
Prevista em lei desde 1987, a
possibilidade de transferência
das residências aos seus ocupantes jamais havia sido regulamentada. "Estão legalizando
uma zona sem lei", diz o economista de oposição Oscar Espinosa Chepe à Associated Press.
"Isso acaba com a insegurança
de muita gente."
O déficit habitacional é um
dos grandes problemas da ilha,
onde é comum que filhos adultos e seus pais ou casais divorciados continuem a dividir o
mesmo espaço por não conseguirem casas novas, seja para
comprar ou para alugar. Dados
do governo indicam que Cuba
precisa de meio milhão de novas habitações -a estimativa
dos críticos é o dobro disso.
Por lei, os cubanos somente
podem vender suas casas ao Estado, embora seja permitida a
permuta de imóveis com aval
governamental -processo que
pode demorar anos. Para Espinosa, "dar às pessoas documentos legais poderia dar-lhes liberdade para vender as casas
ou talvez alugá-las, desde que
paguem impostos".
"Socialismo aperfeiçoado"
Cuba repassou no jornal oficial "Granma" as recentes mudanças que, diz o diário, são um
"aperfeiçoamento do socialismo".
Na mesma edição, artigo de
Fidel Castro criticou o consumismo como fermento da desigualdade. O ex-ditador, que em
fevereiro deixou o cargo livre
para a ascensão do irmão, citou
como exemplo a antes "próspera" Romênia socialista.
A legalização da venda de
computadores, aparelhos de
DVD e telefone celulares é um
reconhecimento da desigualdade crescente. Pagos em pesos
conversíveis, aos quais apenas
quem lida com turistas tem
acesso, os bens continuam inacessíveis a quem recebe em pesos cubanos -o peso conversível vale 24 vezes mais.
A recuperação do poder de
compra dos salários, outra bandeira de Raúl, é uma promessa
mais difícil de concretizar.
Com agências internacionais
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