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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA EXTERNA
Neocons e realistas disputam McCain
Com ascensão de senador moderado como virtual candidato republicano, ala mais radical tenta influenciá-lo
Ainda em formação, lista de conselheiros tem de Robert Kagan, expoente ideológico do primeiro mandato de Bush, a Henry Kissinger
ELISABETH BUMILLER
LARRY ROHTER
DO "NEW YORK TIMES"
O senador John McCain há
muito fez de suas décadas de
experiência em política externa
e segurança nacional uma peça
central de sua identidade política e sugere que levaria à Casa
Branca uma visão de mundo
plenamente formada.
Mas agora uma das alas formadoras da política externa do
Partido Republicano -os ditos
"pragmáticos", alguns dos
quais consideram hoje a guerra
no Iraque um erro- temem o
possível crescimento da influência de uma ala rival, os
neoconservadores, sobre
McCain. O pensamento dos
neocons dominou o primeiro
mandato do presidente George
W. Bush e exerceu papel decisivo na construção dos argumentos que embasaram a guerra.
As preocupações surgiram
quando McCain se tornou o
virtual candidato republicano à
Presidência dos EUA e começou a criar uma lista mais formal de assessores de política
externa. No rol, há neocons conhecidos como Robert Kagan
-que redigiu boa parte do discurso de 26 de março no qual
McCain se definiu como "idealista realista"-, o analista de
segurança Max Boot e o ex-embaixador na ONU John Bolton.
Membros importantes da
corrente pragmática, também
definida muitas vezes como ala
"realista", se dizem preocupados, igualmente, com o principal assessor da campanha de
McCain para assuntos de política externa. Randy Scheunemann foi membro fundador do
belicoso Comitê Pela Libertação do Iraque e partidário entusiasta do líder iraquiano exilado Ahmad Chalabi, um dos favoritos do Pentágono.
"Talvez seja forte demais dizer que há uma briga pela alma
de John McCain", disse Law-
rence Eagleburger, secretário
de Estado de George Bush pai e
membro da ala pragmática.
"Mas, se não há briga, estou
convicto de que haverá ao menos uma tentativa. Estou preocupado com a possibilidade de
isso já estar acontecendo."
Além disso, Eagleburger disse que muitos de seus "amigos
de extrema-direita agora decidiram que, se não podem vencê-lo, devem persuadir o candidato a deslizar para o lado deles
quanto a essas questões".
O senador, ciente dessas
preocupações, disse a repórteres nesta semana que aceitava
conselhos de uma ampla gama
de pessoas. "Algumas delas podem ser vistas como "mais conservadoras", fecha aspas", disse.
"Mas converso com muita gente, ouço o que eles têm a dizer,
leio o que escrevem."
Sem ortodoxia
McCain sempre se promoveu
como inimigo da ortodoxia,
tanto na política interna quanto na externa. Como partidário
inflexível da Guerra do Iraque,
ele está estreitamente associado a uma questão identificada
com os neoconservadores,
mesmo já tendo criticado a
condução da guerra por Bush.
Ele também mostra simpatia
pelos neocons quanto a outras
questões, assumindo linha dura com a Rússia e quanto à proposta de estabelecer uma nova
organização internacional integrada apenas pelas democracias, como contrapeso à ONU.
Já quanto a outros aspectos,
ele se inclina às posições pragmáticas, como no caso de sua
promessa de trabalhar em
união mais estreita com os países aliados.
Assessores de McCain dizem
que ele conversa com realistas
como os ex-secretários de Estado Henry Kissinger e George
Shultz. Kissinger declarou que
conversou com o candidato "15
ou 20 vezes" em 2007.
"Não acredito que o senador
McCain acentue as divergências, e sim que ele busque um
consenso", disse Scheunemann. "Temos figuras bem conhecidas da ala realista, bem
como neoconservadores", mas
"eles estão aderindo à campanha de McCain; não é McCain
que está aderindo às opiniões
que essas alas tenham".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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