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entrevista
Casa Branca apóia retrocesso, diz egípcio
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Boa parte dos problemas
que afetam o Oriente Médio
resulta do apoio americano
às ditaduras árabes, que inibe as reformas democráticas
na região e acirra tensões étnicas e religiosas. É o que disse à Folha um dos principais
analistas egípcios, Ahmed
Thabet, professor de ciências políticas na Universidade do Cairo e militante de direitos humanos.
"Até o ano 2000, os movimentos democráticos e da
sociedade civil estavam florescendo em quase todo o
mundo árabe. Era uma coisa
avassaladora. O retrocesso
começou logo após os ataques de 11 de setembro de
2001, quando os EUA deram
carta branca a todos os ditadores da região dispostos a
colaborar com a guerra ao
terror", disse Thabet.
Ele deu entrevista por telefone do Rio de Janeiro, onde participou de evento promovido pelo Clacso (Comitê
Latino-Americano de Ciências Sociais).
Segundo Thabet, os líderes árabes aproveitaram o
apoio da Casa Branca para
reprimir as aspirações democráticas de seus povos. "A
única liberdade que cresce
nos países árabes é a de expressão, não a política", lamenta o professor, que cita
quase todos os 22 países árabes como aliados dos EUA.
O analista diz que o ditador egípcio, Hosni Mubarak,
é o exemplo que ilustra melhor a influência negativa
dos EUA no Oriente Médio.
"A Casa Branca apóia e financia Mubarak, que acabou
fazendo dessa aliança sua
prioridade absoluta, em detrimento da obrigação de fazer algo pela empobrecida
população egípcia", avalia.
"No plano regional, a única função de Mubarak consiste em pressionar, a pedido
dos EUA, os palestinos a
aceitarem as condições impostas pelos israelenses",
afirma o professor, numa
crítica ao atual processo de
paz mediado pela Casa Branca entre a Autoridade Nacional Palestina e Israel.
Thabet diz que os EUA,
por razões estratégicas, planejavam aumentar sua influência no Oriente Médio
antes dos atentados de 2001
e cita como prova a primeira
Guerra do Golfo, em 1991.
O fortalecimento dos grupos religiosos e as tensões
entre muçulmanos xiitas e
sunitas no Oriente Médio
são, segundo Thabet, um
efeito colateral da estratégia
americana de dividir para
reinar. "Os EUA estimulam
as divisões sectárias e religiosas para enfraquecer resistências", diz Thabet. "Somem-se a isso décadas de
pobreza e desemprego, e temos um terreno ideal para a
proliferação do fanatismo."
Thabet elogiou o empenho
da diplomacia brasileira em
se envolver nas discussões
sobre o Oriente Médio e sugeriu que o Brasil, como potência emergente, poderia
convencer os regimes árabes
a respeitar as aspirações democráticas em seus países.
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