São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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entrevista

Casa Branca apóia retrocesso, diz egípcio

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Boa parte dos problemas que afetam o Oriente Médio resulta do apoio americano às ditaduras árabes, que inibe as reformas democráticas na região e acirra tensões étnicas e religiosas. É o que disse à Folha um dos principais analistas egípcios, Ahmed Thabet, professor de ciências políticas na Universidade do Cairo e militante de direitos humanos.
"Até o ano 2000, os movimentos democráticos e da sociedade civil estavam florescendo em quase todo o mundo árabe. Era uma coisa avassaladora. O retrocesso começou logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, quando os EUA deram carta branca a todos os ditadores da região dispostos a colaborar com a guerra ao terror", disse Thabet.
Ele deu entrevista por telefone do Rio de Janeiro, onde participou de evento promovido pelo Clacso (Comitê Latino-Americano de Ciências Sociais).
Segundo Thabet, os líderes árabes aproveitaram o apoio da Casa Branca para reprimir as aspirações democráticas de seus povos. "A única liberdade que cresce nos países árabes é a de expressão, não a política", lamenta o professor, que cita quase todos os 22 países árabes como aliados dos EUA.
O analista diz que o ditador egípcio, Hosni Mubarak, é o exemplo que ilustra melhor a influência negativa dos EUA no Oriente Médio. "A Casa Branca apóia e financia Mubarak, que acabou fazendo dessa aliança sua prioridade absoluta, em detrimento da obrigação de fazer algo pela empobrecida população egípcia", avalia.
"No plano regional, a única função de Mubarak consiste em pressionar, a pedido dos EUA, os palestinos a aceitarem as condições impostas pelos israelenses", afirma o professor, numa crítica ao atual processo de paz mediado pela Casa Branca entre a Autoridade Nacional Palestina e Israel.
Thabet diz que os EUA, por razões estratégicas, planejavam aumentar sua influência no Oriente Médio antes dos atentados de 2001 e cita como prova a primeira Guerra do Golfo, em 1991.
O fortalecimento dos grupos religiosos e as tensões entre muçulmanos xiitas e sunitas no Oriente Médio são, segundo Thabet, um efeito colateral da estratégia americana de dividir para reinar. "Os EUA estimulam as divisões sectárias e religiosas para enfraquecer resistências", diz Thabet. "Somem-se a isso décadas de pobreza e desemprego, e temos um terreno ideal para a proliferação do fanatismo."
Thabet elogiou o empenho da diplomacia brasileira em se envolver nas discussões sobre o Oriente Médio e sugeriu que o Brasil, como potência emergente, poderia convencer os regimes árabes a respeitar as aspirações democráticas em seus países.


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