São Paulo, domingo, 12 de abril de 2009

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Obama vai a cúpula "zerar" relação regional

Começando pelo México e culminando na Cúpula das Américas, americano faz nesta semana sua primeira viagem à América Latina

Distante da realidade dos vizinhos, democrata diz vir com a intenção de "ouvir, discutir e lidar com seus colegas como parceiros"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A ordem dada aos cerca de mil integrantes da comitiva que Barack Obama leva à 5ª Cúpula das Américas no fim desta semana, em Trinidad e Tobago, é ouvir. O próprio presidente norte-americano pretende aproveitar os quatro encontros em que estarão apenas os líderes das 34 nações do continente -Cuba excluída- para se apresentar e falar com o maior número possível deles.
Não há nomes vetados -nem o venezuelano Hugo Chávez, que vem mudando para o positivo a retórica em relação ao democrata, nem o boliviano Evo Morales, que já propôs debandada em massa dos embaixadores da região nos EUA-, assuntos tabu nem pré-requisitos.
"Ele não está indo a Trinidad com um plano para o hemisfério", disse Jeffrey Davidow em entrevista coletiva no começo da semana. "Ele está indo com a intenção de ouvir, discutir e lidar com seus colegas como parceiros", afirmou o diplomata. Veterano da região durante os anos Clinton (1993-2001), Davidow foi convocado pelo novo governo para ser o assessor especial para essa Cúpula.
A disposição de Obama se insere no espírito de sua política externa, de "zerar" as relações mais problemáticas herdadas de seu antecessor, o republicano George W. Bush. Foi assim, por exemplo, com a Rússia e o Irã. Será assim com a América Latina. Nos próximos dias, devem ser anunciadas medidas que derrubarão as restrições que restam para viagens e envio de dinheiro entre americanos e seus parentes em Cuba.
Obama sabe que a percepção que os líderes latino-americanos terão dele passa necessariamente por sua posição em relação a Cuba. Sabe também que encontra respaldo em casa para as medidas.
Segundo pesquisa de opinião divulgada anteontem pela CNN, dois terços da população americana apoiam o fim do embargo econômico imposto ao regime dos irmãos Castro, e três quartos são a favor da normalização nas relações entre os dois países.

Aprendizado
Por fim, o democrata assume que conhece muito pouco da região e, por conta da crise econômica, ainda não teve tempo para se dedicar a ela como prometera na campanha.
A viagem desta semana, que começa na quinta de manhã pelo México, é a primeira vez que o americano cruzará a fronteira sul dos EUA em sua vida.
O cargo de "enviado para as Américas" -que se reportaria diretamente ao presidente sem passar pelo Departamento de Estado-, prometido por ele em maio passado, ainda não saiu do papel.
O virtual escolhido para ser o número 1 da Chancelaria para o Hemisfério Ocidental, o acadêmico Arturo Valenzuela, teria negociado assumir o posto apenas no fim do semestre da universidade de Georgetown, onde comanda o Centro para Estudos Latino-Americanos.
Além disso, todos os 34 embaixadores da região são remanescentes dos anos Bush, problema que Davidow minimiza. "Isso tem a ver com o nosso sistema, muito complicado", disse. "Mas é uma questão burocrática, não política."


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