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China lança reforma para revitalizar rede pública de saúde
Governo diz que investirá até 2011 o equivalente a R$ 290 bilhões em construção de hospitais e atendimento gratuito
País não tem cobertura médica universal, e todas as consultas são pagas; cerca de 500 milhões de chineses nunca foram atendidos
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Qualquer consulta em hospital público na China é cobrada,
e a venda de remédios a preços
altos é parte da receita dos centros médicos. Mas o governo
prometeu na semana passada
mudar a equação da saúde.
Nos próximos três anos, Pequim diz que vai investir 850
bilhões de yuans (cerca de R$
290 bilhões) para tentar universalizar a saúde pública. O
plano prevê a construção de
2.000 hospitais e a reforma de
5.000 clínicas e postos de saúde
na zona rural. Promete atendimento gratuito e a distribuição
de medicamentos a preços
acessíveis pelo país.
Meio bilhão -de 1,3 bilhão-
de chineses não sabe o que é
uma consulta médica por não
ter dinheiro. Depois do desemprego, gastos com saúde são a
maior preocupação dos chineses, segundo vários institutos
de pesquisa.
Em tempos de desaceleração
econômica e da necessidade de
se promover o consumo doméstico, o governo tenta convencer a população que não será mais necessário poupar tanto para se garantir um tratamento no futuro.
Documento do Conselho de
Estado divulgado na terça-feira
promete que todo vilarejo terá
um posto de saúde até 2011.
Desmantelamento
As mesmas reformas econômicas que promoveram o espetacular crescimento chinês dos
últimos 20 anos desmantelaram a saúde pública do país,
que era de responsabilidade do
governo, das empresas estatais
e das comunas rurais.
Nos anos 60 e 70, o regime
maoísta desenvolveu uma rede
de chamados "médicos descalços", profissionais com pequenos conhecimentos de saúde
que percorriam a zona rural.
Mas nos anos 80, quando o financiamento estatal foi drasticamente cortado, os hospitais
públicos começaram a cobrar
cada vez mais caro por uma
consulta para obter receita.
Médicos começaram a prescrever mais remédios que o necessário -e os mais caros- para aumentar o lucro dos hospitais, "prática comum" segundo
o próprio governo.
A atual reforma deve proibir
a obtenção de lucros na venda
de remédios e promete tabelar
o preço de medicamentos.
Atualmente, em alguns hospitais, 90% da renda é obtida
com a venda de remédios. A reforma determina que o atendimento médico é "um serviço
público" e garante que haverá
financiamento público para
compensar a perda de receitas.
Em 1980, 21,2% do gasto médico no país era de responsabilidade do paciente, segundo estatísticas do Ministério da Saúde. Em 2007, pulou para 46%.
No rico Japão, apenas 15% do
gasto médico anual sai do bolso
dos pacientes.
O financiamento por parte
do governo caiu de 36,2% em
1980 a 20,3% em 2007.
Nos últimos anos, críticas se
intensificaram de que saúde e
educação foram deixadas de lado nos investimentos bilionários do governo.
No pacote de estímulo à economia lançado em novembro,
apenas 4% dos 4 trilhões de
yuans serão investidos em saúde e educação -39% ficam com
infraestrutura, principalmente
obras vistosas como ferrovias,
aeroportos e estradas.
O plano anunciado nesta semana também prevê sistemas
diversificados de planos de saúde para atender trabalhadores
urbanos, moradores das cidades desempregados, autônomos e camponeses.
Segundo o governo, 90% dos
chineses terão algum tipo de
cobertura médica até 2011, que
chegará a 100% em 2020.
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