São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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EUA ligam tema nuclear ao terrorismo

Em cúpula de 47 países, convocada por Obama, país tenta aumentar o controle sobre a produção e o comércio de material atômico

Novas sanções contra o Irã devem ser discutidas; Chile, que abriu mão de ter urânio enriquecido, é citado pelos americanos como exemplo

Oliver Douliery/Efe
Barack Obama e o premiê indiano, Manmohan Singh, têm encontro sobre proliferação nuclear na véspera de cúpula sobre o tema

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

Brasil, EUA e outras 45 nações estarão reunidas em Washington, hoje e amanhã, para discutir meios de prevenção ao terrorismo nuclear, preocupação que o presidente americano, Barack Obama, colocou no topo de sua agenda de segurança e política internacional.
O objetivo do país anfitrião com a chamada Cúpula de Segurança Nuclear é que cada nação apresente as ações que está disposta a tomar para prevenir que armas nucleares caiam nas mãos de terroristas -protegendo materiais como plutônio e urânio enriquecido, que podem ser usados em explosivos.
Segundo o diretor sênior para não proliferação do governo Obama, Gary Samore, "a cúpula é focada na cooperação para prevenir o contrabando nuclear, de forma a reduzir tanto quanto possível o perigo de que grupos de terror ou gangues de criminosos coloquem as mãos em materiais nucleares".
Em teleconferência da qual a Folha participou, na sexta-feira, Samore citou como exemplo de ações a serem anunciadas pelas nações convidadas a decisão do Chile de "remover todo o urânio altamente enriquecido do país". E ressaltou tratar-se "da maior reunião internacional para discutir questões nucleares" já feita.
Mas a cúpula não deve transcorrer sem polêmicas. A primeira, na semana passada, foi o anúncio de que o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, havia cancelado sua presença por temer que a cúpula seria usada por Turquia e Egito para exigir que Israel assine o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que será objeto de revisão em outra grande conferência, em maio, em Nova York.
Índia e Paquistão, outros dos países com capacidade nuclear que não são signatários do pacto, não só comparecerão como ontem já tiveram reuniões bilaterais com Obama.
Mas Hillary Clinton, em palestra na sexta na Universidade de Louisville, amenizou o cancelamento e afirmou que o vice-premiê de Israel estará em Washington para a cúpula. "Israel compartilha conosco uma preocupação profunda com as ambições nucleares do Irã e também sobre a ameaça de terrorismo nuclear", afirmou a secretária de Estado dos EUA.
Ao voltar a defender nova rodada de sanções contra o Irã, acusado por Washington de desenvolver armas nucleares, Hillary citou ainda o que "muitos de seus colegas pelo mundo afirmam": "Queremos tentar resolver isso de maneira diplomática". "Bem, sanções, usando o Conselho de Segurança da ONU, é diplomacia", acrescentou ela. Um dos principais opositores à resolução contra os iranianos é o Brasil, que vem dizendo preferir um "caminho negociado".
Hoje e amanhã, estarão em Washington para a cúpula o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Nelson Jobim (Defesa), e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Para Jonathan Schell, jornalista especializado em questões nucleares e professor da Universidade Yale, com a cúpula "Obama espera colher algumas vantagens dos cortes do Start [novo tratado assinado com a Rússia para redução de armas] no campo da proliferação, conseguindo o apoio de Rússia, China e outros a sanções mais duras contra o Irã e a medidas globais para restringir a difusão de materiais nucleares".
Mas Schell afirma também que, "precisamente porque os passos de desarmamento [dos EUA] foram tão modestos, imagino que os sucessos no setor de proliferação também serão modestos. Os países perceberão que viverão em um mundo com armas nucleares indefinidamente e se agarrarão ainda mais aos seus arsenais".


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