Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Construção em Jerusalém Oriental seguirá"
Prefeito Nir Barkat rejeita consenso internacional de que só a divisão da cidade permitirá acordo de paz com palestinos
Para político, "se o mundo
tem uma opinião, não quer
dizer que temos de aceitar.
Jerusalém jamais foi tão
aberta e livre" quanto hoje
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O prefeito de Jerusalém, Nir
Barkat, ignora as críticas internacionais e garante que a cidade permanecerá "unificada" e
sob soberania israelense.
Barkat afirma que as construções em Jerusalém Oriental
vão continuar, apesar das fortes críticas recentes dos EUA,
que abalaram as relações entre
os dois aliados tradicionais.
Barkat rejeita o consenso internacional de que só a divisão
de Jerusalém, com a instalação
da capital de um futuro Estado
palestino no setor oriental,
possibilitará um acordo de paz.
Em entrevista à Folha, em seu
gabinete, ele explicou por quê.
FOLHA - A prefeitura confirmou
um plano de construir 50 mil habitações em Jerusalém Oriental nos próximos 20 anos. Qual sua visão do
que a cidade será em duas décadas?
NIR BARKAT - Jerusalém não é
uma cidade só de seus residentes. Além de coração do povo
judeu, ela é importante para
mais de 3 bilhões de pessoas de
diferentes fés. A vocação histórica da cidade é permanecer
aberta. Minha visão é passar a
receber 10 milhões de turistas
por ano, cinco vezes mais do
que hoje. O plano da cidade
prevê que a população crescerá
dos atuais 800 mil para 1 milhão em 20 anos, mantendo a
proporção atual, um terço de
árabes e dois terços de judeus.
FOLHA - Dessas novas moradias,
quantas serão na parte oriental?
BARKAT - Não nos baseamos
em Oriente ou Ocidente, mas
na relação de 1/3 para árabes e
2/3 para judeus. No Estado de
Israel, por lei, não se pode determinar a um árabe ou judeu
onde ele deve viver.
FOLHA - É difícil ignorar que havia
uma fronteira em 1967 e que boa
parte dessa construção será na parte
ocupada por Israel desde então.
BARKAT - Jerusalém tem muitas linhas. Tem a linha de 1967,
de 1948, do mandato britânico,
dos turcos, dos cruzados. Desde
que foi destruída, há 2.000
anos, Jerusalém passou por
mais de dez mãos.
FOLHA - Existe um consenso internacional em torno da fronteira de
1967, de que ela deve ser a base para um acordo com os palestinos.
BARKAT - Não há consenso.
Consenso é quando as duas
partes envolvidas concordam.
Se o mundo, que é uma terceira
parte, tem essa ou outra opinião, não quer dizer que temos
que aceitar. Nos 42 anos em
que Jerusalém está unificada
sob administração israelense,
ela jamais foi tão aberta e livre.
Não havia liberdade para cristãos e judeus quando a cidade
estava nas mãos árabes. A divisão é o maior erro que pode ser
cometido. Jerusalém deve continuar aberta e unificada.
FOLHA - Os palestinos consideram
as linhas de 1967 muito concretas e
não aceitam um acordo sem ter Jerusalém Oriental como sua capital.
BARKAT - Quem impõe essa exigência impede o diálogo. É uma
precondição que não tem chance de ser aceita.
FOLHA - Mesmo se esse fosse o
preço da paz?
BARKAT - A pergunta não é justa. O preço da paz não pode ser
esse. A paz deve vir do reconhecimento, da coexistência, da
aceitação em fazer concessões.
Provamos que ninguém é mais
capaz que o Estado de Israel de
manter a abertura e a liberdade
de culto em Jerusalém. Qualquer mudança seria temerária.
Veja o que ocorre em Gaza, com
o domínio do Hamas. Quem garante que um acordo de paz seria respeitado?
FOLHA - Nem os EUA, principal
aliado do seu país, concordam com a
anexação de Jerusalém Oriental.
BARKAT - Há divergências até
entre parceiros estratégicos.
Mas nossos amigos no mundo
precisam considerar que talvez
estejam errados. Minha recomendação ao premiê é ser muito duro em relação a Jerusalém
e flexível em outros assuntos.
FOLHA - As construções em Jerusalém Oriental continuarão?
BARKAT - Claro que sim. Quando o mundo fala em suspender
a construção em Jerusalém
Oriental, ele fala de judeus e
árabes? Ou congelar só para judeus? Isso não seria legal em
nenhum lugar do mundo, nem
no Brasil ou nos EUA.
FOLHA - E a lei internacional? Ela
proíbe construir em áreas ocupadas.
BARKAT - Tanto árabes como
judeus constróem lá. Além disso, ocupado de quem? Jamais
houve um Estado palestino.
Por outro lado, houve mil anos
de história judia em Jerusalém.
Leia o perfil do prefeito Nir
Barkat
www.folha.com.br/101013
Texto Anterior: Foco: Maratona em Santiago passa por monumentos danificados por terremoto Próximo Texto: Frases Índice
|