São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2011

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Dilma e chinês citarão direitos humanos

Declaração da presidente e do líder Hu Jintao mencionará tema, mas sem julgamentos; documento pedirá diálogo

Brasileira chegou ontem para visita de 5 dias, no momento em que crescem protestos por prisão de ativista


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Direitos humanos -o tema que a presidente Dilma Rousseff pretende colocar no centro de sua política externa- estarão mencionados na declaração conjunta que os governos do Brasil e da China divulgam hoje, após o encontro entre Dilma e seu colega chinês, Hu Jintao.
A presidente chegou ontem a Pequim, para uma visita oficial de cinco dias.
Mas não será, como é óbvio, julgamento do comportamento de qualquer um dos dois governos na matéria.
Será a retomada do chamado "diálogo" em torno do assunto, lançado ainda na gestão Luiz Inácio Lula da Silva e praticamente abandonado desde então.
A declaração mencionará a troca de experiências na matéria, mas centrada numa visão mais abrangente de direitos humanos, que inclui, além dos clássicos direitos políticos, também os sociais.
A China tem um enorme passivo em liberdades públicas em geral, o que se tornou ainda mais visível às vésperas da chegada de Dilma, com o desaparecimento do artista Ai Weiwei, detido quando embarcava para Hong Kong.
Embora não haja informação oficial sobre Weiwei, extraoficialmente a mídia local diz que ele foi preso por "delitos econômicos", não devidamente especificados.
Por isso, a diplomacia brasileira trata o caso com cautela, à espera de detalhes.
Já no capítulo direitos sociais, os chineses têm mais a exibir do que o próprio Brasil: tiraram da pobreza, nos últimos 20 anos, algo em torno de 550 milhões de pessoas, o que equivale a 42% de sua população de 1,3 bilhão.
O Brasil festeja os 30 milhões que passaram a pertencer à classe média, um bom registro, mas que dá mais ou menos 23% da população, a metade portanto do progresso da China na matéria.
Tratar de direitos humanos no sentido político seria entrar em campo minado, acha a diplomacia brasileira.

CRÍTICA AOS EUA
Na segunda-feira em que Dilma desembarcou em Pequim, o jornal "China Daily" publicava duas páginas inteiras de um relatório chinês sobre os direitos humanos nos Estados Unidos.
É uma resposta direta ao relatório similar, sobre todo o mundo, que o Departamento de Estado norte-americano liberou na semana passada, com críticas tanto ao Brasil como à China, entre muitos outros países.
O documento chinês contra-ataca, ao dizer que o relatório norte-americano "está cheio de distorções" e "fecha os olhos para a sua própria e terrível situação em direitos humanos".
O relatório chinês registra, por exemplo, que "a cada ano, uma de cada cinco pessoas é vítima de um crime nos Estados Unidos", o mais alto nível no mundo todo.
O documento devolve a acusação norte-americana de que o governo chinês viola direitos civis e políticos, afirmando: "Nos EUA, a violação dos direitos civis e políticos pelo governo é severa".
O Itamaraty reagiu ao texto dos EUA de forma parecida com a chinesa, mas em termos bem menos agressivos.
A coincidência de posições permite que o tema seja incluído na declaração conjunta Brasil/China, ainda que muito longe da reivindicação das ONGs da área.
O governo brasileiro prefere não "apontar o dedo acusador", como diz a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, subsecretária de Política do Itamaraty.


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