São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Vídeo mostrando a morte de Nicholas Berg é exibido em site; grupo diz se tratar de vingança por tortura

Civil americano é degolado por insurgentes

DA REDAÇÃO

Insurgentes decapitaram um civil americano no Iraque e divulgaram imagens do assassinato em um website militante islâmico, alegando que se trata de vingança pela tortura de iraquianos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá.
No vídeo, disponibilizado ontem na internet, o homem se apresenta como Nicholas Berg, 26, um microempresário da Filadélfia desaparecido no dia 9 de abril e cujo corpo fora achado em uma estrada perto de Bagdá no último sábado. A família Berg acusou o governo dos EUA de "criar as circunstâncias" da morte e de "não estar comprometido com a democracia".
As cenas evocam a morte do jornalista Daniel Pearl, degolado no Paquistão em 2002 quando fazia uma reportagem para o jornal "Wall Street Journal".
Os cinco captores de Berg afirmaram pertencer a um grupo ligado à rede terrorista Al Qaeda, responsável pelo 11 de Setembro e suspeita de uma série de ataques no Iraque pós-guerra. De acordo com o site, o homem que cortou a cabeça do americano é Abu Musab Zarqawi, um dos líderes regionais da rede. A informação não pôde ser confirmada.
Na frente dos captores, ajoelhado, Berg aparece vestindo um macacão laranja semelhante ao uniforme dos prisioneiros em Abu Ghraib.
"Meu nome é Nick Berg, o nome do meu pai é Michael, o nome da minha mãe é Suzanne. Tenho um irmã e uma irmã, David e Sarah. Moro na Filadélfia."
Na seqüência, o grupo lê um comunicado no qual afirma ter tentado, sem sucesso, negociar a troca do refém por prisioneiros iraquianos mantidos em Abu Ghraib. "Vocês não conseguirão nada a não ser caixões", diz o comunicado, que ameaça o presidente americano, George W. Bush, e o ditador paquistanês, Pervez Musharraf.
Um dos homens então puxa Berg para junto de si e encosta uma grande faca em seu pescoço. Ouve-se um grito e Berg é degolado. Aos gritos de "Deus é grande", os captores pegam sua cabeça e a exibem para a câmera.

Direitos civis
A família de Berg ligou sua morte à posição de Washington. O americano esteve no Iraque para trabalhar na instalação de antenas de comunicação entre dezembro de 2003 e 1º fevereiro, tendo retornado no início de março com a intenção de passar um mês. Mas nesse ínterim ele foi detido pela polícia iraquiana em Mossul, tendo passado 13 dias preso numa delegacia.
Berg só foi solto após seus pais abrirem um processo no último dia 5, alegando que o filho fora detido ilegalmente. O motivo da prisão não está claro.
"Acho que muita gente está farta da falta de direitos civis que essa coisa [a política antiterror] tem causado. Não acho que esse governo esteja comprometido com a democracia", disse Michael Berg, afirmando que seu filho "poderia estar vivo" se não tivesse sido detido.
A família Berg já havia sido informada da morte segunda-feira pelo Departamento de Estado, mas não sabia que o assassinato fora gravado.
"Eu já sabia que ele tinha sido decapitado. Esse modo é preferível a uma morte torturante e lenta. Mas não queria que se tornasse público", disse Michael Berg.
O site que divulgou o vídeo, Fórum Islâmico Ansar, é conhecido por servir de palanque a extremistas. Redes de TV americanas, como CNN e MSNBC, disseram que não exibirão as imagens.


Com agências internacionais

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