São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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GUERRA SEM LIMITES

Para Ken Gude, revelação sobre ligações de civis acaba com argumento do governo de que foco é a Al Qaeda

Espionagem "não pára por aí", diz analista

DE WASHINGTON

O raio de ação da NSA é maior do que se imagina. Em dezembro, quando se revelou que a agência monitorava certas comunicações feitas por civis entre EUA e o exterior e vice-versa, a Casa Branca havia dito que era uma atividade localizada, que visava a Al Qaeda. "Mas não parou por ali, parou?", pergunta Ken Gude, do Center for American Progress, uma ONG de direitos civis baseada em Washington.
Especializado em direito internacional e nas liberdades individuais pós-11 de Setembro, ele conversou com a Folha. Por telefone. Leia a entrevista:

Folha - Como o sr. vê a revelação?
Ken Gude -
Acaba com os argumentos desse governo de que o alvo deles é só a Al Qaeda e seus terroristas. Na verdade, eles podem fazer o que quiser com informações preciosas de virtualmente todos os norte-americanos.

Folha - O sr. já tinha ouvido falar de algo assim antes?
Gude -
Nunca, nem próximo, um arquivo desse tamanho e magnitude. A NSA é a a agência mais tecnológica de todas as de inteligência. A maneira pela qual eles operam envolve toda forma de comunicação, não só telefonemas como estamos acostumados. São e-mails, telefones celulares e sem fio, telefonemas pela Internet (VoIP), mensagem instantânea, bate-papo, sites de relacionamento pessoal, tudo o que você pode pensar. Quanto mais sofisticados ficamos, mais vulneráveis.
A grande mudança aqui é que até agora a NSA operava principalmente no exterior para angariar seus dados. Essa revelação de hoje (ontem) marca uma mudança enorme de procedimentos e de pensamento. Eles estão monitorando cada um de nós mesmos.

Folha - E isso é legal?
Gude
Eles violaram o Stored Communications Act, que protege informações guardadas, como o seu número de telefone e o número da pessoa que ligou para você ou recebeu seu telefonema. Para que uma empresa telefônica forneça esse dado ao governo, precisa ou da autorização expressa do cliente ou de ordem judicial.

Folha - E pára por aí?
Gude -
Não. Essa foi nossa preocupação quando o "New York Times" revelou em dezembro que a NSA monitorava telefonemas e e-mails mandados do exterior para os EUA e vice-versa. Pois não parou por aí, parou?

Folha - O sr. acha que eles estão gravando dados da nossa ligação?
Gude -
(Risos) Espero que não. Na verdade, acho que não. Devem estar preocupados com lugares potencialmente mais perigosos, como Paquistão ou Afeganistão. Mas é importante fazermos a distinção entre conteúdo e dado. Até onde se sabe, os conteúdos, digamos assim, ainda não estão sendo gravados...


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