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GUERRA SEM LIMITES
Para Ken Gude, revelação sobre ligações de civis acaba com argumento do governo de que foco é a Al Qaeda
Espionagem "não pára por aí", diz analista
DE WASHINGTON
O raio de ação da NSA é maior
do que se imagina. Em dezembro,
quando se revelou que a agência
monitorava certas comunicações
feitas por civis entre EUA e o exterior e vice-versa, a Casa Branca
havia dito que era uma atividade
localizada, que visava a Al Qaeda.
"Mas não parou por ali, parou?",
pergunta Ken Gude, do Center for
American Progress, uma ONG de
direitos civis baseada em Washington.
Especializado em direito internacional e nas liberdades individuais pós-11 de Setembro, ele
conversou com a Folha. Por telefone. Leia a entrevista:
Folha - Como o sr. vê a revelação?
Ken Gude - Acaba com os argumentos desse governo de que o alvo deles é só a Al Qaeda e seus terroristas. Na verdade, eles podem
fazer o que quiser com informações preciosas de virtualmente todos os norte-americanos.
Folha - O sr. já tinha ouvido falar
de algo assim antes?
Gude - Nunca, nem próximo,
um arquivo desse tamanho e
magnitude. A NSA é a a agência
mais tecnológica de todas as de
inteligência. A maneira pela qual
eles operam envolve toda forma
de comunicação, não só telefonemas como estamos acostumados.
São e-mails, telefones celulares e
sem fio, telefonemas pela Internet
(VoIP), mensagem instantânea,
bate-papo, sites de relacionamento pessoal, tudo o que você pode
pensar. Quanto mais sofisticados
ficamos, mais vulneráveis.
A grande mudança aqui é que
até agora a NSA operava principalmente no exterior para angariar seus dados. Essa revelação de
hoje (ontem) marca uma mudança enorme de procedimentos e de
pensamento. Eles estão monitorando cada um de nós mesmos.
Folha - E isso é legal?
Gude Eles violaram o Stored
Communications Act, que protege informações guardadas, como
o seu número de telefone e o número da pessoa que ligou para você ou recebeu seu telefonema. Para que uma empresa telefônica
forneça esse dado ao governo,
precisa ou da autorização expressa do cliente ou de ordem judicial.
Folha - E pára por aí?
Gude - Não. Essa foi nossa preocupação quando o "New York Times" revelou em dezembro que a
NSA monitorava telefonemas e e-mails mandados do exterior para
os EUA e vice-versa. Pois não parou por aí, parou?
Folha - O sr. acha que eles estão
gravando dados da nossa ligação?
Gude - (Risos) Espero que não.
Na verdade, acho que não. Devem
estar preocupados com lugares
potencialmente mais perigosos,
como Paquistão ou Afeganistão.
Mas é importante fazermos a distinção entre conteúdo e dado. Até
onde se sabe, os conteúdos, digamos assim, ainda não estão sendo
gravados...
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