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Obama troca comando no Afeganistão
General McChrystal, especialista em contrainsurgência, substituirá David McKiernan, que estava há menos de um ano no cargo
Indicação ainda tem que ser
confirmada pelo Senado;
nova estratégia para região
pedia nova liderança militar,
afirma secretário da Defesa
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O secretário da Defesa dos
EUA, Robert Gates, anunciou
ontem a substituição do comando das forças americanas
no Afeganistão, em meio a esforços do governo Barack Obama para mudar a estratégia de
uma guerra cada vez mais complicada. Com a troca, sai o general de quatro estrelas David
McKiernan e entra o general de
três estrelas Stanley
McChrystal, um veterano de
operações especiais no Iraque.
Em uma entrevista coletiva
convocada às pressas no Pentágono, Gates deu poucas explicações para a decisão, citando
apenas a necessidade de uma
nova liderança no momento
em que o país busca uma abordagem diferente para a região.
"Temos uma nova estratégia,
uma nova missão e um novo
embaixador. Creio que uma nova liderança militar também é
necessária", disse.
Como vice de McChrystal,
que chefiará também as forças
da Otan (aliança militar ocidental), foi indicado o general
de três estrelas David Rodriguez, ex-líder das forças americanas no leste afegão e atual assistente militar de Gates. "Esses dois oficiais trarão um foco
que é realmente necessário em
2009", disse o secretário. "E
simplesmente não acho que
podemos esperar até 2010."
Por meio de seu porta-voz, o
Obama afirmou "concordar
que a implementação de uma
nova estratégia no Afeganistão
pedia uma nova liderança militar". Desde março, os EUA deslocaram oficialmente o foco de
sua ação militar global do Iraque para a fronteira entre Afeganistão e Paquistão. O objetivo principal, em vez de uma luta ampla contra o terror, se
concentrou em derrotar a rede
terrorista Al Qaeda e sua ligação conturbada com o grupo radical islâmico Taleban. A longo
prazo, a abordagem busca soluções não militares.
Até agora, porém, os resultados foram pífios, com o Taleban conquistando mais e mais
territórios no Paquistão e os
combates se deteriorando no
Afeganistão, que teve neste ano
aumento de 75% nas mortes de
soldados das forças afegãs e da
aliança internacional. Além
disso, a situação política nos
dois países é bastante frágil.
McKiernan vinha pedindo
aumento de tropas há meses.
Ele é descrito pela imprensa
americana como favorável a
uma abordagem mais tradicional, focada em combates, para a
guerra. Chegara ao posto no
ano passado por designação do
ex-presidente George W. Bush,
a quem agradou após ter liderado as forças em solo durante a
invasão do Iraque.
Obama ordenou recentemente o envio de mais 21 mil
soldados ao Afeganistão, aumento inferior ao almejado por
McKiernan. Além disso, o Pentágono está crescentemente
preocupado com a queda de
apoio popular ao esforço, cuja
imagem foi manchada por mortes de civis em ataques da Otan.
Contrainsurgência
Especialistas, porém, não
concordam com o suposto apego de McKiernan pela guerra
tradicional e foram pegos de
surpresa pela troca. Um deles é
Michael O'Hanlon, membro
sênior para defesa do Instituto
Brookings. "Foi McKiernan
que ajudou a formular vários
pontos da estratégia atual, desde focar mais em proteger a população e conquistar apoio dos
afegãos a aumentar as tropas.
Não acredito que ele seja particularmente favorável à guerra
tradicional" disse ele à Folha.
A questão, para ele, é que enquanto McKiernan é bom,
McChrystal é um "superstar"
no campo das operações. "Há
um grande senso de urgência
no governo com a crescente
instabilidade do Afeganistão e
do Paquistão, e McChrystal é
excelente. Ele atuou muito
bem no Iraque e se tornou próximo de pessoas que estão no
centro das decisões, como David Petraeus [ex-comandante
das forças no país árabe e atual
chefe do Comando Central]."
Gates negou que a decisão
mostre "desespero". Mas de toda forma, a troca reflete a noção de que a situação no país se
tornou tão complexa que é preciso um comandante do ramo
da guerra não convencional.
McChrystal foi responsável
por operações especiais bem-sucedidas no Iraque. Ele ajudou a capturar altos membros
da Al Qaeda e deteve homens
como Abu Musab al Zarqawi,
que liderou campanha brutal
de explosões e decapitou várias
pessoas até morto por oficiais
das operações especiais dos
EUA em abril de 2006. O'Hanlon diz ainda que McChrystal
poderá levar à atuação no Afeganistão sua experiência em
questões de inteligência, que
são hoje fracas na região de
fronteira com o Paquistão.
McKiernan ficará no posto
até que McChrystal seja confirmado pelo Senado. Depois, a
expectativa é que se aposente.
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