São Paulo, terça-feira, 12 de maio de 2009

Próximo Texto | Índice

Obama troca comando no Afeganistão

General McChrystal, especialista em contrainsurgência, substituirá David McKiernan, que estava há menos de um ano no cargo

Indicação ainda tem que ser confirmada pelo Senado; nova estratégia para região pedia nova liderança militar, afirma secretário da Defesa


ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, anunciou ontem a substituição do comando das forças americanas no Afeganistão, em meio a esforços do governo Barack Obama para mudar a estratégia de uma guerra cada vez mais complicada. Com a troca, sai o general de quatro estrelas David McKiernan e entra o general de três estrelas Stanley McChrystal, um veterano de operações especiais no Iraque.
Em uma entrevista coletiva convocada às pressas no Pentágono, Gates deu poucas explicações para a decisão, citando apenas a necessidade de uma nova liderança no momento em que o país busca uma abordagem diferente para a região. "Temos uma nova estratégia, uma nova missão e um novo embaixador. Creio que uma nova liderança militar também é necessária", disse.
Como vice de McChrystal, que chefiará também as forças da Otan (aliança militar ocidental), foi indicado o general de três estrelas David Rodriguez, ex-líder das forças americanas no leste afegão e atual assistente militar de Gates. "Esses dois oficiais trarão um foco que é realmente necessário em 2009", disse o secretário. "E simplesmente não acho que podemos esperar até 2010."
Por meio de seu porta-voz, o Obama afirmou "concordar que a implementação de uma nova estratégia no Afeganistão pedia uma nova liderança militar". Desde março, os EUA deslocaram oficialmente o foco de sua ação militar global do Iraque para a fronteira entre Afeganistão e Paquistão. O objetivo principal, em vez de uma luta ampla contra o terror, se concentrou em derrotar a rede terrorista Al Qaeda e sua ligação conturbada com o grupo radical islâmico Taleban. A longo prazo, a abordagem busca soluções não militares.
Até agora, porém, os resultados foram pífios, com o Taleban conquistando mais e mais territórios no Paquistão e os combates se deteriorando no Afeganistão, que teve neste ano aumento de 75% nas mortes de soldados das forças afegãs e da aliança internacional. Além disso, a situação política nos dois países é bastante frágil.
McKiernan vinha pedindo aumento de tropas há meses. Ele é descrito pela imprensa americana como favorável a uma abordagem mais tradicional, focada em combates, para a guerra. Chegara ao posto no ano passado por designação do ex-presidente George W. Bush, a quem agradou após ter liderado as forças em solo durante a invasão do Iraque.
Obama ordenou recentemente o envio de mais 21 mil soldados ao Afeganistão, aumento inferior ao almejado por McKiernan. Além disso, o Pentágono está crescentemente preocupado com a queda de apoio popular ao esforço, cuja imagem foi manchada por mortes de civis em ataques da Otan.

Contrainsurgência
Especialistas, porém, não concordam com o suposto apego de McKiernan pela guerra tradicional e foram pegos de surpresa pela troca. Um deles é Michael O'Hanlon, membro sênior para defesa do Instituto Brookings. "Foi McKiernan que ajudou a formular vários pontos da estratégia atual, desde focar mais em proteger a população e conquistar apoio dos afegãos a aumentar as tropas. Não acredito que ele seja particularmente favorável à guerra tradicional" disse ele à Folha.
A questão, para ele, é que enquanto McKiernan é bom, McChrystal é um "superstar" no campo das operações. "Há um grande senso de urgência no governo com a crescente instabilidade do Afeganistão e do Paquistão, e McChrystal é excelente. Ele atuou muito bem no Iraque e se tornou próximo de pessoas que estão no centro das decisões, como David Petraeus [ex-comandante das forças no país árabe e atual chefe do Comando Central]."
Gates negou que a decisão mostre "desespero". Mas de toda forma, a troca reflete a noção de que a situação no país se tornou tão complexa que é preciso um comandante do ramo da guerra não convencional.
McChrystal foi responsável por operações especiais bem-sucedidas no Iraque. Ele ajudou a capturar altos membros da Al Qaeda e deteve homens como Abu Musab al Zarqawi, que liderou campanha brutal de explosões e decapitou várias pessoas até morto por oficiais das operações especiais dos EUA em abril de 2006. O'Hanlon diz ainda que McChrystal poderá levar à atuação no Afeganistão sua experiência em questões de inteligência, que são hoje fracas na região de fronteira com o Paquistão.
McKiernan ficará no posto até que McChrystal seja confirmado pelo Senado. Depois, a expectativa é que se aposente.


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.