|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rússia mantém bálticos sob tensão, diz presidente letã
No Brasil, Vaira Vike-Freiberga cita "uso político da energia" feito pelo Kremlin
Chefe de Estado da Letônia
será recebida amanhã pelo
presidente Lula; o Kremlin
a vetou para suceder Kofi
Annan nas Nações Unidas
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A presidente da Letônia, Vaira Vike-Freiberga, 69, disse
existir uma "tensão crônica"
entre a Rússia e as repúblicas
bálticas, com a incidência de
problemas bilaterais que "eclodem com certa regularidade".
Em entrevista à Folha, ela se
referia aos seus vizinhos estonianos, que sofreram recentemente pressões russas -interrupção do tráfico ferroviário, o
que afetou suas exportações-,
depois da remoção de uma estátua na capital, Tallinn, que
glorificava o Exército soviético.
A Estônia, a Letônia e a Lituânia integravam a hoje extinta URSS. Tornaram-se países
independentes em 1991 e, para
diminuir a influência de Moscou, entraram na União Européia e na Otan, a aliança militar
ocidental.
Vike-Freiberga está em visita ao Brasil. Esteve ontem em
São Paulo. Estará hoje no Rio e
amanhã em Brasília, onde será
recebida pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Ela acompanha empresários letões, interessados em vender sobretudo softwares.
Uma das áreas de tensão com
a Rússia, diz ela, ocorre porque
aquele país "tem feito um uso
político da energia", pressionando a Ucrânia ou a Geórgia,
às vezes de modo implícito, alegando problemas técnicos para
cortar o fluxo de seus dutos.
Acredita que seu país e os demais na mesma condição se
tornarão menos vulneráveis
com a definição de uma política
energética da União Européia,
que passaria a negociar em bloco com a Rússia.
Indagada se Moscou não seria uma fatalidade em termos
de estorvo geográfico, afirmou
que "eles sempre estarão lá". E
foi em razão das preocupações
com a segurança que os letões
ingressaram na Otan.
ONU
Vike-Freiberga foi no ano
passado candidata à sucessão
de Kofi Annan e poderia ter-se
tornado a primeira mulher na
Secretaria Geral das Nações
Unidas. Mas seu nome foi vetado pelo Kremlin. Perguntada se
sentia alguma mágoa por isso,
afirmou que, "se fosse para ter
mágoas da Rússia, teríamos outros e maiores motivos".
O premiê letão, Aigars Kalvitis, afirmou há uma semana
que a Letônia estaria disposta a
hospedar instalações do escudo
antimísseis que os EUA planejam construir na República
Tcheca e na Polônia -por mais
que Moscou creia que o sistema
vise neutralizar seu próprio
dispositivo de defesa nuclear.
A presidente se contrapôs a
Kalvitis. Afirmou que ele "está
com sonhos muito irreais" e
que talvez tenha como segunda
intenção "trazer um pouco
mais de dinheiro para o país".
Ela faz ainda duas observações:
a Letônia não possui uma localização geográfica apropriada
para deter um míssil hostil, e o
escudo americano não seria capaz de deter mísseis russos.
Mas chega a evocar como perigo o fato de o território letão
se tornar um alvo potencial do
arsenal do Kremlin. Isso porque "nós já somos um alvo".
"Os russos já têm mísseis apontados para nós e para muitos
outros países europeus."
Seu excesso de sinceridade
tem como possível motivo o fato de ela estar nos últimos dias
de seu segundo mandato presidencial. O Parlamento unicameral letão já escolheu como
seu sucessor o médico-cirurgião Valdis Zatlers, que será
empossado em 7 de julho.
O presidente tem na Letônia
um poder bastante limitado.
Promulga as leis -embora possa eventualmente vetá-las- e
representa o país para efeitos
externos.
Vaira Vike-Freiberga exilou-se com seus pais no início da
ocupação soviética. Formou-se
e doutorou-se no Canadá, onde
se tornou uma grande especialista na área de psiquiatria, com
dez livros e cerca de 140 artigos
científicos sobre psicofarmacologia e psicolingüística. Não é
filiada a nenhum partido político da Letônia, embora tenha
afinidades com o bloco conservador.
Texto Anterior: Estudo indica aumento de gasto militar Próximo Texto: Iraquiano é condenado em Londres pela morte de filha que amava iraniano Índice
|