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Irã vai hoje às urnas sob olhar do Ocidente
Washington aposta em derrota do presidente conservador Ahmadinejad para impulsionar sua reabertura diplomática
Não há pesquisas confiáveis, mas analistas ouvidos pela Folha acreditam em vitória do opositor Mousavi; religião
dominou debate eleitoral
Ben Curtis/Associated Press
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Iraniana passa por cartazes de Mahmoud Ahmadinejad (acima dela) e de seu principal adversário, Mir Hossein Mousavi, em Teerã
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
O Irã vai hoje às urnas em
eleições que o Ocidente acompanha com atenção na expectativa de que uma derrota do presidente conservador Mahmoud
Ahmadinejad impulsione a política de reabertura diplomática do governo Barack Obama,
que até aqui encontrou pouco
eco vindo de Teerã.
Segundo vários analistas ouvidos pela Folha, o candidato
reformista Mir Hossein Mousavi, 67, é o favorito para vencer hoje o primeiro turno das
eleições iranianas -se nenhum
candidato superar 50% dos votos haverá segundo turno na
sexta que vem. Além de Mousavi e Ahmadinejad, há outros
dois candidatos (veja quadro).
À falta de pesquisas confiáveis, os especialistas falam da
enorme campanha popular
-nas ruas e na internet - a favor de Mousavi e dos efeitos
combinados de inflação, alta no
desemprego e desaceleração
econômica por conta da queda
dos preços de petróleo.
Mas a maior ameaça ao favoritismo de Ahmadinejad, que
era tido como praticamente
reeleito até o mês passado
-desde a fundação da República Islâmica do Irã, em 1979, todos os presidentes se reelegeram-, é a divisão na liderança
religiosa do país.
Conservadores e reformistas
se atacaram como nunca antes,
e sobraram cobranças para que
o aiatolá Ali Khamenei, líder
supremo do país, intervenha.
Ontem, quando qualquer ato
de campanha foi proibido no
chamado dia de reflexão, abundavam boatos em Teerã sobre
consultas a Khamenei, que
controla as Forças Armadas, a
mídia estatal e o Poder Judiciário e que está acima do presidente na hierarquia nacional.
Falava-se de uma longa reunião de última hora com Khamenei do ex-presidente Akbar
Hashemi Rafsanjani (1989-1997) -desafeto de Ahmadinejad depois de ser acusado por
este de "ter se enriquecido com
a política".
Também se fala muito que
Ahmadinejad tentou uma última reunião, sem sucesso, com
Khamenei. Apesar da excitação
eleitoral que toma conta do
país, pouca gente acredita que
o resultado das urnas será mesmo respeitado se não tiver a
aprovação do líder supremo.
Interpretação religiosa
Para a gravidade da crise econômica, houve poucas respostas -propostas vagas pela oposição, defesa do atual estado
econômico por Ahmadinejad.
O isolamento externo do país e
questões culturais e religiosas
acabaram dominando os debates eleitorais.
"Concordo que há uma divisão em dois grandes grupos, os
aiatolás e clérigos que acham
que devemos estar fora da política e cuidar apenas da espiritualidade, e os que interpretam
que política e religião são uma
coisa só, que tem que fazer parte e seguir os preceitos religiosos", disse à Folha o aiatolá
Seyyed-Abbas Alamolhoda,
que dirige o Centro Científico-Religioso de Chizar.
"Entre os que querem participação na política, há outra divisão, os que preferem fazer a
justiça social e os que achamos
que o islã está em toda parte,
que tem uma aplicação prática
na vida e no cotidiano", diz.
Ahmadinejad pregou para o
lado mais conservador, defendendo políticas que premiam o
casamento para os mais jovens,
a prática de mais filhos no interior e a repressão reforçada a
qualquer liberdade feminina.
Ele reafirmou que "defende a
Revolução Islâmica" ao comprar briga com diversos países
e negar o Holocausto.
Já Mousavi prometeu nomear ministras e embaixadoras se virar presidente, e, para
espanto dos conservadores,
apareceu em comícios de mãos
dadas com sua mulher. Criticou o isolamento do país e prometeu diálogo até com os EUA.
"No mundo inteiro há valores mudando, não só no islã",
diz Alamolhoda. "A obediência
das mulheres aos maridos e o
respeito aos pais estão em crise
em todo mundo."
Mousavi e Ahmadinejad só
não diferem sobre o programa
nuclear iraniano -ambos pretendem mantê-lo. EUA e Israel
acusam o Irã de estar tentando
desenvolver uma bomba atômica -Teerã nega e diz que o
programa só tem objetivos
energéticos.
Quarenta e seis milhões de
iranianos estão aptos a votar
-o voto não é obrigatório-, e o
organismo eleitoral espera recorde de comparecimento às
urnas. O maior número foi em
1997, na eleição do reformista
Mohammad Khatami, com
78% de comparecimento.
A empolgação da campanha
se traduz em números. O debate entre Ahmadinejad e Mousavi atraiu audiência de 45 milhões de pessoas - o país tem
66 milhões de habitantes.
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