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ANÁLISE
Eleições são quebra-cabeça para o mundo
ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES"
O mundo vem mantendo um
silêncio notável em torno da
eleição no Irã. Nos EUA e na
Europa, as autoridades não se
arriscam a prever o resultado.
O silêncio é a política mais
segura, porque nenhum candidato iraniano quer ser conhecido como o favorito do Ocidente. A experiência passada também impõe cautela. Em 2005,
alguns esperavam que o moderado Akbar Hashemi Rafsanjani vencesse o fundamentalista
Mahmoud Ahmadinejad.
A resposta pouco calorosa do
Irã até agora aos gestos de abertura dos EUA sugere que o país
esteja esperando para concluir
a eleição presidencial primeiro.
Mas por que a eleição tem tanta
importância, se perguntam autoridades ocidentais, se é o líder supremo Ali Khamenei
quem decide as questões de política externa?
A confusão ressalta um dilema mais amplo que Washington enfrenta ao tentar abrir canais de comunicação com um
inimigo com o qual não tem
contato formal há 30 anos.
"Se você ameaçar os iranianos, eles verão a coisa toda como armadilha. Se não perceberem pressão alguma, eles empacarão, e Obama acabará ficando com cara de tolo", observa Martin Indyk, diretor do
Centro Saban de Política do
Oriente Médio no Brookings
Institution. Enquanto os EUA
não encetam um diálogo real
com o Irã, acrescenta, "será difícil saber que rumo a coisa está
tomando, porque há tantas incógnitas".
Decifrar o sistema iraniano,
uma combinação de teocracia e
democracia, é um desafio. A
eleição presidencial é competitiva, mas também, em parte,
encenada: há instituições que
eliminam os candidatos que
não forem considerados suficientemente islâmicos. E há
votos organizados -de milícias
islâmicas e da Guarda Revolucionária, de elite- que geralmente atendem aos desejos de
Khamenei.
Mas mesmo quando todos os
votos organizados são favoráveis a um candidato, seu rival
pode ganhar. Foi o caso em
1997, com a vitória do reformista Mohammad Khatami. É esse
tipo de surpresa que os reformistas esperam operar em prol
de Mir Hossein Mousavi.
E há também o potencial de
fraude eleitoral -não fraude
em escala maciça, porque o regime vê as eleições como maneira de se legitimar, mas pequenos ajustes que poderiam
fazer uma diferença grande no
primeiro turno da eleição.
Para o Ocidente, uma derrota
de Ahmadinejad representaria
um enorme avanço, aliviando a
ansiedade em torno das ambições nucleares do Irã e garantindo um interlocutor mais
aceitável aos EUA.
Mas, se a abertura diplomática dos EUA não produzir resultados, conseguir apoio internacional para a adoção de medidas punitivas seria dificultado
com um presidente iraniano
reformista e moderado.
Como diz Jon Alterman, do
Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, "é mais fácil manter
uma coalizão contra um presidente militarista do que contra
um que destaca a importância
do diálogo".
Tradução de CLARA ALLAIN
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