São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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Turco quer 3º mandato com mais poder

Favorito na eleição de hoje, premiê Erdogan busca "supermaioria" para mudar Constituição sem referendo

Inspirada no islã, sigla governista AK é acusada pela oposição de ter agenda oculta para se perpetuar no governo

1.06.10 - AssociatedPress
Simpatizantes do premiê Erdogan marcham na cidade de Diyarbaki, no sudeste do país

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Embalado pelo carisma do premiê Recep Tayyip Erdogan e sobretudo pela aceleração econômica do país, o islamista Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AK) caminha rumo a um terceiro mandato consecutivo na eleição de hoje na Turquia.
Todas as pesquisas indicam que a vitória do partido governista é líquida e certa. Mas Erdogan quer mais poder, o que desperta temores de uma guinada autoritária.
A meta, que foi uma das locomotivas da campanha, é alcançar a "supermaioria" no Parlamento, que permita ao governo reformar a Constituição sem a necessidade de convocar um referendo.
Apontada por muitos como modelo para a Primavera Árabe, por sua capacidade de conciliar democracia e islã, a Turquia de Erdogan deixou para trás os anos de instabilidade econômica e consolidou-se como potência regional e peça-chave no diálogo Ocidente-Oriente.
"A economia vai bem e passou sem problemas pela crise de 2008 e 2009", diz o analista Ekrem Eddy Güzeldere. "Além disso, Erdogan é o candidato mais carismático e tem experiência de sobra em campanhas."
O bom desempenho econômico é reconhecido pela maioria dos turcos, que não esquecem os dias de hiperinflação do período pré-Erdogan. Em 2010, a economia turca cresceu 8,9% e a renda per capita triplicou, chegando a US$ 10.079 (R$ 16.126).
Aliado ao discurso conservador, com tom religioso, o sucesso econômico fortaleceu o apoio do governo entre as camadas mais pobres.

POLÍTICA EXTERNA
A política externa também mudou. Entre muitos eleitores, Erdogan leva o crédito pela abertura das negociações para a entrada da Turquia na União Europeia, em 2005, e por esvaziar o poder dos militares, trocando a segurança por engajamento nas relações diplomáticas.
Sob o lema "zero problema com os vizinhos", o país se aproximou de Irã, Iraque e Síria, ganhando influência regional, mas criando tensões com Israel e Estados Unidos, tradicionais aliados.
A Primavera Árabe poderá forçar a Turquia a nova virada, dadas as críticas de Erdogan à brutal repressão da Síria aos protestos contra o ditador Bashar Assad.
Em seus comícios, Erdogan prometeu colocar o país entre as dez maiores economias do mundo até 2023, ano em que será celebrado o centenário da República turca.
Para a oposição, porém, o uso do slogan "Uma visão para 2023" na campanha do AK é mais um sinal da arrogância de Erdogan e de sua intenção de mudar a Constituição para manter-se no poder até o centenário -e além.
Mesmo os opositores concordam com a necessidade de reformar a ultrapassada Constituição do país, ratificada pela junta militar por trás do golpe de 1980.
Erdogan diz que sua intenção é tornar a Constituição mais democrática, livrando-a do autoritarismo dos tempos de regime militar.
Mas, num país marcado por tensões entre secularistas e islamistas e um histórico de pressão a jornalistas -mais de 60 estão presos-, a ideia de dar luz verde para que o premiê reforme a Carta Magna é vista com receio.
A supermaioria almejada por Erdogan -dois terços do Parlamento ou mais- deve esbarrar nessa polarização.
"Todos concordam que é preciso uma nova Constituição", diz Serap Yazici, da Universidade Bilgi, em Istambul. "Mas as desconfianças de diferentes grupos sociais impedem o consenso."


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