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África também é culpada por seus males, diz Obama
Presidente diz ser "fácil" atacar colonialismo, mas que corrupção deve ser combatida
Em discurso em Gana, líder dos EUA elogia democracia, sociedade civil e economia locais e diz que país deve servir de exemplo à região
DA REDAÇÃO
Em um discurso no Parlamento de Gana, uma das poucas democracias estáveis na
África subsaariana, o presidente dos EUA, Barack Obama, filho de um africano do Quênia,
disse ontem que a pobreza, a
corrupção e os conflitos nos
países da região não podem ser
creditados apenas ao colonialismo europeu e que os governos locais também devem ser
responsabilizados.
"É fácil apontar responsáveis
e colocar a culpa por esses problemas em outros. Sim, um mapa colonial que fazia pouco sentido gerou conflitos, e o Ocidente tem frequentemente lidado com a África como um patrão, e não como um parceiro",
ele disse.
Mas não são os países colonizadores, continuou, os culpados "pela destruição da economia do Zimbábue na última década" (o país tem o maior índice de inflação do mundo), por
"guerras em que crianças são
recrutadas como soldados" ou
pelas frequentes práticas de
corrupção na África.
Obama instou os países africanos a serem menos corruptos
e mais democráticos, afirmando que esse é o único caminho
para que a região possa superar
seus problemas e se tornar
mais próspera. "A África não
precisa de líderes fortes, mas de
instituições sólidas", declarou.
Como havia feito no discurso
ao mundo islâmico, no Egito,
há um mês, o presidente dos
EUA procurou chamar atenção
para elementos de união entre
o seu país e os interlocutores.
Nos dois casos, ele usou a si
próprio como exemplo.
Aos muçulmanos, lembrou
seu nome do meio, "Hussein".
Ontem, declarou: "Tenho o
sangue da África em mim. Meu
avô foi cozinheiro para os britânicos no Quênia".
Ele ressaltou que "o futuro da
África depende dos africanos",
e adaptou o seu mote de campanha, para afirmar: "Sim, vocês podem". "O desenvolvimento depende de bons governos. Esse é o ingrediente que
tem faltado em muitos lugares,
por muito tempo. Essa é a mudança que pode destravar o potencial africano."
Exemplos
Obama, que foi recebido com
festa nas ruas para sua curta visita a Gana, de menos de 24 horas, disse que "nenhum país
criará riqueza se seus líderes
explorarem a economia para
seu próprio enriquecimento,
ou se a polícia puder ser comprada por traficantes".
"Nenhuma empresa quer investir num lugar em que o governo fique com 20% [do lucro
de seus negócios], ou onde as
autoridades portuárias sejam
corruptas. Nenhuma pessoa
quer viver numa sociedade em
que o Estado de Direito dá a vez
ao poder da brutalidade e da
corrupção. Isso não é democracia, isso é tirania, e agora é a hora de que isso chegue ao fim."
Ele também louvou Gana como um bom exemplo para o
continente, dizendo que o país
mostra "uma face da África que
é frequentemente ignorada por
um mundo que vê na região
apenas tragédias e a necessidade de caridade".
"O povo de Gana trabalhou
duro para consolidar sua democracia, com transferências
de poder pacíficas. Com um governo melhor e a emergência
da sociedade civil, a economia
tem mostrado impressionantes
índices de crescimento."
Outro exemplo mencionado
por Obama foi o dos negros
americanos, que conseguiram
ser bem sucedidos "em todos os
setores da sociedade" por causa
de instituições fortes, ele disse.
Antes de seu discurso, os parlamentares locais o saudaram
com gritos de "yes, we can"
("sim, nós podemos"), lema de
campanha do americano.
Ontem ainda, ao final de sua
viagem ao país, Obama visitou
um forte local de onde africanos eram embarcados como cativos para a América. Sua mulher, Michelle, é descendente
de escravos.
Com agências internacionais
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