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Republicanos inventam "novo Reagan"
Mesmo antes de anunciar candidatura, o ator Fred Thompson já é o segundo nas pesquisas, encostado em Giuliani
Promotor do seriado "Law & Order" surge como portador de atributos para fazer frente aos democratas na corrida pela Casa Branca
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Ele fez suas campanhas cortando o Estado a bordo de uma
picape vermelha, muito antes
de o venezuelano Hugo Chávez
tornar internacional seu fuscão
encarnado. Ele aparece no filme "JFK", de Oliver Stone, não
como ator, mas nas cenas de
época -era advogado e participava da Comissão Watergate,
que investigou Richard Nixon.
Está em segundo lugar nas
pesquisas de intenção de voto
dos republicanos, atrás apenas
de Rudolph Giuliani, mesmo
sem ter anunciado oficialmente que vai concorrer à indicação
do partido da situação para suceder George W. Bush na Presidência em 2008. De quebra, pode ser visto nas TVs do mundo
inteiro (no Brasil, no canal a cabo Universal) em 115 episódios
do seriado "Law & Order", em
que interpreta o promotor distrital Arthur Branch.
Fred Thompson, que completa 65 anos no próximo domingo, pode ser a salvação dos
republicanos: é branco, conservador, do Sul (nasceu no Alabama e fez sua carreira no Tennessee, Estado pelo qual foi senador de 1994 a 2003) e se
apresenta como o homem "de
fora" da turma de Washington
que dará um jeito no país.
Antes dele, outro ator prometeu fazer o mesmo. Era Ronald Reagan, que comandou os
EUA de 1981 a 1989. Não à toa,
Thompson está sendo embalado pelos estrategistas do partido como o "novo Reagan". O
próprio ex-senador alimenta as
comparações. Não é raro dizer
que "é apenas mais um rostinho bonito de Hollywood", frase dita antes por Reagan.
Mais: acaba de contratar o
coordenador de campanha do
ex-presidente para comandar a
sua. "Depois de dois anos em
Washington, sinto falta do realismo e da sinceridade de
Hollywood", afirmou à imprensa recentemente.
Sua tática tem fundamento.
Os republicanos estão patinando atrás da liderança democrata na corrida presidencial, que
tem em Hillary Clinton a favorita disparada, com 41% das intenções de voto -quase o dobro dos 21% do novato senador
Barack Obama, colega de partido- e mais de US$ 50 milhões
para gastar.
No campo oposto, Rudolph
Giuliani, ex-prefeito de Nova
York, lidera com 33%, mas está
embolado com Thompson
(22%) e John McCain (16%). Os
dois têm problemas. O ex-prefeito é considerado liberal demais pelas bases republicanas,
o que fica evidente quando o
corte da pesquisa são os Estados do Sul: ali Thompson pula
para 32% e Giuliani cai para
27%. Já McCain, o veterano senador do Arizona, depois de
uma sucessão de erros de julgamento, como visitar Bagdá e dizer que andou pelas ruas com a
segurança de quem está numa
cidade americana, vê as doações de campanha secarem,
primeiro sinal de que sua candidatura está ferida de morte.
O cabo eleitoral natural da situação, George W. Bush, é evitado como praga pela dezena de
pré-candidatos republicanos,
que procuram se descolar de
sua imagem e se aliar à do último presidente do partido com
índices positivos recordes, o
"homem que ganhou a Guerra
Fria", no dizer deles.
Coalizão instável
Daí Ronald Reagan. O ex-presidente foi o nome mais citado em todos os debates republicanos até agora. "Bush" vem
quase na lanterna, atrás de palavras como "terrorismo" e
"Iraque". "Muito foi dito sobre
se Fred Thompson é ou não o
segundo Ronald Reagan, e eu
acho que ele não é", escreveu o
autor conservador Mark Joseph. "Mas também acho que
está se tornando cada vez mais
claro que a estranha coalizão
construída por Reagan entre
conservadores fiscais, falcões
da defesa, libertários, evangélicos e operários democratas
conservadores está prestes a
desabar, a não ser que Fred
Thompson a reinvente."
O ex-senador e ator sulista
"tem o fator celebridade dos filmes de TV e do cinema que lhe
dá aquele algo a mais que Giuliani também tem", disse à Folha o advogado e radialista Steve Gill, autor de uma biografia
de Fred Thompson (leia entrevista nesta página). "Ao contrário do ex-prefeito, no entanto,
ele tem credenciais conservadoras suficientes para torná-lo
elegível para as bases."
Não que tudo sejam pétalas
na ascensão de Thompson. Do
alto de seu 1,98 m de altura e de
uma calva cada vez mais evidente, o homem que interpretou um almirante em "A Caçada ao Outubro Vermelho"
(1990) e o chefe da Casa Civil
em "Na Linha de Fogo" (1993)
vê a oposição enfileirar as primeiras pedras.
Uma delas é o papel de lobista que desempenhou por 20
anos em Washington. Numa
das ocasiões, trabalhou a soldo
de entidades pró-aborto. E
existe a questão da segunda
mulher, uma loira platinada 25
anos mais nova que ele e que
quer comandar sua campanha.
E sua corrida nem começou...
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