São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Republicanos inventam "novo Reagan"

Mesmo antes de anunciar candidatura, o ator Fred Thompson já é o segundo nas pesquisas, encostado em Giuliani

Promotor do seriado "Law & Order" surge como portador de atributos para fazer frente aos democratas na corrida pela Casa Branca

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Ele fez suas campanhas cortando o Estado a bordo de uma picape vermelha, muito antes de o venezuelano Hugo Chávez tornar internacional seu fuscão encarnado. Ele aparece no filme "JFK", de Oliver Stone, não como ator, mas nas cenas de época -era advogado e participava da Comissão Watergate, que investigou Richard Nixon.
Está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto dos republicanos, atrás apenas de Rudolph Giuliani, mesmo sem ter anunciado oficialmente que vai concorrer à indicação do partido da situação para suceder George W. Bush na Presidência em 2008. De quebra, pode ser visto nas TVs do mundo inteiro (no Brasil, no canal a cabo Universal) em 115 episódios do seriado "Law & Order", em que interpreta o promotor distrital Arthur Branch.
Fred Thompson, que completa 65 anos no próximo domingo, pode ser a salvação dos republicanos: é branco, conservador, do Sul (nasceu no Alabama e fez sua carreira no Tennessee, Estado pelo qual foi senador de 1994 a 2003) e se apresenta como o homem "de fora" da turma de Washington que dará um jeito no país.
Antes dele, outro ator prometeu fazer o mesmo. Era Ronald Reagan, que comandou os EUA de 1981 a 1989. Não à toa, Thompson está sendo embalado pelos estrategistas do partido como o "novo Reagan". O próprio ex-senador alimenta as comparações. Não é raro dizer que "é apenas mais um rostinho bonito de Hollywood", frase dita antes por Reagan.
Mais: acaba de contratar o coordenador de campanha do ex-presidente para comandar a sua. "Depois de dois anos em Washington, sinto falta do realismo e da sinceridade de Hollywood", afirmou à imprensa recentemente.
Sua tática tem fundamento. Os republicanos estão patinando atrás da liderança democrata na corrida presidencial, que tem em Hillary Clinton a favorita disparada, com 41% das intenções de voto -quase o dobro dos 21% do novato senador Barack Obama, colega de partido- e mais de US$ 50 milhões para gastar.
No campo oposto, Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, lidera com 33%, mas está embolado com Thompson (22%) e John McCain (16%). Os dois têm problemas. O ex-prefeito é considerado liberal demais pelas bases republicanas, o que fica evidente quando o corte da pesquisa são os Estados do Sul: ali Thompson pula para 32% e Giuliani cai para 27%. Já McCain, o veterano senador do Arizona, depois de uma sucessão de erros de julgamento, como visitar Bagdá e dizer que andou pelas ruas com a segurança de quem está numa cidade americana, vê as doações de campanha secarem, primeiro sinal de que sua candidatura está ferida de morte.
O cabo eleitoral natural da situação, George W. Bush, é evitado como praga pela dezena de pré-candidatos republicanos, que procuram se descolar de sua imagem e se aliar à do último presidente do partido com índices positivos recordes, o "homem que ganhou a Guerra Fria", no dizer deles.

Coalizão instável
Daí Ronald Reagan. O ex-presidente foi o nome mais citado em todos os debates republicanos até agora. "Bush" vem quase na lanterna, atrás de palavras como "terrorismo" e "Iraque". "Muito foi dito sobre se Fred Thompson é ou não o segundo Ronald Reagan, e eu acho que ele não é", escreveu o autor conservador Mark Joseph. "Mas também acho que está se tornando cada vez mais claro que a estranha coalizão construída por Reagan entre conservadores fiscais, falcões da defesa, libertários, evangélicos e operários democratas conservadores está prestes a desabar, a não ser que Fred Thompson a reinvente."
O ex-senador e ator sulista "tem o fator celebridade dos filmes de TV e do cinema que lhe dá aquele algo a mais que Giuliani também tem", disse à Folha o advogado e radialista Steve Gill, autor de uma biografia de Fred Thompson (leia entrevista nesta página). "Ao contrário do ex-prefeito, no entanto, ele tem credenciais conservadoras suficientes para torná-lo elegível para as bases."
Não que tudo sejam pétalas na ascensão de Thompson. Do alto de seu 1,98 m de altura e de uma calva cada vez mais evidente, o homem que interpretou um almirante em "A Caçada ao Outubro Vermelho" (1990) e o chefe da Casa Civil em "Na Linha de Fogo" (1993) vê a oposição enfileirar as primeiras pedras.
Uma delas é o papel de lobista que desempenhou por 20 anos em Washington. Numa das ocasiões, trabalhou a soldo de entidades pró-aborto. E existe a questão da segunda mulher, uma loira platinada 25 anos mais nova que ele e que quer comandar sua campanha. E sua corrida nem começou...


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