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Consumo de leite na China afeta tradição européia
Franceses reclamam do preço de queijos e iogurtes; aumento atinge toda a UE
Pouco rentável no passado, leite virou bom negócio para os produtores europeus, mas os consumidores sentem os efeitos no bolso
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A recente mudança dos hábitos alimentares dos chineses
provocou uma guinada nos preços do leite e de produtos lácteos na União Européia. Mas a
novidade, uma boa notícia para
os pecuaristas europeus, já inquieta os consumidores.
Impulsionada pelo vigoroso
crescimento econômico, a China vê explodir a demanda do
consumo de proteínas e de leite, artigos raros nas mesas chinesas até os anos 90. "Tenho o
sonho de fornecer a cada chinês, especialmente às crianças,
doses diárias de leite", declarou
recentemente Wen Jiabao, primeiro-ministro da China.
O apetite voraz por esse tipo
de alimento na China foi responsável pelo crescimento de
13,46% no consumo do produto
no ano passado -e nenhum
mercado no mundo tem um dinamismo tão grande e tanta influência nas exportações da
União Européia, o maior produtor mundial de leite.
"Essa alta dos preços do leite
está alinhada a uma alta generalizada dos preços das commodities. O leite está no topo
da cadeia da pecuária, logo os
aumentos de grãos e de outros
produtos para a alimentação
animal têm um impacto direto
nos preços do setor leiteiro",
diz Kona Haque, economista-chefe da Economist Intelligence Unit. Por trás da explosão
das cotações de commodities
está a demanda chinesa. As importações da Índia e da Rússia
também têm sido relevantes.
Os altos preços fizeram ainda
outros mercados tradicionais
da Europa, como o Oriente Médio e o norte da África, aumentarem suas importações. Temerosos de altas ainda mais expressivas, muitos desses países
têm antecipado as compras de
laticínios da UE.
Além disso, o cenário internacional parece apontar para a
manutenção da alta dos preços
dos laticínios. Na avaliação da
economista da EIU, a expansão
da conversão de pastagens em
áreas para o cultivo de cana, soja e milho para a produção de
biocombustíveis em diversos
países deve manter a cotação
dos grãos em alta pelos próximos anos. A cadeia do leite deve
acompanhar a tendência.
Até no Brasil o produto está
ficando mais caro, embora aqui
a alta seja causada principalmente pelo aumento da demanda interna.
Camembert mais caro
Os consumidores europeus
já sentem no bolso os impactos.
A Danone, maior companhia
mundial de laticínios, a Nestlé e
a Unilever começaram a aumentar os preços dos produtos
no mês passado. A decisão provoca chiadeira na França, onde
queijos e iogurtes são itens básicos de alimentação.
"Falta 1 bilhão de litros de leite para atender à demanda do
mercado da UE", argumenta o
presidente da Alta (Associação
da Transformação Leiteira), associação sediada na França,
Olivier Picot.
Além de fatores externos, a
carência se deve também a um
forte crescimento interno do
consumo de queijos e de outros
derivados de leite nos últimos
quatro anos.
E, como se não bastasse, a
produção leiteira européia tem
encolhido. A safra 2006-2007
registrou os volumes mais baixos dos últimos 15 anos. Na
França, os pecuaristas vinham
preferindo se dedicar à pecuária de corte, até então mais rentável. Na Alemanha, maior produtor de leite da UE, os produtores trocaram a atividade pecuária pelo cultivo de cereais.
Hoje os preços do leite vivem
um boom, mas entre 2003 e
2006 a atividade viu as cotações internacionais despencarem, o que afugentou muitos
produtores. Analistas do setor
estimam que há, na França, um
déficit de pelo menos 100 mil
vacas leiteiras.
E, embora a alta de preços
beneficie os produtores de leite, nem todos estão entusiasmados: "Esse aquecimento pode causar problemas para os
empresários da indústria
agroalimentar", pondera Eric
Alain, do Ministério da Agricultura e da Pesca francês.
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