São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Pai que resgatou filhos no Líbano festeja, 1 ano depois

Riad Saifi percorreu sentido inverso ao dos que fugiam da guerra para reunir família

Libanês naturalizado brasileiro levou parentes para a Síria, mas voltou para casa no vale do Bekaa quando o conflito acabou

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Dia dos Pais comemorado hoje no Brasil é uma data especial para o médico Riad Ali Saifi, 43, que há pouco mais de um ano deixou o país para encontrar os filhos Mohath, 11, e Riana, 12, e a mulher Rudeina, 39, e tirá-los do Líbano, que era bombardeado durante conflito com Israel.
De volta a Sultan Yaakub, cidade na região central dos ataques, após uma fuga para a Síria para garantir a segurança da família, o libanês naturalizado brasileiro celebra o fato de poder passar o dia com os filhos, vivos, e com "certa paz"."A coisa acalmou aqui, mas a gente ainda tem medo. Estou feliz por termos voltado e por poder estar com eles hoje", diz.
Desde 1989, Saifi vive no Brasil e no Líbano, onde trabalha em uma clínica, e viaja constantemente entre os dois países. Ele diz que, apesar de não haver uma data comemorativa do Dia dos Pais no Líbano, este domingo é para ele oportunidade de dar ainda "mais carinho" aos filhos. "Nossa religião [muçulmana] ensina que deve haver muito respeito a pais e mães e carinho em todos os dias das nossas vidas. Hoje, pode ser ainda mais", diz Saifi, membro do Centro de Divulgação do Islã para a América Latina.
Saifi lembra que percorreu um longo caminho para resgatar a família. O começo de sua saga -noticiado pela Folha- foi em 16 de julho de 2006, quando o Líbano já era alvo de ataques havia quatro dias.
Com o bombardeio dos aeroportos, os vôos para o Líbano estavam cancelados. Boa parte dos brasileiros que estavam lá só pensava em voltar, mas o médico fez o caminho inverso: pegou um vôo de São Paulo para Damasco, na Síria.
Problemas na fronteira fizeram que Saifi só pudesse chegar ao Líbano três dias depois. Na viagem até o vale do Bekaa, presenciou o cenário da guerra. "As estradas estavam destruídas, os carros incendiados e as cidades em ruínas."
Ele diz que se emocionou ao ver a família. "Não é brincadeira atravessar um país em guerra e ver os filhos. Não dava para deixá-los aqui sozinhos."
Seu primeiro ato foi tirar os parentes de casa -suscetível a desastre em tremores causados por bombas por ser antiga-, e refugiá-los na garagem da casa de um irmão. Não bastou. O conflito perdurou e ele fugiu de carro com a família para a Síria. Tomou uma estrada pelo norte, pois outras vias haviam sido destruídas.
Saifi ficou em um hotel na cidade síria de Homs durante dez dias, mas seguiu viagem à capital Damasco para ficar perto da embaixada brasileira em caso de precisar regressar ao Brasil. Alugou um apartamento para o período de um mês, mas, com o fim dos ataques ao vale do Bekaa, ficou só por sete dias e voltou ao Líbano em meados de agosto.
O conflito entre Israel e o Hizbollah teve início em 12 de julho de 2006, quando o grupo radical xiita seqüestrou dois soldados israelenses. Um mês após o início do conflito que já causara pelo menos 864 mortos -a maioria no Líbano-, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução de cessar-fogo autorizando o envio de uma força de paz com 15 mil homens para o sul libanês.


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