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Pai que resgatou filhos no Líbano festeja, 1 ano depois
Riad Saifi percorreu sentido inverso ao dos que fugiam da guerra para reunir família
Libanês naturalizado brasileiro levou parentes para a Síria, mas voltou para casa no vale do Bekaa quando o conflito acabou
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Dia dos Pais comemorado
hoje no Brasil é uma data especial para o médico Riad Ali Saifi, 43, que há pouco mais de um
ano deixou o país para encontrar os filhos Mohath, 11, e Riana, 12, e a mulher Rudeina, 39, e
tirá-los do Líbano, que era
bombardeado durante conflito
com Israel.
De volta a Sultan Yaakub, cidade na região central dos ataques, após uma fuga para a Síria
para garantir a segurança da família, o libanês naturalizado
brasileiro celebra o fato de poder passar o dia com os filhos,
vivos, e com "certa paz"."A coisa acalmou aqui, mas a gente
ainda tem medo. Estou feliz
por termos voltado e por poder
estar com eles hoje", diz.
Desde 1989, Saifi vive no Brasil e no Líbano, onde trabalha
em uma clínica, e viaja constantemente entre os dois países.
Ele diz que, apesar de não haver
uma data comemorativa do Dia
dos Pais no Líbano, este domingo é para ele oportunidade de
dar ainda "mais carinho" aos filhos. "Nossa religião [muçulmana] ensina que deve haver
muito respeito a pais e mães e
carinho em todos os dias das
nossas vidas. Hoje, pode ser
ainda mais", diz Saifi, membro
do Centro de Divulgação do Islã
para a América Latina.
Saifi lembra que percorreu
um longo caminho para resgatar a família. O começo de sua
saga -noticiado pela Folha-
foi em 16 de julho de 2006,
quando o Líbano já era alvo de
ataques havia quatro dias.
Com o bombardeio dos aeroportos, os vôos para o Líbano
estavam cancelados. Boa parte
dos brasileiros que estavam lá
só pensava em voltar, mas o
médico fez o caminho inverso:
pegou um vôo de São Paulo para Damasco, na Síria.
Problemas na fronteira fizeram que Saifi só pudesse chegar ao Líbano três dias depois.
Na viagem até o vale do Bekaa,
presenciou o cenário da guerra.
"As estradas estavam destruídas, os carros incendiados e as
cidades em ruínas."
Ele diz que se emocionou ao
ver a família. "Não é brincadeira atravessar um país em guerra e ver os filhos. Não dava para
deixá-los aqui sozinhos."
Seu primeiro ato foi tirar os
parentes de casa -suscetível a
desastre em tremores causados
por bombas por ser antiga-, e
refugiá-los na garagem da casa
de um irmão. Não bastou. O
conflito perdurou e ele fugiu de
carro com a família para a Síria.
Tomou uma estrada pelo norte, pois outras vias haviam sido
destruídas.
Saifi ficou em um hotel na cidade síria de Homs durante
dez dias, mas seguiu viagem à
capital Damasco para ficar perto da embaixada brasileira em
caso de precisar regressar ao
Brasil. Alugou um apartamento para o período de um mês,
mas, com o fim dos ataques ao
vale do Bekaa, ficou só por sete
dias e voltou ao Líbano em
meados de agosto.
O conflito entre Israel e o
Hizbollah teve início em 12 de
julho de 2006, quando o grupo
radical xiita seqüestrou dois
soldados israelenses. Um mês
após o início do conflito que já
causara pelo menos 864 mortos -a maioria no Líbano-, o
Conselho de Segurança da
ONU adotou uma resolução de
cessar-fogo autorizando o envio de uma força de paz com 15
mil homens para o sul libanês.
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