São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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análise

Ação russa visa frear Saakashvili

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A natureza das operações militares russas na Geórgia sugere que Moscou tenta garantir um cordão de isolamento militar para as duas regiões separatistas que apóia no país. O problema dessa análise é a confiabilidade das informações, que dependem de duas máquinas de propaganda: a de Mikhail Saakashvili e a de Vladimir Putin. No que resta de mídia independente russa, não há muitas pistas. No reverso da moeda, se depender do que se lê nos "The New York Times" da vida, os russos vão incorporar a Geórgia, e a Otan tem que agir já.
Dito isso, duas ações reportadas indicam que os russos buscam estabelecer uma forma de inviabilizar as pretensões de Tbilisi sobre a Ossétia do Sul e a Abkházia. E, claro, destroçar sua viabilidade como candidata a membro da aliança militar ocidental.
A primeira foi a onda de ataques, desde sábado, desestruturando as Forças Armadas georgianas. A segunda, o ultimato para que a Geórgia abandone posições em torno da Abkházia e saia da posição que ocupa no encrave.
Enquanto isso, há relatos de que a Rússia tenha reforçado sua presença militar, oficialmente sancionada a 2.500 soldados de força de paz, na Abkházia. Esse movimento já havia sido detectado, mas agora começa a fazer sentido a teoria de que Moscou já tinha todo um plano para imobilizar a Geórgia mesmo antes do ataque de Tbilisi à Ossétia do Sul.
Haveria cerca de 9.000 soldados russos no local, mais blindados. A região já é autônoma, adota o rublo russo como sua moeda, e o reforço é um sinal expressivo do que Moscou quer para a região.
Segundo essa leitura, fica claro que o Kremlin conta com os limites da retórica do Ocidente -e sua hipocrisia, já que os EUA são os primeiros a não respeitar "fronteiras nacionais soberanas e internacionalmente reconhecidas", como Iraque e Kosovo atestam.
Assim, é previsível que as ações militares russas se mantenham por mais alguns dias, para que esteja garantida a esterilização militar da Geórgia. Aí, usa-se alguma desculpa diplomática para calar os canhões e restabelecer o status quo favorável à Rússia.
Ao optar pela operação de guerra aberta, o Kremlin mostrou todas as suas cartas. EUA e parte da União Européia chiam, mas pouco têm a fazer, já que não levaram às vias de fato o namoro com a Geórgia. Resta saber se Saakashvili sobrevive, politicamente ao menos, e como será a natureza dos futuros embates do Ocidente no antigo espaço soviético.


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