São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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CINEMA

Realidade foi além da imaginação

Nova York já foi atacada por alienígenas, por gorilas gigantescos e por terroristas, mas nunca com tanto impacto sobre os espectadores

DA REDAÇÃO

Ataques como os de ontem acontecem pelo menos uma vez a cada verão. Mas até agora assustavam apenas as platéias de cinema. Os capitalistas de Hollywood, armados até os dentes de efeitos especiais, se comprazem ano a ano em destruir seu querido país com realismo cada vez maior.
Talvez não muita gente lembre, pois não se tratava de um "blockbuster", mas em 1981, um avião arremeteu contra o World Trade Center, em "Fuga de Nova York".
Quinze anos depois, em 1996, foi possível ver multidões fugindo em pânico enquanto as naves alienígenas de "Independence Day" destroçavam os mais sofisticados engenhos da arquitetura humana, como se fossem de papelão.
No mesmo ano, os monstrinhos de "Marte Ataca!" não faziam por menos e espalhavam a destruição. Em 2001, foi a vez de Pearl Harbor ser destruída. Agora não era imaginação -reconstituía-se um fato, mas o impacto nem por isso foi menor, nem menor o desespero dos militares pegos de surpresa pela aviação japonesa.
Não é de hoje que a imagem de grandes desastres alimenta a imaginação dos frequentadores de cinema. Em 1933, um enorme gorila chegou ao topo do Empire States Building, levando nas mãos a mocinha por quem se apaixonara. Em 1953, George Pal, mestre dos efeitos especiais, mostraria as forças de Marte atacando Los Angeles impiedosamente, na versão cinematográfica de "A Guerra dos Mundos", de H.G. Wells.
Antes, aliás, de chegar ao cinema, "A Guerra dos Mundos" fez história. Em 1938, o realismo da versão radiofônica de Orson Welles levou o pânico aos EUA.
Os anos 70 consagraram o "filme catástrofe". O incêndio de um grande arranha-céu constituía o "plot" de "Inferno na Torre" (1974). "Aeroporto" (1970) mostrava as agruras dos tripulantes e passageiros de um Boeing ameaçado de explosão por um insano.
Os desastres também podiam ser no mar, como em "O Destino do Poseidon" (1972), em que um grande navio vira como se fosse um barco de brinquedo, sob o impacto de uma onda gigantesca.
Será preciso lembrar de "Titanic" (1997)? A história real aconteceu em 1912: o Titanic era o navio que, segundo seus construtores, nem Deus poderia afundar. Má aposta perdida: sucumbiu a um mero iceberg.
O destino parece espreitar, caprichosamente, os homens que desafiam os desígnios divinos. Disso nos lembra "O Homem que Viu o Amanhã" (1981). Ali algo terrível é enunciado: "Na cidade de Deus haverá um grande trovão, dois irmãos serão separados pelo Caos. Enquanto a fortaleza resistir, o grande líder sucumbirá. A terceira grande guerra começará enquanto a grande cidade estiver em chamas".
Era só um desses filmes feitos para explorar os terrores de fim de milênio, servindo-se da mística de Nostradamus e do prestígio de Orson Welles (esse grande mistificador). Nessa altura, mais vale começar a torcer para que Nostradamus esteja errado. (IA)

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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