São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula já espera triunfo de Bush e prevê cenário positivo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Bush é melhor para o Brasil. Em conversas reservadas, foi assim que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva resumiu as últimas avaliações que recebeu do Itamaraty dando conta de que aumentaram as chances de reeleição do atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.
Em público, a posição de Lula e do Itamaraty é de neutralidade em relação às chances do republicano Bush e do candidato do Partido Democrata, John Kerry, na eleição marcada para novembro. Mas já se trabalha no Palácio do Planalto com o cenário de que é mais provável a recondução de Bush para novo mandato de quatro anos.

Concessões econômicas
A posição de Lula tende a contrariar seus correligionários mais à esquerda no PT, incansáveis críticos do que classificam de ""imperialismo" da era Bush.
O primeiro argumento de Lula e auxiliares para considerar Bush "melhor para o Brasil" é o de que ele poderá fazer mais concessões econômicas ao país do que o democrata Kerry. Historicamente, republicanos demonstraram menos pendor "protecionista". Nos últimos anos, essa diferença diminuiu muito.
Mas Lula acha que conquistou boa relação pessoal com Bush em diversos encontros e que isso é um trunfo político com possibilidade de trazer eventual ganho econômico. Com Kerry, o presidente começaria uma relação da estaca zero.
Lula crê que muito da dureza de Bush na negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) se deve ao momento eleitoral. Acredita que, uma vez reeleito, Bush poderá flexibilizar a negociação com o Brasil.
Essa avaliação prospera na ala do Itamaraty tida como mais nacionalista, representada pelo pensamento do secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães.

Contraponto sul-americano
Paradoxalmente, a política externa agressiva de Bush é vista como vantajosa para o posicionamento de Lula no mundo como uma espécie de contraponto do subcontinente sul-americano. O atual presidente dos EUA não tem se importado, aparentemente, com demonstrações explícitas de Lula para marcar diferença com ele em relação aos mecanismos de combate ao terrorismo.
Já Kerry, que tem posição mais similar à de Lula ao pregar um retorno ao multilateralismo nas decisões da ONU, é uma incógnita.
Em 2003, na 58ª Sessão de Abertura da Assembléia Geral da ONU, Lula fez um discurso notadamente anti-Bush, condenando a invasão do Iraque, ocorrida naquele ano. Nessa assembléia, o presidente da França, Jacques Chirac, com discurso semelhante ao de Lula, apoiou, por exemplo, iniciativas do petista para criar um fundo mundial de combate à pobreza.
Com Kerry, Lula poderia perder o discurso. No final das contas, Bush não deu nem dá importância à posição brasileira sobre o Iraque e o combate ao terrorismo. Os EUA invadiram o Iraque sem o apoio formal da ONU.
Obviamente, a eleição de Kerry não é vista como particularmente ruim para o Brasil. É que Lula acha "Bush melhor" para a continuidade da política externa que tem praticado. Os democratas, por exemplo, têm uma ligação forte com os sindicatos norte-americanos, um público com laços com Lula e o petismo.
Essa ligação poderia trazer ganhos políticos a Lula, apesar da avaliação de que a guerra pela manutenção de postos de trabalho nos EUA encontrará mais suporte em Kerry do que em Bush.

Texto Anterior: Presidente está na frente em todos os temas
Próximo Texto: Panorâmica - Grécia: Helicóptero cai com patriarca de Alexandria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.