São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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11/9 - CINCO ANOS DEPOIS

"Guerra ao terror é luta por civilização"

Em discurso que politiza aniversário de atentados, Bush envia mensagens a Irã e democratas; Al Qaeda promete mais ataques

Líder dos EUA afirma lutar "para manter modo de vida desfrutado por nações livres'; 45% dos americanos culpam governo pelo 11/9

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Depois de passar grande parte das cerimônias do aniversário de cinco anos do 11 de Setembro calado, George W. Bush decidiu partir para o confronto verbal. Para o presidente norte-americano, a chamada "guerra ao terror" é uma "luta por civilização", segundo diria em discurso em rede nacional às 21h locais (22h de Brasília) ontem, do qual a Casa Branca distribuiu trechos aos jornalistas em Washington no final da tarde.
"Essa luta foi chamada de choque de civilizações", diria ele. "Na verdade, é uma luta por civilização. Estamos lutando para manter o modo de vida desfrutado por nações livres. Estamos lutando pela possibilidade de que pessoas boas e decentes no Oriente Médio ergam sociedades baseadas em liberdade, tolerância e dignidade."
Politizando a data do ataque terrorista, Bush manda recados tanto a inimigos externos -o Irã- quanto internos -a oposição democrata, que defende a retirada gradual do Iraque.
"Se não derrotarmos esses inimigos agora, nós deixaremos para nossos filhos um Oriente Médio dominado por Estados terroristas e ditadores radicais com armas nucleares", diria, sobre o primeiro. "Ganhar essa guerra exigirá o esforço e a determinação de um país unido. Devemos por de lado nossas diferenças e trabalhar juntos para esse teste que a História nos deu", falaria, aos segundos.
Candidata à reeleição ao Senado, a ex-primeira-dama Hillary Clinton disse que o país "não está seguro". "Temos de tornar nossas fronteiras, portos, ferrovias e sistemas de trânsito mais seguros do que são hoje. O que vejo é que Nova York continua o alvo número um dos terroristas", afirmou.
Nas últimas semanas, republicanos e democratas partiram para o confronto, e o presidente retomou o tema da "guerra ao terror" amparado por pesquisas que apontam que o assunto dominará a atenção na eleição legislativa de novembro. Em oito discursos, defendeu sua política externa, especialmente a invasão do Iraque.
Pesquisa divulgada ontem pelo Gallup, no entanto, mostra que a estratégia ainda não deu resultado. Os norte-americanos que culpam o governo pelo 11 de Setembro subiram de 32% para 45% em quatro anos.

Al Qaeda
A lembrar que Osama Bin Laden segue vivo e solto, sua organização terrorista fez ontem novas ameaças aos EUA e países aliados. Em nova gravação divulgada pelas redes de TV Al Jazira (Qatar) e CNN, Ayman al Zawahiri, segundo na hierarquia da Al Qaeda, afirma que ações semelhantes àquelas que puseram abaixo o World Trade Center "estão em curso".
A efeméride dos atentados causou uma série de transtornos no país. Em Nova York, a Penn Station, estação de trem e metrô em que circulam mais de 500 mil passageiros por dia, foi esvaziada por suposta ameaça de bomba. Um pacote, que depois se descobriu conter apenas objetos pessoais, foi abandonado no saguão.
Um vôo da United Airlines que de Atlanta a São Francisco foi desviado porque um celular escorregou da primeira classe para a econômica. Ninguém reivindicou o aparelho. Em Los Angeles, um prédio da concessionária de telefonia AT&T foi esvaziado, e uma pessoa foi hospitalizada ao ser intoxicada por fumaça, de origem ainda não identificada. Também na Califórnia, outro pacote suspeito, numa locadora de automóveis, fez com que o aeroporto fosse fechado aos carros.
Em Nova York, no local onde ficavam as Torres Gêmeas, um rufar de tambores, seguido por um minuto de silêncio, deu início à cerimônia oficial do aniversário dos ataques às 8h40, com a presença de Bush, do governador George Pataki, do prefeito Michael Bloomberg e de seu antecessor, Rudolph Giuliani. Às 8h46, outro minuto de silêncio. Nessa hora, cinco anos antes, o primeiro avião atingia a torre norte do WTC.
O mesmo silêncio foi repetido às 9h03, às 9h59 e às 10h29, em referência aos momentos em que que a torre sul foi atacada e aos instantes em que os prédios ruíram. As pausas eram entrecortadas por viúvas e viúvos que leram os nomes das 2.749 pessoas mortas no local.


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