São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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Hamas faz acordo com Fatah, mas não reconhece Israel

Palestinos aprovaram criação de governo de união nacional; ainda existe ceticismo quanto à implementação da medida

Costurado durante mais de dois meses, entendimento visa reduzir o isolamento palestino e reativar o fluxo de doações estrangeiras

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, anunciou ontem ter chegado a um acordo com o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, para a formação de um governo de união nacional.
O entendimento, que vem sendo costurado há mais de dois meses, visa reduzir o isolamento dos palestinos e permitir o reinício do fluxo de doações estrangeiras, congelado desde março, quando o grupo Hamas, de Haniyeh, assumiu o poder. De ideologia islâmica -o Fatah, de Abbas, é secular-, o Hamas foi responsável por dezenas de ações terroristas contra civis israelenses.
"Nós finalizamos os elementos da agenda política do governo de união", afirmou Abbas, sentado ao lado de Haniyeh, em um pronunciamento transmitido pela TV palestina. "Espero que nos próximos dias nós comecemos o governo de união nacional."
A agenda política conjunta, porém, não deverá incluir o reconhecimento de Israel por parte do Hamas e o abandono da luta armada, condições para a suspensão do boicote internacional ao governo palestino.
"As linhas de qualquer agenda política não prejudicarão a legitimidade da resistência contra a ocupação israelense", disse Haniyeh. A Chancelaria israelense reagiu com ceticismo ao acordo. O governo dos EUA declarou que só comentará quando tiver mais detalhes.
Um assessor de Abbas disse ontem que o gabinete controlado pelo Hamas seria declarado interino em 48 horas. Membros do grupo islâmico afirmaram que o Hamas insiste em que Haniyeh permaneça como premiê.

Boicote
Embora tenha conquistado o poder por meio de eleições livres, em surpreendente vitória sobre o Fatah de Abbas, o governo do Hamas passou a ser boicotado pela União Européia e os EUA, principais doadores internacionais e responsáveis por metade do orçamento palestino, por sua recusa em reconhecer o direito de existência de Israel.
Um mecanismo de ajuda foi criado há três meses pelo Quarteto para o Oriente Médio (União Européia, EUA, Rússia e ONU) para enviar ajuda sem passar pelo Hamas, mas ela tem sido insuficiente para resolver a grave crise humanitária em que o isolamento e o boicote mergulharam os territórios palestinos.
Os funcionários públicos estão há seis meses sem receber e, com o cerco militar israelense, o desemprego é crônico.
UE e EUA já afirmaram que aceitam trabalhar com um governo de união nacional palestino e retomar o envio de ajuda se ele cumprir três condições: reconhecer Israel, renunciar à violência e aceitar acordos de paz já assinados pela ANP.

Prisioneiros
O acordo de conciliação palestino tem como base um documento elaborado há três meses por militantes das duas facções presos em Israel.
Entretanto, no dia 25 de junho, data marcada para Abbas e Haniyeh oficializarem o entendimento, radicais palestinos seqüestraram um soldado israelense, o que provocou uma maciça retaliação militar contra os territórios palestinos.
O cerco israelense ao Hamas, além de ataques que já mataram mais de 200 pessoas, também incluiu a prisão de vários políticos do grupo islâmico, entre eles ministros e o presidente do Parlamento. Apesar da pressão, o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, reiterou que a posição do grupo em relação a Israel continua inalterada. "Nós jamais reconheceremos a legitimidade da ocupação."
Não ficou claro em que medida o acordo Fatah-Hamas atenderá às três exigências da UE e dos EUA (que também são as de Israel). O chamado "documento dos prisioneiros" aceitava a coexistência de dois Estados lado a lado.


Com agências internacionais


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