São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Potências aceitam debater a nova proposta nuclear do Irã

EUA dizem querer "testar" se Teerã está disposta a entrar em negociações sérias

Iranianos apresentaram na última quarta-feira plano de diálogo que não menciona fim de enriquecimento de urânio pedido por Ocidente


DA REDAÇÃO

As grandes potências encarregadas de solucionar o impasse sobre o programa nuclear iraniano aceitaram ontem a última proposta de diálogo feita por Teerã -apesar de o Irã ter rejeitado suspender o seu enriquecimento de urânio.
O anúncio foi feito em Bruxelas pelo chefe da diplomacia da União Europeia, Javier Solana, mediador das conversas entre o Irã e o P5 + 1, grupo que reúne as cinco potências atômicas do Conselho de Segurança (CS) da ONU mais a Alemanha.
A decisão foi reforçada horas depois pela Casa Branca, refletindo a estratégia do presidente Barack Obama de buscar uma distensão com Teerã -EUA e Irã estão rompidos desde 1980.
No texto de cinco páginas apresentado na última quarta, e obtido pela agência Associated Press, o Irã se diz pronto para iniciar "negociações construtivas e compreensivas", mas ignora a possibilidade de cessar o enriquecimento de urânio.
A proposta, de teor vago, pede ainda "a paz", uma "cooperação abrangente", o fim dos arsenais nucleares no mundo e a reforma do CS da ONU, dizendo que a "era do domínio de potências militares" está no fim. Condiciona também as conversas à busca de uma solução para o conflito israelo-palestino.
Porta-voz do governo americano afirmou que, embora a proposta seja evasiva, as potências concordaram sobre a realização de um encontro com diplomatas iranianos, em local e data a serem definidos.
"[A proposta] diz simplesmente que o Irã está disposto a dialogar. Se o Irã estiver disposto a entrar em negociações sérias, encontrará interlocutores bem-intencionados", disse.
Mas os EUA insistiram em que o foco das conversas deverá ser o programa nuclear iraniano, não mencionado no texto.
Sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear, Teerã tem direito de desenvolver um programa atômico civil, desde que em cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU. O presidente Mahmoud Ahmadinejad reiterou na terça-feira que não abrirá mão desse direito.
O Ocidente acusa Teerã de querer enriquecer urânio para abastecer um arsenal atômico e pressiona, mediante sanções, pelo fim de todas as atividades sua nucleares. Israel, embora seja a única potência nuclear do Oriente Médio, teme ser alvo de um Irã com bomba atômica.
Teerã apresentou seu plano de diálogo 20 dias dias antes do prazo estabelecido pelos EUA para que retomasse as conversas visando o fim de seu programa atômico, sob pena de adotar novas medidas punitivas -possibilidade cada vez mais remota diante do gesto apaziguador das potências. As discussões estão paralisadas desde 2008.
A moderação adotada ontem na retórica do P5 + 1 destoa do tom incendiário adotado nos últimos meses contra Teerã.
Além da questão nuclear, as tensões entre as potências e o Irã se acirraram após a reeleição de Ahmadinejad, em junho, em meio a acusações de fraude e repressão violenta à oposição.
Segundo analistas, o recuo das potências atende aos interesses dos EUA, que buscam a cooperação de Teerã para estabilizar Iraque e Afeganistão, ambos vizinhos do Irã. Setores do governo Obama também defendem assumir que sem o Irã é impossível resolver as crises no Líbano e no governo palestino.
As relações entre as potências e o Irã serão um dos temas centrais da próxima reunião da Agência Internacional de Energia Atômica, no dia 14, e da Assembleia Geral da ONU, dia 22.

Com agências internacionais



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