São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Futuro governante promete avanços na relação Japão-China

Yukio Hatoyama assume o poder na quarta com desafio de fazer a cooperação econômica sobrepujar a histórica desconfiança política

Em 2009, China deve superar EUA como maior destino das exportações japonesas, mas divergências culturais sino-nipônicas continuam nítidas


Toru Yamanaka-4.set.09/France Presse
Yukio Hatoyama (à dir.) recebe o embaixador da China após ter vitória eleitoral oficializada

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O premiê japonês, Yukio Hatoyama, assume o poder nesta quarta-feira com a promessa de ter uma relação melhor com a China e de priorizar a Ásia em sua política externa.
A relação entre as duas potências asiáticas ainda é de desconfiança, competição velada e até mesmo ódio não superado pelas duas invasões japonesas à China entre o final do século 19 e os anos 30 do século passado.
Mas a economia transformou os dois rivais em íntimos parceiros e os obriga a conversas constantes. "As duas economias são complementares, de verdade. As empresas japonesas se beneficiam do crescimento chinês", diz o economista Nobuaki Hamaguchi, professor da Universidade de Kobe.
Ele lembra que a China compra do Japão insumos, peças e bens intermediários, que depois são reexportados para o mundo. "Quanto mais ela exporta, mais importa do Japão."
Um estudo do economista Mitsumaru Kumagai, do Instituto Daiwa, de Tóquio, chega a chamar a China de "salvadora" da economia do Japão.
O Japão exportava para a China US$ 53 bilhões anuais em 2002, número que saltou para US$ 150 bi em 2008. Em 2009, só no primeiro semestre foi de US$ 56 bilhões, apesar da desaceleração nos dois países.
Neste ano, a China já deve superar os EUA como maior destino das exportações japonesas. No ano passado, a China comprou 16% das exportações japonesas, contra 17,4% dos EUA.

Pendências políticas
Na China, a reação à chegada ao poder do Partido Democrata Japonês é positiva. A sigla tem boas relações com o Partido Comunista chinês.
Em seu manifesto eleitoral, de julho, Hatoyama fala de maior diálogo com a China.
O futuro governante também prometeu não visitar o santuário de Yakusuni, onde estão sepultados militares acusados de crimes de guerra pela China. O ex-premiê conservador Junichiro Koizumi (2001-2006) visitou seis vezes o local em seus cinco anos de governo.
Mas a lista de desavenças políticas ainda é longa, como a imprensa estatal chinesa sublinhou ao noticiar a mudança de governo. Em editorial, o jornal "China Daily" cobra que o novo governo retire as ilhas Diaoyu da área do tratado de segurança que o Japão tem com os EUA. Na esfera de defesa do Japão, encontra-se tradicionalmente Taiwan, que a China considera uma Província rebelde, mas que já foi colônia japonesa e tem boa relação com Tóquio.
"O único risco é que, longe do poder, a direita japonesa, do Partido Liberal Democrata, sinta-se mais livre para criticar a China em direitos humanos e apoiar o separatismo no Tibete e em Xinjiang", disse à Folha o professor Liu Jiang Yong, do Centro de Relações Internacionais da Universidade Tsinghua, especialista em Japão.
"Os livros escolares japoneses continuam a atacar a China ou a ignorar as atrocidades que o Japão cometeu aqui", diz o professor Liu. "Fica difícil acreditar em arrependimento."
Já as novelas chinesas, produzidas pela estatal CCTV, não perdem tempo em apresentar os japoneses como bárbaros e cruéis. Há pelo menos 20 novelas por ano com a ocupação japonesa como principal tema.
Na internet, os ódios são escancarados. Centenas de comentários em portais chineses chamam os japoneses de "assassinos", "arrogantes" e "anões". No portal Canal2, no Japão, os chineses são chamados de "desonestos", "mentirosos" e "sujos".


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