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Bomba seria trunfo do Irã em pacto de não-agressão
DE CAMBRIDGE
De volta do Irã, onde entrevistou Mahmoud Ahmadinejad para a revista "New Yorker", o escritor Jon Lee Anderson soa pessimista.
Para ele, o que o Irã busca
é um pacto de não-agressão
com Israel que garantiria a
estabilidade da região em
certa medida. O problema é
que colocou na barganha o
programa nuclear, com o
qual, diz Anderson, se aproxima mais da bomba.
Em um mundo ideal, esse
pacto ocorreria com os dois
países desarmados. Hipótese, para ele, pouco provável
em um horizonte de décadas.
Folha - O Irã é o assunto mais
urgente na agenda global?
Jon Lee Anderson - É o lugar onde uma nova ordem irromperia. É o lugar onde
uma guerra envolvendo os
EUA e outros países importantes poderia ocorrer.
O Iraque pode desmoronar
e os EUA não vão intervir de
novo da mesma maneira. Os
EUA não vão entrar em guerra contra Cuba, a Rússia ou a
China. Se eles forem à guerra
agora, seria com o Irã. E seria
um desastre.
Eles estão no limite com o
Afeganistão e o Iraque.
Sim. E é por isso que não
querem fazer isso, apenas
exacerbaria os problemas.
Mas, se a contrapartida é a
possibilidade de uma explosão nuclear atingir Israel,
creio que eles o fariam.
Após suas conversas em Teerã, se o Irã conseguir obter a
bomba, acha que a usariam?
Não sei. Perguntei a Ahmadinejad. O que as duas
bombas imaginárias fariam?
Israel tem 200. Mas essa argumentação é pouco eficaz,
pois o perigo real é o Irã repassá-las a intermediários.
Mais do que planejar usar
[a bomba], Ahmadinejad
quer um tipo de paridade, seja ao construir as bombas, seja chegando ao ponto em que
acabaria por domar Israel ao
ter a habilidade de usá-las.
A seu ver ainda há possibilidade de uma solução negociada?
Em termos da relação de
Israel e Irã, eles precisam reconhecer um ao outro, claro,
e precisam de algum acordo
sobre posse e uso de armas
nucleares. Para isso talvez Israel tenha de abrir mão do direito de tê-las, mantendo-se
sob o guarda-chuva americano ou mundial.
Isso teria de integrar o diálogo para destruir os arsenais
mundiais. Nem sei se é possível a essa altura, mas não vejo como contorná-la. Enquanto Israel tiver armas nucleares e os árabes e os iranianos não, vai ter sempre alguém tentando obtê-las.
O risco de parecer que late e
não morde não faria os EUA
agirem?
Eu sei que Ahmadinejad
quer falar com [Barack] Obama. [EUA e Irã romperam em
80, após a tomada da Embaixada dos EUA em Teerã]. Podemos ter coisas interessantes na Assembleia Geral da
ONU, nesta semana. Obama
parece querer esse encontro.
Ahmadinejad é um bom
tático, e os iranianos querem
um pacto de não-agressão. O
problema é a imprevisibilidade de Ahmadinejad.
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