São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escritores pedem boicote à reforma

especial para a Folha, de Berlim

A reforma do alemão está sendo ameaçada por uma série de processos na Justiça. Até agora os seus defensores estão com uma vantagem. Desde março, oito veredictos rejeitaram pedidos para o fim da reforma. Seis os aceitaram.
Um dos processos já atingiu a Corte Constitucional Federal, órgão máximo da Justiça alemã. Se a reforma for definitivamente rejeitada, calculam-se prejuízos em torno de US$ 170 milhões.
O debate sobre a reforma ganhou fôlego depois da primeira vitória dos "contras" na Justiça, em julho. O argumento dos "contras" é sempre o mesmo: a reforma deve ser suspensa imediatamente, pois ela deve ser antes aprovada por representantes da população (deputados) ou pela própria população (plebiscito). Eles exigem que, dessa forma, as novas regras sejam introduzidas por lei.
Segundo a Constituição, a língua é uma questão dos Estados, não da Federação. O responsável pela implementação das novas normas, segundo a regra atual, é o Ministério da Cultura dos diferentes Estados. São eles quem determinam como a reforma deve ser introduzida nas escolas e nas repartições públicas.
Essas novas regras ortográficas não foram estabelecidas por uma órgão legislativo, mas por germanistas, em 1996.
"Se for criada uma lei para a implementação da reforma, deve ser estabelecida também a punição para o seu desrespeito. Qual seria a multa para o esquecimento de uma vírgula? Três marcos?", ironiza Klaus Heller, secretário-geral da comissão que coordena a implementação das regras.
Os principais representantes da literatura alemã acusam a reforma de estar impregnada de um "vício pela novidade". Eles escreveram manifesto crítico no final de 1996, a "Declaração de Frankfurt".
Patrick Süskind, Günter Grass, Martin Waiser e Walter Kempowski, por exemplo, proibiram que suas obras sejam publicadas com as novas regras.
Hans Magnus Enzensberger convocou os alemães a uma "sabotagem civil" à reforma. Estão sendo recolhidas assinaturas para brecar a implementação das regras.
Um dos principais argumentos dos "contras" é justamente que a implementação da reforma está levando as escolas ao caos. A determinação dos Ministérios da Cultura é de que as novas regras sejam ensinadas a partir do segundo ano escolar. Mas agora, com a incerteza, alguns professores estão voltando a ensinar com as regras antigas, outros, mudando a próprio punho a grafia dos livros -para a nova ou para a antiga regra.
Mas a variação das normas não causaria grande diferença. Entre as 1.417 palavras aprendidas nos quatro primeiros anos escolares, apenas 32 mudam com a reforma.
Até o final do ano, a Corte Constitucional Federal deve decidir sobre as novas regras. Se a reforma for barrada, todos os livros já publicados com as mudanças deverão ser jogados no lixo. Inclusive o dicionário ortográfico mais vendido da história da Alemanha, o "Duden". (RO)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.