São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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Bush promete não atacar norte-coreanos

Pyongyang diz que pressões serão "declaração de guerra"; Conselho de Segurança permanece dividido sobre as sanções

China e Rússia se opõem à menção de texto da Carta da ONU que evoca ameaça à paz e abre a possibilidade de uma intervenção militar

DA REDAÇÃO


Enquanto o presidente George W. Bush reiterava ontem que os Estados Unidos não pretendem atacar militarmente a Coréia do Norte, o governo norte-coreano publicava nota, alertando que interpretará "como uma declaração de guerra" a adoção de sanções que o afetem em profundidade.
A tensão diplomática se intensificou no desdobramento da explosão na última segunda-feira, pelos norte-coreanos, de sua primeira bomba atômica.
O Conselho de Segurança da ONU está dividido quanto à natureza da punição a ser imposta ao pequeno e isolado país asiático. Seus membros permanentes (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) reuniram-se ontem de manhã para concordar sobre a adoção de sanções, mas discordar sobre a extensão que elas deverão ter.
O embaixador americano, John Bolton, prometeu circular entre as demais delegações uma nova versão do projeto que gostaria de ver aprovado até o final desta semana.
Mas a China e a Rússia, apesar de já terem declarado que os norte-coreanos devem ser punidos, não concordam com a evocação do Capítulo 7 da Carta da ONU, que evoca ameaça à paz e prevê como medida extrema a intervenção militar. Bolton insinuou que as negociações seriam árduas.
A delegação russa e sobretudo a chinesa não se dispõem a abrir suas águas territoriais para a abordagem das embarcações que deixem os portos da Coréia do Norte ou que sigam na direção deles. Essa forma de inspeção foi proposta pelos EUA para impedir que o pequeno país comunista receba componentes para seus programas nuclear e de mísseis.
Ainda ontem, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lançou um apelo para que o governo americano abra diálogo direto com Pyongyang. Os norte-coreanos disseram que não teriam explodido a bomba se houvessem discussões bilaterais com Washington.
Mas a idéia foi rejeitada pouco depois por George W. Bush. O presidente americano afirmou que negociações bilaterais já haviam sido praticadas no passado -menção a iniciativa da administração Clinton-, mas não deram resultados.
"Nosso objetivo é nenhuma arma nuclear", afirmou.
Pressionado pelos jornalistas a revelar em que condições a Coréia do Norte poderia ser invadida, ele disse que a hipótese existia de modo teórico, mas que a prioridade era a diplomacia -"um processo difícil"-, ao lado do auxílio estratégico a seus aliados da região, menção aos mísseis que os EUA fornecerão para que o Japão proteja seu território e à ajuda militar à Coréia do Sul.

Comunicado
Enquanto isso, a Coréia do Norte se pronunciou sobre a crise pela primeira vez. A agência de notícias oficial publicou comunicado do Ministério das Relações Exteriores, no qual afirma que, "se os Estados Unidos aumentarem contra nós suas pressões, nós as interpretaremos como uma declaração de guerra".
Na linguagem diplomática, "declaração de guerra" é algo pesado. Permite que o Estado pressionado possa partir para a contra-ofensiva armada. Mas nas Nações Unidas o uso da expressão entrou por enquanto na lista das bravatas verbais.
Também se pronunciou o número dois do regime de Pyongyang, Kim Yong-Nan, presidente do Presidium da Assembléia Suprema do Povo. Em entrevista à agência japonesa Kyodo, ele disse que "a possibilidade de novos testes nucleares está ligada à política americana relacionada a nosso país".
"Se os americanos persistirem em sua atitude hostil e nos pressionarem de diferentes formas, não teremos outra opção a não ser partir para "ações físicas" que nos defendam." Ele não explicou o significado dessas "ações físicas".
Em Seul, o presidente sul-coreano, Roh Moo-Hyun, aconselhou seus compatriotas a se prepararem para "um período prolongado" de tensões com a Coréia do Norte. Disse que o teste nuclear ocorreu porque Pyongyang se sentia "ameaçada" pelos americanos, mas que essa ameaça foi objeto "de um exagero desproporcional".


Com agências internacionais


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