São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / MOBILIZAÇÃO

Referendos podem decidir votação em Estados-chave

Pleito em novembro inclui 136 consultas em 33 Estados

Para analistas, perguntas afetam escolha dos eleitores em até 12%; o peso, porém, é menor do que em 2004

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

A escolha entre o democrata Barack Obama e o republicano John McCain não é a única que os americanos farão em 4 de novembro: aborto, casamento gay e imigração são apenas alguns dos temas polêmicos sobre os quais o eleitor votará, em ações com potencial de influenciar a corrida à Presidência.
Em todos os EUA, 33 Estados incluirão no dia da eleição ao menos 136 consultas populares sobre questões gerais -o número pode subir.
Colorado e Flórida têm combinações explosivas. Com a disputa presidencial ainda indefinida, eles abordam questões como ação afirmativa e aborto (no primeiro) e casamento gay e posse de terra por imigrantes legais (no segundo).
Vários estudos defendem que as consultas fazem diferença tanto na escolha do candidato quanto no comparecimento do eleitor às urnas -o voto nos EUA não é obrigatório.
Segundo Stephen Nicholson, autor de "Votando Propostas: Candidatos, Eleições e Consultas Populares", a presença de referendos ou plebiscitos em eleições muda a chance de os eleitores votarem em um partido em até 12%.
O ano de 2004, com 162 consultas paralelas à eleição presidencial, é um exemplo: à época, pergunta sobre veto ao casamento gay foi vista como crucial à vitória de George Bush, favorável à medida, em Ohio.
"No passado, as consultas certamente tiveram o efeito de aumentar o interesse e o comparecimento popular nas eleições", afirmou à Folha Adam Fogel, da organização civil FairVote, que estuda o sistema eleitoral dos EUA e defende sua reforma. "Grupos lobistas sabem disso. Eles pressionam por consultas com o objetivo declarado de mobilizar eleitores de determinadas faixas demográficas e fazer a balança pender para um ou outro lado."
Em 2008, o Instituto de Plebiscitos e Referendos (IPR) da Universidade do Sul da Califórnia cita outro exemplo: o de grupos progressistas que pressionaram para a inclusão de consultas sobre o salário mínimo para aumentar o apoio a democratas em Estados-chave.

Eleitores entusiasmados
Embora concordem com o efeito geral de consultas em eleições, analistas ouvidos pela Folha mostram cautela ao avaliar seu peso na disputa presidencial deste ano. "Esse impacto foi visto no passado, mas não acho que em 2008 referendos e plebiscitos pesarão no resultado final", diz Curtis Gans, diretor do Comitê para o Estudo do Eleitorado Americano.
"A disputa está eletrizada o suficiente para dispensar estímulos extras de motivação popular. E nenhuma questão é mais importante do que a escolha entre McCain e Obama, que já é bastante polêmica."
Adam Fogel concorda: "No geral, desta vez, a empolgação com a disputa presidencial parece tão alta que dificilmente seria suplantada por uma consulta popular, por mais que seu tema desperte reações fortes".
Fogel teme que a força da corrida presidencial tenha inclusive efeito colateral negativo, ao diminuir a qualidade e quantidade de discussões sobre os temas sob referendo.
Ainda assim, o especialista apóia juntar consultas populares a eleições gerais. "Como a eleição tem comparecimento de cerca de 50% dos eleitores, mais gente acaba opinando sobre os temas em pauta. Se as consultas fossem feitas fora da disputa presidencial, não mais do que 20% da população participaria das decisões."


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