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SUCESSÃO NOS EUA / MOBILIZAÇÃO
Referendos podem decidir votação em Estados-chave
Pleito em novembro inclui 136 consultas em 33 Estados
Para analistas, perguntas afetam escolha dos eleitores em até 12%; o peso, porém, é menor do que em 2004
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
A escolha entre o democrata
Barack Obama e o republicano
John McCain não é a única que
os americanos farão em 4 de
novembro: aborto, casamento
gay e imigração são apenas alguns dos temas polêmicos sobre os quais o eleitor votará, em
ações com potencial de influenciar a corrida à Presidência.
Em todos os EUA, 33 Estados
incluirão no dia da eleição ao
menos 136 consultas populares
sobre questões gerais -o número pode subir.
Colorado e Flórida têm combinações explosivas. Com a disputa presidencial ainda indefinida, eles abordam questões
como ação afirmativa e aborto
(no primeiro) e casamento gay
e posse de terra por imigrantes
legais (no segundo).
Vários estudos defendem
que as consultas fazem diferença tanto na escolha do candidato quanto no comparecimento
do eleitor às urnas -o voto nos
EUA não é obrigatório.
Segundo Stephen Nicholson,
autor de "Votando Propostas:
Candidatos, Eleições e Consultas Populares", a presença de
referendos ou plebiscitos em
eleições muda a chance de os
eleitores votarem em um partido em até 12%.
O ano de 2004, com 162 consultas paralelas à eleição presidencial, é um exemplo: à época,
pergunta sobre veto ao casamento gay foi vista como crucial à vitória de George Bush,
favorável à medida, em Ohio.
"No passado, as consultas
certamente tiveram o efeito de
aumentar o interesse e o comparecimento popular nas eleições", afirmou à Folha Adam
Fogel, da organização civil
FairVote, que estuda o sistema
eleitoral dos EUA e defende
sua reforma. "Grupos lobistas
sabem disso. Eles pressionam
por consultas com o objetivo
declarado de mobilizar eleitores de determinadas faixas demográficas e fazer a balança
pender para um ou outro lado."
Em 2008, o Instituto de Plebiscitos e Referendos (IPR) da
Universidade do Sul da Califórnia cita outro exemplo: o de
grupos progressistas que pressionaram para a inclusão de
consultas sobre o salário mínimo para aumentar o apoio a
democratas em Estados-chave.
Eleitores entusiasmados
Embora concordem com o
efeito geral de consultas em
eleições, analistas ouvidos pela
Folha mostram cautela ao avaliar seu peso na disputa presidencial deste ano. "Esse impacto foi visto no passado, mas não
acho que em 2008 referendos e
plebiscitos pesarão no resultado final", diz Curtis Gans, diretor do Comitê para o Estudo do
Eleitorado Americano.
"A disputa está eletrizada o
suficiente para dispensar estímulos extras de motivação popular. E nenhuma questão é
mais importante do que a escolha entre McCain e Obama, que
já é bastante polêmica."
Adam Fogel concorda: "No
geral, desta vez, a empolgação
com a disputa presidencial parece tão alta que dificilmente
seria suplantada por uma consulta popular, por mais que seu
tema desperte reações fortes".
Fogel teme que a força da
corrida presidencial tenha inclusive efeito colateral negativo, ao diminuir a qualidade e
quantidade de discussões sobre
os temas sob referendo.
Ainda assim, o especialista
apóia juntar consultas populares a eleições gerais. "Como a
eleição tem comparecimento
de cerca de 50% dos eleitores,
mais gente acaba opinando sobre os temas em pauta. Se as
consultas fossem feitas fora da
disputa presidencial, não mais
do que 20% da população participaria das decisões."
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