São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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Governo do México fecha estatal elétrica

Em embate com sindicato, Calderón decreta liquidação de empresa de 44 mil funcionários e ordena sua ocupação por policiais

Para oposição, ação visa preparar privatização de companhia; sindicalistas fazem marcha e anunciam contestação na Justiça


DA REDAÇÃO

O presidente do México, Felipe Calderón, decretou na madrugada de ontem a liquidação da segunda maior estatal elétrica do país, responsável pelo abastecimento da Cidade do México e da região central do país (30% do total nacional).
A decisão aprofunda o embate entre o governo, que ordenou que policiais federais ocupassem instalações da empresa em três Estados, e o poderoso sindicato de eletricistas, um dos mais tradicionais do país.
O decreto de Calderón diz que a estatal Luz e Força do Centro (LyFC) tem deficit financeiro crescente -seus custos são quase o dobro da receita e há um passivo trabalhista de US$ 18 bilhões- e é ineficiente.
Estatísticas de operação mostram que há mais interrupções de serviço, maior perda de energia e mais reclamações de consumidores na comparação com a também estatal Comissão Federal Elétrica (CFE), que assumiu o serviço ontem.
Líderes do PRD (Partido da Revolução Democrática), esquerda, acusaram Calderón, do conservador PAN (Partido da Ação Nacional), de preparar a privatização da empresa e do setor -a distribuição de energia elétrica é monopólio estatal. O governo negou. Câmaras empresariais elogiaram a decisão.
O Sindicato Mexicano de Eletricistas (SME) promete contestar a liquidação na Justiça e mobilizou ontem centenas de trabalhadores no centro da capital e no entorno da empresa ocupada, exigindo a retirada dos policiais federais e a instalação de uma mesa de diálogo.
O governo disse que a liquidação da LyFC e o pagamento de indenização para 44 mil empregados custará cerca de US$ 1,5 bilhão. Anunciou que um "número indefinido" de trabalhadores será recontratado.

Crise e cálculo político
O decreto foi um golpe inesperado para o SME e seu novo presidente, Martín Esparza, cuja eleição em julho não foi reconhecida pelo governo. Na sexta-feira, Esparza reuniu ao menos 15 mil pessoas numa marcha acusando o governo de querer intervir no sindicato.
O novo presidente é ligado a Andrés Manuel López Obrador (PRD), derrotado por Calderón por pequena margem nas eleições presidenciais de 2006.
Obrador participou da passeata na sexta, que também foi apoiada pelo sindicato de mineiros, dos telefonistas, e da Universidade Nacional Autônoma, a maior do país.
O colunista do jornal "El Universal" Ricardo Alemán escreveu que a "guerra elétrica" é o primeiro capítulo da campanha presidencial de 2012. Ao não reconhecer Esparza, diz ele, o governo atinge Obrador porque "corta o fluxo de centenas de milhões em contribuição sindical" controlada pelo SME.
Calderón decidiu dissolver a empresa e redobrar a aposta contra os sindicatos ligados ao PRD no momento em que empreende batalha no Congresso para passar um indigesto pacote fiscal anticrise -que inclui aumento de impostos (2% na venda de todos os produtos) e corte de gastos.
O governo perdeu a frágil maioria no Legislativo em julho e tem de negociar com o PRD e com o fortalecido PRI (Partido da Revolução Institucional), a maior bancada, que não querem dividir o custo político com Calderón. As medidas, parte do Orçamento de 2010, têm de passar na Câmara até o dia 20, sob expectativa das agências de avaliação de risco.
A economia do México deve recuar 8 pontos em 2009. Além da crise, o país sofre com a queda na produção de petróleo -a arrecadação do setor deve ser a menor em 30 anos, anunciou o governo na semana passada.

Com agências internacionais



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