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Governo do México fecha estatal elétrica
Em embate com sindicato, Calderón decreta liquidação de empresa de 44 mil funcionários e ordena sua ocupação por policiais
Para oposição, ação visa preparar privatização de companhia; sindicalistas fazem marcha e anunciam contestação na Justiça
DA REDAÇÃO
O presidente do México, Felipe Calderón, decretou na madrugada de ontem a liquidação
da segunda maior estatal elétrica do país, responsável pelo
abastecimento da Cidade do
México e da região central do
país (30% do total nacional).
A decisão aprofunda o embate entre o governo, que ordenou que policiais federais ocupassem instalações da empresa
em três Estados, e o poderoso
sindicato de eletricistas, um
dos mais tradicionais do país.
O decreto de Calderón diz
que a estatal Luz e Força do
Centro (LyFC) tem deficit financeiro crescente -seus custos são quase o dobro da receita
e há um passivo trabalhista de
US$ 18 bilhões- e é ineficiente.
Estatísticas de operação
mostram que há mais interrupções de serviço, maior perda de
energia e mais reclamações de
consumidores na comparação
com a também estatal Comissão Federal Elétrica (CFE), que
assumiu o serviço ontem.
Líderes do PRD (Partido da
Revolução Democrática), esquerda, acusaram Calderón, do
conservador PAN (Partido da
Ação Nacional), de preparar a
privatização da empresa e do
setor -a distribuição de energia elétrica é monopólio estatal.
O governo negou. Câmaras empresariais elogiaram a decisão.
O Sindicato Mexicano de
Eletricistas (SME) promete
contestar a liquidação na Justiça e mobilizou ontem centenas
de trabalhadores no centro da
capital e no entorno da empresa ocupada, exigindo a retirada
dos policiais federais e a instalação de uma mesa de diálogo.
O governo disse que a liquidação da LyFC e o pagamento
de indenização para 44 mil empregados custará cerca de US$
1,5 bilhão. Anunciou que um
"número indefinido" de trabalhadores será recontratado.
Crise e cálculo político
O decreto foi um golpe inesperado para o SME e seu novo
presidente, Martín Esparza,
cuja eleição em julho não foi reconhecida pelo governo. Na
sexta-feira, Esparza reuniu ao
menos 15 mil pessoas numa
marcha acusando o governo de
querer intervir no sindicato.
O novo presidente é ligado a
Andrés Manuel López Obrador
(PRD), derrotado por Calderón
por pequena margem nas eleições presidenciais de 2006.
Obrador participou da passeata na sexta, que também foi
apoiada pelo sindicato de mineiros, dos telefonistas, e da
Universidade Nacional Autônoma, a maior do país.
O colunista do jornal "El Universal" Ricardo Alemán escreveu que a "guerra elétrica" é o
primeiro capítulo da campanha
presidencial de 2012. Ao não
reconhecer Esparza, diz ele, o
governo atinge Obrador porque
"corta o fluxo de centenas de
milhões em contribuição sindical" controlada pelo SME.
Calderón decidiu dissolver a
empresa e redobrar a aposta
contra os sindicatos ligados ao
PRD no momento em que empreende batalha no Congresso
para passar um indigesto pacote fiscal anticrise -que inclui
aumento de impostos (2% na
venda de todos os produtos) e
corte de gastos.
O governo perdeu a frágil
maioria no Legislativo em julho
e tem de negociar com o PRD e
com o fortalecido PRI (Partido
da Revolução Institucional), a
maior bancada, que não querem dividir o custo político
com Calderón. As medidas,
parte do Orçamento de 2010,
têm de passar na Câmara até o
dia 20, sob expectativa das
agências de avaliação de risco.
A economia do México deve
recuar 8 pontos em 2009. Além
da crise, o país sofre com a queda na produção de petróleo -a
arrecadação do setor deve ser a
menor em 30 anos, anunciou o
governo na semana passada.
Com agências internacionais
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