São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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Diplomata da ONU vê "fraude generalizada" nas eleições afegãs

Chefe da missão no país nega, porém, acobertar as irregularidades para favorecer reeleição de Karzai

DA REDAÇÃO

O chefe da missão da ONU no Afeganistão, Kai Eide, admitiu ontem a ocorrência de "fraude generalizada" na eleição presidencial de 20 de agosto, mas negou acusações de acobertamento das irregularidades. A apuração provisória indica vitória no primeiro turno do presidente Hamid Karzai, mas depende ainda da investigação das alegações de irregularidades, que pode provocar um segundo turno.
A admissão foi recebida como uma tentativa do diplomata norueguês de recuperar a credibilidade da missão e de todo o processo eleitoral, amplamente visto como viciado em favor de Karzai. O segundo colocado, o ex-chanceler de Karzai Abdullah Abdullah, já fez reiteradas alegações de fraude no pleito.
No último dia 30, o mais alto diplomata americano na missão da ONU no Afeganistão, Peter Galbraith, havia sido demitido pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, por divergir publicamente de Eide e acusá-lo de acobertar as evidências de irregularidades para favorecer a reeleição de Karzai.
Segundo Eide -que em um sinal de força concedeu entrevista coletiva ladeado pelos embaixadores no Afeganistão de EUA, Reino Unido e França-, as acusações de Galbraith são inverídicas em alguns casos e tiradas de contexto em outros.
"Só [posso] dizer que houve fraude generalizada, (...) e que qualquer estimativa neste momento é pura especulação", afirmou o norueguês sobre o número de urnas que podem ser invalidadas se confirmadas as alegações de irregularidade.
Há expectativa de que ainda nesta semana a comissão apoiada pela ONU responsável por apurar as acusações divulgue resultados da investigação e, consequentemente, a extensão das irregularidades. A dúvida é se as urnas invalidadas serão suficientes para tirar a vitória de Karzai no primeiro turno -ele teve 54% dos votos na contagem provisória.
Eide se disse "comprometido" com a eleição de agosto e acusou Galbraith de "afetar todo o processo eleitoral" com as acusações. Quatro funcionários da missão deixaram seus postos junto com o americano.
Os EUA e aliados ocidentais temem que a deslegitimação do pleito comprometa os esforços de reverter o recrudescimento da violência no conflito afegão.
Atualmente, o presidente dos EUA, Barack Obama, está na fase final da revisão da estratégia da guerra no país, iniciada há oito anos e tornada o foco do combate ao terrorismo no seu governo. Obama, que já aumentou o número de soldados em 17 mil -hoje são cerca de 68 mil americanos no país-, cogita novo incremento de tropas.
A expectativa é que a decisão do presidente seja anunciada depois de amanhã, embora possa levar ainda mais tempo.

Com agências internacionais



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